quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

O silêncio do merda

Sérgio Malbergier: O silêncio ensurdecedor de Chico Buarque

Folha

Alguns cariocas e petistas em geral estão indignados com o que chamam de “agressão” a Chico Buarque no Leblon. Eu não vi agressão, mas um debate em termos muito mais civilizados (e alcoolizados) do que, por exemplo, o que petistas costumavam fazer quando tinham (mais) poder. No já longínquo abril de 2014, o primeiro juiz negro do STF, Joaquim Barbosa, também foi vítima de uma saidinha de bar, perseguido na rua por petistas aos gritos de “tucano”, “projeto de ditador” e o eterno coro de “Dirceu / guerreiro / do povo brasileiro”.

Ao contrário dos que hostilizaram Chico, entre os que hostilizaram Barbosa havia ao menos um funcionário pago por nossos impostos, lotado no gabinete de um deputado petista – sim, a militância petista-sindicalista é financiada por nós.

Outro fato notável é que os cariocas que se levantam indignados contra o quiproquó lebloniano nada dizem sobre a falência do sistema de saúde no Rio de Janeiro, um dos Estados mais ricos do país, que entrega aos seus cidadãos mais pobres e necessitados uma mortal indigência hospitalar. Imagine nas Olimpíadas.

O Rio de Janeiro é como sempre o símbolo mais lindo dos nossos fracassos. As descobertas de reservas de petróleo do pré-sal, por exemplo, poderiam ter sido sua redenção econômica. Mas o governo petista e Dilma Rousseff criaram um modelo de exploração que concentrou na Petrobras os investimentos para extração daquela potencial riqueza.

Se o modelo fosse outro, petroleiras estrangeiras já teriam investido bilhões de dólares e pago outros bilhões de royalties ao Estado e ao país. E os hospitais do Rio poderiam, se o dinheiro fosse bem usado, funcionar com mais eficiência. Agora, com o petróleo abaixo de US$ 50 e a Petrobras depredada pelos que se diziam seus maiores defensores, ninguém sabe se esse petróleo será extraído e esse dinheiro virá.

Este é só um exemplo de como a cegueira ideológica, a incompetência gerencial e a corrupção desembestada, marcas deste desgoverno, são fatais, principalmente para os pobres e dependentes dos serviços públicos.

Mas a turma do Chico não quer saber de fatos. A turma gosta da gostosa sensação de que apoiar partidos e ideais fossilizados da esquerda os redime dos seus pecados, os eleva. Dane-se a realidade, que para eles é confortável.

Num dos vídeos que gravou para a campanha de Dilma em 2014, Chico inclusive adotou a linha torpe da propaganda petista de sugerir que a derrota do PT seria o fim dos programas sociais.

Chico merece nosso respeito pelo grande artista que foi e é (sua grande arte é imortal). Mas ele não está imune ao debate duro do Brasil nem a ser confrontado por suas ideias e propaganda política.

Seria bom ouvir o que Chico tem a dizer dos escândalos de corrupção e das tenebrosas transações do governo petista, da incapacidade gerencial da presidente que fervorosamente promoveu, do autoritarismo do governo venezuelano que tanto admira.

Seu silêncio sobre tudo isso é ensurdecedor.


2 comentários:

  1. Este Post foi bem formulado, pq resgatou duas lembranças , a cena do então Min Barbosa e a da propaganda eleitoral, as quais colocam a situação ocorrida no Leblon (atual) no mesmo patamar de comparação.

    ResponderExcluir
  2. Enquanto o Chico fica em silêncio, Zé Dirceu distribui conselhos políticos e empresariais para seus colegas de cela. Isso é que eu chamo de agravante da pena, além de estar preso tem ouvir conselhos do Zé Dirceu.

    ResponderExcluir