quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Artigo escrito em 2013 ainda vale: Mais Lobão e menos Chico Buarque

Rodrigo Constantino: Mais Lobão e menos Chico Buarque (14/05/2013)

“A bundamolice comportamental, a flacidez filosófica e a mediocridade nacionalista se espraiam hegemônicas. Todo mundo aqui almeja ser funcionário público, militante de partido, intelectual subvencionado pelo governo ou celebridade de televisão, amigo”. É o músico Lobão com livro novo na área. Trata-se de “Manifesto do Nada na Terra do Nunca”, e sua metralhadora giratória não poupa quase ninguém.

Polêmico, sim. Irreverente, sem dúvida. Mas necessário. As críticas de Lobão merecem ser debatidas com atenção e, de preferência, isenção. O próprio cantor sabia que a patrulha de esquerda viria com tudo. Não deu outra: fizeram o que sabem fazer, que é desqualificar o mensageiro com ataques pessoais chulos, com rótulos como “reacionário” ou “roqueiro decadente”. Fogem do debate.

Lobão tem coragem de remar contra a maré vermelha, ao contrário da esquerda caviar, a turma “radical chic” descrita por Tom Wolfe, que vive em coberturas caríssimas, enxerga-se como moralmente superior, e defende o que há de pior na humanidade. No tempo de Wolfe eram os criminosos racistas dos Panteras Negras os alvos de elogios; hoje são os invasores do MST, os corruptos do PT ou ditadores sanguinários comunistas.

O roqueiro rejeita essa típica visão brasileira de vitimização das minorias, de culpar o “sistema” por crimes individuais, de olhar para o governo como um messias salvador para todos os males. A ideia romântica do “Bom Selvagem” de Rousseau, tão encantadora para uma elite culpada, é totalmente rechaçada por Lobão.

Compare isso às letras de Chico Buarque, ícone dessa esquerda festiva, sempre enaltecendo os “humildes”: o pivete, a prostituta, os sem-terra. A retórica sensacionalista, a preocupação com a imagem perante o grande público, a sensação de pertencer ao seleto grupo da “Beautiful People” são mais importantes, para essas pessoas, do que os resultados concretos de suas ideias.

Vide Cuba. Como alguém ainda pode elogiar a mais longa e assassina ditadura do continente, que espalhou apenas miséria, sangue e escravidão pela ilha caribenha? Lobão, sem medo de ofender os “intelectuais” influentes, coloca os pingos nos is e chama Che Guevara pelos nomes adequados: facínora, racista, homofóbico e psicopata. Quem pode negar? Ninguém. Por isso preferem desqualificar quem diz a verdade.

Lobão, que já foi cabo eleitoral do PT, não esconde seu passado negro, não opta pelo silêncio constrangedor após o mensalão e tantos outros escândalos. Prefere assumir sua “imbecilidade”, como ele mesmo diz, e mudar. A fraude que é o PT, outrora visto como bastião da ética por muitos ingênuos, já ficou evidente demais para ser ignorada ou negada. Compare essa postura com a cumplicidade dos “intelectuais” e artistas, cuja indignação sempre foi bastante seletiva.

Outra área sensível ao autor é a Lei Rouanet, totalmente deturpada. Se a intenção era ajudar gente no começo da carreira, hoje ela se transformou em “bolsa artista” para músicos já famosos e estabelecidos, muitos engajados na política. Lobão relata que recusou um projeto aprovado para uma turnê sua, pois ele já é conhecido e não precisava da ajuda do governo. Compare isso aos ícones da MPB que recebem polpudas verbas estatais, ou que colocam parentes em ministérios, em uma nefasta simbiose prejudicial à independência artística.

O nacionalismo, o ufanismo boboca, que une gente da direita e da esquerda no Brasil, também é duramente condenado pelo escritor. Quem pode esquecer a patética passeata contra a guitarra elétrica que os dinossauros da MPB realizaram no passado? Complexo de vira-latas, que baba de inveja do “império estadunidense”. Dessa patologia antiamericana, tão comum na classe artística nacional, Lobão não sofre. O rock, tal como o conhecimento, é universal. Multiculturalismo é coisa de segregacionista arrogante.

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No país do carnaval, futebol e novelas, onde reina a paralisia cerebral, a mesmice, o conformismo com a mediocridade, a voz rebelde de Lobão é uma rajada de ar fresco que respiramos na asfixia do politicamente correto, sob a patrulha de esquerdistas que idolatram Chico Buarque e companhia – não só pela música.

Em um país de sonâmbulos, anestesiados com uma prosperidade ilusória e insustentável; em um país repleto de gente em busca de esmolas e privilégios estatais; em um país sem oposição, onde até mesmo Guilherme Afif Domingos, que já foi ícone da alternativa liberal, rendeu-se aos encantos do poder; o protesto de Lobão é mais do que bem-vindo: ele é necessário. Precisamos de mais Lobão, e menos Chico Buarque.


14 comentários:

  1. (argento) ... FELIZ NATAL!, A TODOS NÓS e,se possivel, que a PolitiCanalha deixe de Roubar o BRASIL ...

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  2. O único mérito do Lobão é ser contra o PT, algo que no meio artístico brasileiro é raridade, mas intelectualmente não contribui em nada e a música é dele é muito ruim.

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    1. Eu discordo um pouco, Milton. Já achei Lobão mais bobo, mas ele é esforçado e estudioso, além de ter amadurecido muito nesses dois anos - da publicação do texto até agora. Quanto à música, conheço pouco, mas é uma questão de gosto. Bom músico ele é.

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    2. Eu gosto quando discordamos, já comentei sobre isso. Eu não sei qual critério você ou as outras pessoas usam para considerar alguém um bom ou mau músico, mas pelos meus critérios o Lobão não é um bom músico.

      Quanto ao Lobão ser esforçado, eu concordo contigo, mas não arrisco dizer que ele amadureceu, pois até aonde eu sei, ele apenas mudou de posição, não de comportamento, ou seja, mudou de igreja e agora está certo porque antes estava errado.

      Posso dizer que o Lobão é bem intencionado, mas boas intenções teve de sobre no PT, inclusive as intenções do próprio Lobão.

      Arnaldo Jabor disse várias vezes que, quando frequentava a faculdade, conviveu com os marxistas (ele usa a palavra socialistas) e perguntava: a) qual a proposta para melhorar a educação? R: primeiro a gente destrói os EUA depois a gente vê isso; b) qual a proposta para melhorar a saúde? R: Idem; c) qual a proposta para melhorar a renda? R: Ibidem.

      Agora o Brasil vive a seguinte situação: qual a proposta para superar os problemas do país? R: primeiro a gente destrói o PT, depois a gente vê isso. Eu concordo que o PT tem que ser extirpado, mas as propostas para melhorar o Brasil não podem ficar para depois, inclusive porque esse "depois" ninguém sabe quando será.

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    3. Bom, eu vou falar apenas sobre o que eu entendo sobre ser bom músico. Eu conheci Lobão como baterista do Vimana, um conjunto excelente que contava com Ritchie (vocal e flauta), Lulu Santos (vocal e guitarra), Luiz Paulo Simas (teclados) e Fernando Gama (baixo) - tive que recorrer ao Wiki porque eu não me lembrava dos dois últimos. Tão boa que Patrick Moraz, tecladista do Yes chegou a participar dela. Mas tudo acabou por causa de Lulu Santos, um talento na guitarra e uma catástrofe como homem.

      Com o fim do Vimana, Lobão, pela sua excelência na batera, tocou com uma penca de gente e acabou indo para a carreira solo acompanhando-se no violão e guitarra, com muita competência, demonstrando seu talento musical.

      Músico não é necessariamente compositor. Quanto às composições dele, é uma questão de gosto. Inclusive há muitas músicas dele cantadas por outros artistas, mas que pouca gente sabe da sua autoria, tipo Cazuza, Marina Lima e outros.

      Enfim, ele é um bom músico porque tem, reconhecidamente, um grande conhecimento da matéria. Só isso.

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    4. Eu sabia que Lulu Santos, Lobão e Ritchie tinham participado de um conjunto, mas não conhecia a música do Vimana, dei uma verificada e me pareceu bem decente. Mas tenho a impressão que o músico ali é o Lulu Santos, que individualmente também não deu em muita coisa que presta.

      Concordo que músico não é necessariamente compositor, mas instrumentista também não é necessariamente músico. No meu entendimento o Lobão é com instrumentista, mas não bom músico. Vou citar um exemplo:
      With a little help from my friends, composição de Ringo Star, mas nas mãos de um músico brilhante como Joe Cocker virou obra prima.

      Quanto a outras pessoas terem gravado músicas do Lobão, isso é questionável, nunca se sabe quais são os interesses das gravadoras. Eu não vejo nada no Cazuza e a Marina Lima é boa interprete, mas até aonde eu sei, ela grava o que dizem pra ela gravar.

      Se você puder indicar um música do Lobão que você considera boa, terei prazer em conferir.

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    5. With a little help from my friends é Lennon e McCartney, sendo que mais do Paul do que do John. Ringo só cantou.

      Quanto às músicas do Lobão, repito, é uma questão de gosto. E confesso não gostar de muitas dele. Gosto de "Me chama".

      Não gosto do Cazuza pelo seu excesso de letra, mas ele fez sete músicas com Lobão. "Vida Bandida", que faz sucesso até hoje, é uma.

      Só volto a afirmar: em tudo que eu vi dele, independente de gosto, eu vi competência. Eu detesto Dvorak, mas não nego sua competência.

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    6. A informação que eu tinha era que o Ringo Star é o autor da música e por mais que as informações encontradas na internet digam o contrário, não identifico o estilo Lennon/Macartney nessa música (nem na letra), principalmente no momento em que ela foi gravada.

      Mas se Lennon e Macartney tiveram um branco quando fizeram a música, quem sou eu para duvidar, eles fizeram a primeira música dos Rolling Stones e também não saiu uma obra prima, só que essa eles fizeram em cinco minutos no corredor de um teatro, a pedido dos Stones.

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    7. Joe Cocker também fez uma releitura de Something (George Harrison), ficou boa, mas não chegou nem perto da versão original. É nesse sentido que diferencio músico de instrumentista, músicos vão além de saber usar o instrumento.

      Eu também gosto de "Me Chama" (a única que eu conhecia/lembrava), conferi outras músicas e o resultado foi o seguinte, tem bastante instrumento, mas pouca música, ou seja, os instrumentos são muito usados, mas sem fazer muito sentido.

      Não entro no mérito das letras, tem muita música boa com letra ruim, Obládi Obladá (Lennon/MaCartney) foi considerada a pior letra de todos os tempos, nem por isso a musicalidade é ruim.

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  3. Ricardo, essa história sobre a autoria de With a little help from my friends, me chamou a atenção para uma hipótese muito plausível. Eu tive um acervo muito significativos sobre os Beatles e sobre outras bandas e roqueiros, além constar no disco que eu tinha, que a música era do Ringo, eu não identifica Lennon/MaCartney como autores, está muito mais para o Ringo como autor.

    Mas, devido à nossa conversa, consultei a wiki e encontrei uma informação equivocada:
    'Ringo foi o primeiro a abandonar a banda. Em uma entrevista em 1968, John Lennon, ao ser perguntado se Ringo era o melhor baterista do mundo, respondeu: "Ele nem é o melhor baterista dos Beatles". John se referia ao fato de Paul McCartney ter gravado a bateria em duas canções do disco Álbum Branco. Ringo, que de uma certa forma já se sentia excluído pela banda por não compor como Lennon/McCartney, acabou abandonando a banda por duas semanas. Ringo só retornou depois que os outros três integrantes pediram por sua volta'.

    A história é um pouco diferente, Paul tinha uma enorme implicância com o trabalho do Ringo e decidiu ele mesmo fazer a bateria em duas músicas. Paul foi pressionado por John e George para se retratar e convencer Ringo a voltar. Paul convidou Ringo para conversar no estúdio, onde foi recebido com a bateria coberta de flores, colocadas por Paul, que pediu seu retorno.

    Agora minha hipótese: Paul fez a música num estilo que se encaixava no do Ringo, mas dando mais qualidade ao estilo, se existe alguém com capacidade para isso é o Paul MaCartney, foi uma indireta do tipo, "você pode fazer uma música assim".

    A música Hey Jude é considerada por muitos uma indireta do Paul para o John, que queria acabar com os Beatles. Outra curiosidade é que depois da dissolução da banda, John pediu ao para convidar o Ringo para gravar uma faixa em seus álbuns, algo que ele fazia com o George e com o Ringo. Paul atendeu o pedido do John, mas observe que John não pediu para o Paul gravar com o George, sinal que após a dissolução ficaram sequelas e como sempre o John tinha que resolver.

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    1. The album was recorded as if Sgt. Pepper was a real band. It opens with the title track, then segues into "With A Little Help From My Friends." Beatles drummer Ringo Starr sang lead, introduced as "Billy Shears," a name chosen because it sounded good and played up the idea that the group was in character.

      The song was never released as a single, but became one of the group's most enduring tracks. Since it there is no break on the album between the fade of the title track (and "Billy Shears" introduction) and the beginning of this song, radio stations were forced to either play the tracks together or play the awkward open.

      THIS WAS ONE OF THE VERY LAST SONGS JOHN LENNON AND PAUL MCCARTNEY SAT DOWN AND WROTE TOGETHER IN A TRUE COLLABORATION. THEY WERE AT PAUL'S HOUSE MESSING AROUND ON THE PIANO.

      THE ORIGINAL TITLE WAS "BADFINGER BOOGIE." THE BEATLES GOT SOME USE OUT OF THE NAME WHEN THEY SIGNED A GROUP TO THEIR LABEL, APPLE RECORDS, AND NAMED THEM BADFINGER.

      The cheering at the beginning was taken from a Beatles concert at the Hollywood Bowl. The Beatles had stopped touring by the time this was recorded.

      This hit #1 on the UK chart three times: first by Joe Cocker in 1968, again by Wet Wet Wet in 1988 and finally by Sam and Mark in 2004. (thanks, Bertrand - Paris, France)

      John Lennon claimed this was not about drugs, but many people didn't believe him, including US vice president Spiro Agnew, who once told a crowd that this song was a "Tribute to the power of illegal drugs." He said the lines, "I get by with a little help from my friends, I get high with a little help from my friends," "Is a catchy tune, but until it was pointed out to me, I never realized that the 'friends' were assorted drugs!" (thanks, Mike - Mountlake Terrace, WA. U.S.A)

      The first line was originally "What would you do if I sang out of tune? Would you stand up and throw tomatoes at me?" Ringo did not want to sing it, fearing that if they ever did it live he would be pelted with tomatoes.

      The Beatles finished recording this the night they shot the cover for the Sgt. Pepper album. This continued the "Concept" of the album, but until the reprise of "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" at the end, the theme of the fictional band ends with this.

      Twelve years after "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" and "With a Little Help from My Friends" appeared on the Sgt. Pepper album, they were released together as a two-song medley and reached US #71 and UK #63. (thanks, Jerro - New Alexandria, PA)

      When Ringo Starr was inducted into the Rock and Roll Hall of Fame in 2015, he performed this song with many of the evening's participants, including Joan Jett, Miley Cyrus, Dave Grohl, Stevie Wonder and Paul McCartney.

      Joe Cocker's 1968 cover was used as the theme song for the '80s/'90s TV series The Wonder Years, starring Fred Savage.

      The Beatles Bible

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  4. The Beatles Bible diz que quem colocou flores na bateria foi o George e que o Paul colocou bateria nas duas músicas por que o Ringo tinha se afastado. Se tem algo que não me surpreende são diferentes versões sobre a história dos Beatles.

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    1. Bom, estávamos falando da autoria do With a little help...

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    2. Sim, a informação que u tina estava errada e apareceram outras informações contraditórias. Seja como for, Joe Cocker mostrou a diferença entre música e "quase música".

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