Sérgio Malbergier: O silêncio ensurdecedor de Chico Buarque
Folha
Alguns cariocas e petistas em geral estão indignados com o
que chamam de “agressão” a Chico Buarque no Leblon. Eu não vi agressão, mas um
debate em termos muito mais civilizados (e alcoolizados) do que, por exemplo, o
que petistas costumavam fazer quando tinham (mais) poder. No já longínquo abril
de 2014, o primeiro juiz negro do STF, Joaquim Barbosa, também foi vítima de
uma saidinha de bar, perseguido na rua por petistas aos gritos de “tucano”,
“projeto de ditador” e o eterno coro de “Dirceu / guerreiro / do povo
brasileiro”.
Ao contrário dos que hostilizaram Chico, entre os que
hostilizaram Barbosa havia ao menos um funcionário pago por nossos impostos,
lotado no gabinete de um deputado petista – sim, a militância
petista-sindicalista é financiada por nós.
Outro fato notável é que os cariocas que se levantam
indignados contra o quiproquó lebloniano nada dizem sobre a falência do sistema
de saúde no Rio de Janeiro, um dos Estados mais ricos do país, que entrega aos
seus cidadãos mais pobres e necessitados uma mortal indigência hospitalar.
Imagine nas Olimpíadas.
O Rio de Janeiro é como sempre o símbolo mais lindo dos
nossos fracassos. As descobertas de reservas de petróleo do pré-sal, por
exemplo, poderiam ter sido sua redenção econômica. Mas o governo petista e
Dilma Rousseff criaram um modelo de exploração que concentrou na Petrobras os
investimentos para extração daquela potencial riqueza.
Se o modelo fosse outro, petroleiras estrangeiras já teriam
investido bilhões de dólares e pago outros bilhões de royalties ao Estado e ao
país. E os hospitais do Rio poderiam, se o dinheiro fosse bem usado, funcionar
com mais eficiência. Agora, com o petróleo abaixo de US$ 50 e a Petrobras
depredada pelos que se diziam seus maiores defensores, ninguém sabe se esse petróleo
será extraído e esse dinheiro virá.
Este é só um exemplo de como a cegueira ideológica, a
incompetência gerencial e a corrupção desembestada, marcas deste desgoverno,
são fatais, principalmente para os pobres e dependentes dos serviços públicos.
Mas a turma do Chico não quer saber de fatos. A turma gosta
da gostosa sensação de que apoiar partidos e ideais fossilizados da esquerda os
redime dos seus pecados, os eleva. Dane-se a realidade, que para eles é
confortável.
Num dos vídeos que gravou para a campanha de Dilma em 2014,
Chico inclusive adotou a linha torpe da propaganda petista de sugerir que a
derrota do PT seria o fim dos programas sociais.
Chico merece nosso respeito pelo grande artista que foi e é
(sua grande arte é imortal). Mas ele não está imune ao debate duro do Brasil
nem a ser confrontado por suas ideias e propaganda política.
Seria bom ouvir o que Chico tem a dizer dos escândalos de
corrupção e das tenebrosas transações do governo petista, da incapacidade gerencial
da presidente que fervorosamente promoveu, do autoritarismo do governo
venezuelano que tanto admira.
Seu silêncio sobre tudo isso é ensurdecedor.
Este Post foi bem formulado, pq resgatou duas lembranças , a cena do então Min Barbosa e a da propaganda eleitoral, as quais colocam a situação ocorrida no Leblon (atual) no mesmo patamar de comparação.
ResponderExcluirEnquanto o Chico fica em silêncio, Zé Dirceu distribui conselhos políticos e empresariais para seus colegas de cela. Isso é que eu chamo de agravante da pena, além de estar preso tem ouvir conselhos do Zé Dirceu.
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