Desde pequeno eu carrego comigo uma certa obsessão pela
lógica e pela razão. Meu pai chegou a me dizer, em um comentário meio crítico, que eu era
excessivamente reflexivo, que tudo que eu pensava e fazia era desprovido de
emoção. E isso foi dito quando eu tinha uns doze anos.
Achei estranho, até porque ele mesmo sempre me passou uma
imagem racional ao extremo, como um sujeito extremamente competente
profissional e socialmente, tanto que era uma espécie de conselheiro procurado
por todos - cunhados, sobrinhos, tios, primos, amigos, etc. - e um sujeito
assim não poderia jamais ser levado por emoções, sob pena de perder o “posto”.
Mas vamos deixar o velho pra lá.
Atraído por um artigo na Veja - “Qual é a origem da fé” -,
que diz que quem tem usa a reflexão tem menos chances de ter fé religiosa do
que os que seguem a intuição, essas lembranças me vieram. Mas isso parece óbvio
demais - e é - para ser tratado como algo relevante. A começar pelas teorias
supostamente científicas que o homem precisa recorrer a algo “maior e
impalpável” para lidar com a sua “consciência de finitude” e que as religiões
estimulam sentimentos (solidariedade e compaixão) que levariam à proteção em
momentos de risco, o artigo me pareceu meio mambembe.
Eu estava certo: o negócio descambou para o besteirol mesmo,
a ponto de citar Dean Hamer, um biólogo que é coordenador do setor de genética
do National Cancer Institute dos EUA, que afirmou ter descoberto que a fé em
deus estaria em um gene, que ele batizou de “gene de deus” após avaliar o “grau
de espiritualidade” de mil adultos. O VMAT2, nome do troço - responsável pela
regulação das monoaminas (como serotonina e adrenalina) -, estaria presente só
nos que teriam “sentimentos religiosos”.
O problema é que, se as monoaminas são comprovadamente as
responsáveis pela construção da realidade e pela percepção das alterações de
consciência do indivíduo, essa tal “regulação” está mais para desregulação, já
que a fé é baseada em experiências místicas e não tem, nem obrigatoriamente, qualquer
ligação com a realidade. Portanto, a tese do doutor Hamer é totalmente furada. De
mais a mais o tal gene estar presente em pessoas mais espiritualizadas não
explica coisa nenhuma, muito menos deus. Quando muito, evidencia exatamente o
contrário, ou seja, que essas pessoas com consciências alteradas têm a incrível
capacidade de inventar e assimilar misticismos sem sentido.
Tem ainda uma questão abordada na reportagem pela qual eu me
bato: considerar-se a intuição como uma “faculdade de perceber, discernir ou
pressentir coisas, independentemente de raciocínio ou de análise”. Eu considero
a intuição um, digamos, “instrumento” importantíssimo na vida de qualquer ser
humano, mas que só aceitável quando vem do resultado de reflexões.
Explicando melhor, a intuição é uma espécie de jurisprudência mental em que,
sub ou inconscientemente, o indivíduo usa essas reflexões acumuladas em
experiências anteriores sem precisar se deter em maiores elucubrações. A
intuição sem uma base racional, mesmo que esta esteja escondida lá nos cafundós
do cérebro, não passa de uma tentativa inútil e, muitas vezes arriscada demais.
Além disso, ninguém é essencialmente intuitivo ou reflexivo.
Queiram ou não os “especialistas”, a preponderância do raciocínio sobre a
intuição não é um privilégio de alguns - ou muitos, sei lá como eles dividem
isso -, mas sim uma característica inerente ao ser humano, tanto que seu
excesso ou escassez não servem para aferir os parâmetros de quem é mais ou
menos inteligente. A diferença é apenas entre a objetividade e a subjetividade.
(argento) ... he he he, ... alguns dias acordo e, quase no mesmo instante, volto a dormir; na maior parte dos dias acordo e levanto da cama. Quando acordo, penso em levantar da cama, "algo" acontece, volto a dormir; quando acordo e levanto, não penso em voltar a dormir, "algo" acontece, levanto. Jé tentei fazer o contrário, não deu certo, nunca dá certo, ... a despeito do que falam os especialistas - em quem devo por minha fé?
ResponderExcluirNunca encontrei uma pesquisa feita pela psicologia que tivesse mérito científico, as revistas e jornais deveriam ter um mínimo de consideração e publicar temas da psicologia em variedades, jamais em página de ciência.
ResponderExcluirEssa pesquisa em especial, merece um troféu abacaxi, pois tem como parâmetro que os reflexivos acertam mais que os intuitivos, ou seja, se acertar é reflexivo se errar e intuitivos, o problema é como saber saber se a pessoa refletiu mais ou menos durante a prova? Pelo que percebi, através da Veja, é o teste poderia identificar as pessoas que são mais indutivas, mas não intuitivas. Se os psicólogos não são capazes nem de diferenciar intuição de indução, seria mais seguro se estudassem astrologia, pelo menos não teriam status de ciência para enganar as pessoas.
Milton, tudo que alguns supostos cientistas tentam provar sobre alguma coisa escancaradamente fora de propósito acaba em merda. Ao contrário da maioria, eu tenho a certeza que a verdadeira ciência, séria, hoje tem explicação para tudo, incluindo as psicopatologias, fornecendo referências e a explicações para as modificações comportamento e de personalidade de indivíduos que se desviam da norma, como é o caso da fé.
ExcluirSó não descobriu a cura...
Eu concordo contigo, a verdadeira ciência tem recursos para entender e explicar o comportamento humano, esses recursos são chamados de método científico. O problema é que a psicologia não usa o método científico, usa o "achômetro". Vou chamar a atenção para apenas um detalhe: a psicologia é reconhecida como profissão desde a década de 1950, alguém sabe dizer UMA pesquisa que tenha sido verificada com método científico e se mostrado verdadeira?
ExcluirTentei encontrar algo decente sobre método científico, mas só encontrei superficialidades. Basicamente, o que encontrei foram as fases da pesquisa, que são: observação, problematização, formulação da hipótese, experimentação. Mas o mérito científico não está nas fases da pesquisa, mas nos princípios adotados. Vou citar alguns princípios:
ResponderExcluir1. Consistência lógica: se houver uma premissa errada ou se faltar alguma premissa necessária, a pesquisa não pode ser considerada verdadeira.
2. Verificabilidade: a pesquisa deve ser verificada por outros pesquisadores independentes. Se a pesquisa não passou por verificação independente, com a reprodução dos experimentos, ela não pode ser considerada comprovada.
3. Refutabilidade (falseabilidade): conhecido como princípio científico de Karl Popper, para considerar uma teoria como verdadeira é necessário que seja apresentada a situação que poderia mostrar que ela é falsa. Ex: todos os cisnes são brancos, portanto basta um cisne preto para mostrar que a teoria é falsa.
Agora eu pergunto: quando foi a última vez que os meios de comunicação divulgaram uma pesquisa mencionando o princípio da refutabilidade, mencionando a reprodução da pesquisa por pesquisadores independentes e apresentando as premissas da pesquisa?