quinta-feira, 18 de julho de 2019

O interesse principal de Toffoli era blindar de investigações a própria mulher, a advogada Roberta Maria Rangel, e também a mulher de Gilmar Mendes, a também advogada Guiomar Feitosa


Carlos Newton

Já se disse aqui na Tribuna da Internet que as aparências enganam. Especialmente no mundo da política, onde a enganação dessa gente é uma arte, como diria Ataulfo Alves. Mas nesta terça-feira, a estranhíssima decisão do ministro Dias Toffoli, ao conceder liminar a habeas corpus impetrado pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), à primeira vista foi considerada como uma decisão destinada a blindar o parlamentar. Mas na verdade havia mais coisas por trás.

O interesse principal de Toffoli era blindar de investigações a própria mulher, a advogada Roberta Maria Rangel, e também a mulher de Gilmar Mendes, a também advogada Guiomar Feitosa.

NA MALHA FINA – Figuras famosas da sociedade de Brasília, as duas advogadas foram apanhadas na malha fina da Receita Federal, por movimentações financeiras atípicas. E desde então as vidas de Toffoli e Gilmar viraram um inferno, com as mulheres exigindo providências dia após dia, noite após noite.

Nesse balaio grande da Receita Federal muita gente importante se enrolou. Foram 134 nomes da pesada, incluindo a ministra Isabel Gallotti, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o empresário Blairo Maggi, ex-senador e ex-ministro da Agricultura no governo Michel Temer, o desembargador fluminense Luiz Zveiter e o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Marcelo Ribeiro – todos se tornaram alvos de investigações por irregularidades tributárias.

Toffoli e Gilmar bem que tentaram cumprir as ordens das mulheres, mas a primeira tentativa deles foi um fracasso retumbante.

INQUÉRITO NO STF – Na condição de presidente do STF, em 14 de março Toffoli abriu um inquérito criminal para apurar “notícias fraudulentas, ofensas e ameaças, que atingem a honorabilidade e a segurança do Supremo Tribunal Federal, de seus membros e familiares”.

Nem houve sorteio de relator. Toffoli indicou o ministro Alexandre de Moraes, e foi um erro, porque ele não engoliu a isca. Pelo contrário, Moraes fingiu não ter entendido a mensagem do mestre e foi enrolando o lero, mantendo como alvo apenas as fake news, sem jamais se preocupar com ofensas à honorabilidade dos membros do Supremo e seus familiares.

Já se passaram quatro meses e até agora… nada, porque Alexandre de Moraes tem mais o que fazer e está pouco ligando para os problemas matrimoniais de seus colegas de tribunal.

SEGUNDA TENTATIVA– Agora, a dupla Toffoli e Gilmar partiu para nova tentativa, tão desesperada como uma canção de Pablo Neruda. De uma só vez, para salvar apenas as duas mulheres, eles colocaram um monte de gente dentro de uma carnavalesca Arca de Noé, com o senador Flávio Bolsonaro na comissão de frente.

Não é preciso ser um jurista do porte de Jorge Béja, Modesto Carvalhosa ou Carlos Velloso para perceber que isso não vai dar certo e pode até ser um golpe mortal na desmoralização do Supremo.

Como é que Toffoli e Gilmar, cada um com três juízes para assessorá-los no Supremo, não conseguiram notar que uma liminar dessas é uma maluquice completa? Não perceberam que os líderes das facções criminosas e do narcotráfico também seriam beneficiados? E não viram que o Brasil não pode ser transformado no paraíso da criminalidade?

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P.S. 1 – Tudo isso está acontecendo apenas porque duas mulheres importantes foram apanhadas na malha fina da Receita/Coaf… Na verdade, o senador Flávio Bolsonaro não pode ser acusado de nada. Seus advogados apenas tentaram protegê-lo. Jamais poderiam imaginar que seu modesto habeas corpus pudesse suspender processos e inquéritos contra os maiores criminosos do país, de uma só tacada.

P.S. 2 – E o pior da história é que Flávio Bolsonaro nem vai se  salvar com essa decisão de Toffoli, conforme anunciamos aqui na Tribuna da Internet nesta  terça-feira, em absoluta primeira mão, logo após a decisão de Toffoli. E daqui a pouco a gente volta, com mais detalhes, todos rigorosamente verdadeiros. (C.N.)