Muito embora eu não morra de amores por Cacá Diegues por sua
posição ideológica que, como sempre, como todo artista de esquerda que se preze, critica o capitalismo, mas vive como nababo, sendo que aqui no braziu do pt, o
dinheiro que sustenta seus luxos, na maioria das vezes, vem das generosas “contribuições”
governamentais que usam os nossos impostos para sustentar burros a pão-de-ló, o
que ele diz hoje em sua coluna do Globo é o retrato quase fiel do sentimento da
maioria dos brasileiros que ainda exercitam essa cada vez mais difícil arte de
pensar.
Difícil é engolir essa história que o capitalismo é o culpado por todos os males do mundo quando exatamente quem o critica faz muito pior.
Difícil é engolir essa história que o capitalismo é o culpado por todos os males do mundo quando exatamente quem o critica faz muito pior.
Cacá Diegues: Amor à vida
Eu sei que ninguém tem nada a ver com isso, que o problema é
meu, e eu que o resolva. Mas, para começo de conversa, devo confessar que estou
de saco cheio desse mundo. Do mundo, não da vida. A vida, cada um cuida da sua,
e eu tento cuidar da minha o melhor que posso. O que não mais suporto é o mundo
e o que acontece nele, aqui, ali e acolá.
Não aguento mais ouvir falar em Estado Islâmico; não adianta
muito acabar com ele, outro fanatismo fundamentalista surgirá por aí, em
qualquer canto do mundo onde exista um povo maltratado e faminto. Pouco me
importa se Donald Trump for eleito presidente dos Estados Unidos; há muito
tempo que sei que quem manda por lá é o capitalismo financeiro, onde o dinheiro
só serve para comprar mais dinheiro, a Bolsa e a vida.
Que importa se o Irã tem ou não tem a bomba atômica, se as
crianças iranianas são proibidas de cantar na escola e suas meninas não podem
estudar? Que importa se Cuba alfabetizou toda a sua população e alcançou nível
excelente de saúde pública, se eles não podem ler o que querem, nem levar seu
corpo aonde bem entenderem? Que importa se a China cresce e se moderniza, se
seu povo não consegue respirar nas ruas?
Também não quero mais saber de impeachment, de Eduardo Cunha
e Renan Calheiros, da lama em Mariana e da lama no Congresso, da inflação e do
desemprego, de PMs assassinos e PMs assassinados. Não quero mais ouvir o que já
ouvimos desde tantos anos, o poder do pensamento mágico a nos falar de nossas
palmeiras, sabiás e carnavais, a nos dizer que somos uma terra abençoada, o
país do futuro. Já fizemos passeatas pela democracia, pelo clima e pela
moralidade, pelo transporte barato, pelas baleias e pelos golfinhos. Agora, o
mico-leão-dourado que se foda.
A linha reta não existe na natureza. O homem a inventou porque
não consegue conviver com a curva e suas surpresas, não é capaz de entender o
acaso, bênção ou maldição. Segundo Deleuze, o sentido de “Em busca do tempo
perdido” não está na lembrança da madeleine, não é um esforço de recordação de
um tempo que já passou. A procura de Marcel Proust é a do tempo que se deixa de
usar para viver, como na expressão “perder tempo”. Ou o medo do que há de vir e
a gente não sabe, o tempo mais perdido. O medo da vida.
Os humanismos todos nos enganaram com a promessa do happy
ending triunfal do céu eterno, da sociedade sem classes, da mente sã, do
domínio sobre a natureza. A história nunca terá fim, muito menos triunfal.
Estamos condenados a um mundo de falhas, erros, defeitos e pecados. Só nos
resta tirar, de nossas fragilidades, a nossa grandeza. Só nos resta conter a
distância daquilo que, cheios de boa vontade, consideramos humano — Romain Gary
diz que, o que havia de mais humano nos nazistas era a sua desumanidade.
É à vida que devemos nos entregar regozijantes. A vida como
um poema composto apenas de fanopeia (imagem) e melopeia (música). A vida onde
a única regra é a do acaso, que pode ser graça ou desgraça. Não existe o Ser,
só existe o Sendo, aquilo que as circunstâncias nos permitem ser ao longo de um
tempo e assim sucessivamente. Se os Capuleto tivessem cremado Julieta, Romeu
estaria a salvo e, mesmo amargurado, ainda viveria por muitos anos.
Tampouco existe na vida homem que possa ser considerado
feliz ou infeliz, o que existe são momentos de felicidade e infelicidade; temos
a obrigação de valorizar a experiência dos primeiros e, sempre que possível,
evitar os segundos. Se eu quiser, paro de trabalhar e vou para a praia, fico
nas areias de Ipanema, sobrevivendo do que ganhar nos semáforos da cidade. Ou
então morro de fome à beira do mar e ninguém tem nada a ver com isso. Meu sonho
de vida é ser objeto de um milagre qualquer.
Deus é o que não sabemos, o que não conhecemos, o que não
podemos controlar e atribuímos a Ele para evitar a depressão do sentimento de
impotência. Mesmo que Ele exista, Deus também está, portanto, dentro de nós,
agoniado com o que se passa. Conheço alguém que defende a tese de que o Juízo
Final é para que Deus nos peça desculpas pela cagada que fez.
Como a vida real nem sempre é bela, e minha fantasia não faz
mal a ninguém, às vezes a troco por ela. E me dou bem. Os protagonistas de
minha vida são meus amigos queridos (um deles me disse que minha filha vai
acabar nos fazendo acreditar em Deus), minha companheira amada e os quatro
filhos que temos, todos fortes e bonitos, capazes de resistir ao acaso, esse
deus ou diabo, sol e escuridão em nosso caminho. Talvez a vida seja tão simples
assim, “surpreendentemente bela, mesmo quando nada nos sorri”, como está numa
nova canção de Lenine.
Enquanto isso, Adriano de Souza, o Mineirinho, montado em
sua prancha de campeão, levanta as mãos para os céus e comemora, com seu
parceiro Gabriel Medina, a eterna primavera do espírito. Quero ser um deles.
(argento) ... "porque hoje é Domingo!"; ontem foi Sábado!, dia do descanso daquilo que (se) criou! ... eternum continuum ... causa e Consequência (efeito) ...
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