Ronaldo Vainfas - Historiador: Nova face do autoritarismo
Não é de hoje que o Estado brasileiro tenta estropiar o
ensino da História no país. No regime militar, a principal tentativa veio com a
obrigatoriedade do ensino de Estudos Sociais, fundindo a História e a Geografia
em uma mesma disciplina, em detrimento de ambas. Foi uma decisão do governo
Médici, em 1971, no auge da ditadura, restrita ao atual ensino fundamental,
antigo primeiro grau. O modelo era o do Social Studies dos EUA, que concebia o
estudo da História a partir de círculos concêntricos: família, escola, bairro,
cidade, país. Um modelo limitado, ao mesmo tempo individualista e nacionalista.
O combate à História como disciplina se alastrou para o antigo secundário,
atual ensino médio, com a imposição das disciplinas Organização Social e
Política do Brasil (OSPB) e Educação Moral e Cívica. Tais reformas foram
executadas nas gestões dos ministros Jarbas Passarinho e Ney Braga no MEC,
ambos militares reformados engajados no golpe de 1964.
A sociedade brasileira reagiu, e a História foi restaurada
como disciplina específica, entre 1984 e 1993, em meio ao processo de
redemocratização do país. Atualmente, ela integra o currículo mínimo do ensino
fundamental e do ensino médio. Os diversos Parâmetros Curriculares Nacionais
garantiram a interdisciplinaridade, sem rejeitar a especificidade do
conhecimento histórico: a diacronia, as particularidades.
Eis que agora vem à baila a discussão da Base Curricular
Comum, urdida pelo Estado desde o primeiro governo lulopetista. Nunca se soube
como foram escolhidos os membros da comissão encarregada do trabalho, cujos
nomes só agora vêm a público, muito menos as instruções que receberam deste
governo cara de pau. O fato é que os trabalhos da comissão foram consolidados
em 2014, ano eleitoral, e publicizadas em 2015. O conceito de Base Curricular
Comum é, por si mesmo, discutível, ao presumir uma uniformidade de
conhecimentos desejáveis, sobretudo em História, para um país gigantesco e
diverso.
O mais grave, porém, é a retomada da postura autoritária,
ainda que invertendo a chave da ditadura militar. A disciplina História
prevista pelo regime lulopetista estabelece para o fundamental I o ensino de
sujeitos, grupos sociais, comunidades, lugares de vivências e, por fim, o dos
“mundos brasileiros”. Conceitos abstratos e anódinos, impossíveis de serem
ensinados a crianças, salvo como doutrina. Os primeiros dois anos do
fundamental II prosseguem nesta linha abstrata de “processos e sujeitos”.
Imagine-se o aluno que ingressar no ensino médio com tais
“conhecimentos” incertos. E logo no primeiro ano, terá aulas sobre os “os
mundos ameríndios, africanos e afro-brasileiros”, matéria aprofundada no ano
seguinte, com o estudo dos “mundos americanos”, para culminar com os “mundos
europeus e asiáticos” no terceiro ano. Nunca houve, na história deste país,
parafraseando o “grande líder”, um ataque deste jaez ao ensino da História.
O ensino da História do Brasil sempre foi problemático entre
nós, brasileiros, sendo ora admitida como disciplina específica, ora inserida
na História Geral. Reaparece, na versão lulopetista, de maneira desastrosa. A
comissão encarregada de formular o currículo comum não se avexa de escrever que
“enfatiza-se a História do Brasil como o alicerce a partir do qual tais
conhecimentos serão construídos ao longo da educação básica”.
Nem mesmo a reforma do ministro Francisco Campos, em 1931,
ou a de Gustavo Capanema, em 1942, ministros de Getúlio Vargas, ousaram
perpetrar tal decreto, entronizando o Brasil como o centro do mundo. E o tempo
era revolucionário, golpista, ditatorial - depende da interpretação.
A proposta da comissão do MEC para o ensino da História em
2015 é, portanto, uma aberração. Mutila os processos históricos globais, aposta
na sincronia contra a diacronia, é fanática pelo presentismo. Incentiva ódios
raciais e valores terceiro-mundistas superados. Estimula a ignorância, ao
colocar a História ocidental como periférica, na realidade como vilã. Combate o
eurocentrismo com um brasilcentrismo inconsistente. É uma aposta no
obscurantisamo, inspirada por um modelo chavista de política internacional. Que
Deus salve o Brasil desta praga - só apelando a Deus, et pour cause.
(argento) ... é, é um duro golpe - parte (verbo partir) de um princípio universal: "quem Manda, Ensina o que Quer e Lhe interessa ...
ResponderExcluir(argento) ... pescado na NET ...
Excluirhttps://www.youtube.com/watch?v=wRrt6G2KvvQ
(argento) ... e no ençino çequndario:
ResponderExcluir- menino, dá aqui essa garrafa de álcool, ... não joga álcool no coleguinha ... não riscao fśforo, ahhh!, tá vendo diretor?. ele ficou assim depois do Estatuto ...
(argento) ... depois vem o Beltrâmite, Cecreotario de Cigurança do RioMaravilha, defendê a proibição de vendê Alcool no supermercado ...
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