*Pixulé do petrolão (pixuleco é o cacete!)
José Casado: O financiador de campanhas
No fim da tarde de um domingo, 18 de setembro de quatro anos
atrás, o motorista do Land Rover EIZ 8877 atravessou a barreira eletrônica da
portaria do condomínio Park Palace, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio,
virou à esquerda e estacionou em frente a uma casa de dois andares, de fachada
amarela com detalhes em branco. Já conhecia a residência e escritório do
deputado Eduardo Cunha, no primeiro cômodo à esquerda da entrada.
Logo saíram para uma reunião no Leblon, a 20 quilômetros. No
meio da Avenida das Américas, o telefone celular (9)9458-6917 buzinou. Fernando
Soares, conhecido como Baiano, confirmou o endereço a Julio Camargo.
Meia hora depois, os três romperam o silêncio dominical de
um escritório de advocacia: “Ele (Cunha), extremamente amistoso, dizia que ele
não tinha nada pessoal contra mim, mas que havia um débito meu e que isso
estava atrapalhando”, relatou Camargo em juízo.
O deputado, atual presidente da Câmara, se associara a
Baiano na cobrança de US$ 16 milhões em propina de Camargo, que atuava num
negócio de US$ 1,2 bilhão da Petrobras com os grupos Samsung (Coreia do Sul) e
Mitsui (Japão), para compra de dois navios-sonda.
Combinaram um cronograma de pagamentos. O deputado exigiu
prioridade, contou Baiano a procuradores: “Até abril ou maio de 2012, porque
usaria este dinheiro para campanhas nas eleições municipais”.
Aliados de Cunha em diferentes partidos estavam no centro do
poder do governo estadual, da prefeitura da capital e de 25% do interior do
Estado do Rio. Ele se preocupava com alianças financeiras para campanhas de
alguns candidatos, dentro e fora do seu partido.
O acordo de pagamentos não foi cumprido. Camargo alegava
dificuldades com os seus financiadores coreanos. Cunha teve uma ideia, segundo
Baiano: “Sugeriu que fosse feita uma doação para o PMDB. Também não deu certo.”
No segundo semestre de 2012, o deputado pressionava “em busca
de verbas para a campanha dos políticos de seu partido”, insistiu Baiano, em
depoimento. Foi encontrá-lo e, na conversa, viu se repetir uma cena.
Cunha atendeu ao telefone e pediu silêncio para gravar uma
mensagem para uma rádio cuja programação é voltada ao público evangélico: “Ele
chamava os ouvintes de ‘amados’ e terminava falando ‘O povo merece respeito’”.
Depois, o deputado, que é dono da empresa Jesus.com, pediu a Baiano que
orientasse Camargo a pagar sua parte sob a forma de doações a uma igreja. O
“consultor” da Samsung e da Mitsui fez dois depósitos de R$ 125 mil em 31 de
agosto de 2012. Justificou como “pagamento a fornecedores”.
Negociações e pagamentos fatiados se arrastaram até às
vésperas da eleição do ano passado. Cunha mobilizou contribuintes à própria
reeleição e para campanhas de aliados que retribuíram, em fevereiro passado,
elegendo-o à presidência da Câmara.
Evidências sobre a distribuição do dinheiro de propinas
supostamente arrecadado por Cunha e transferido a candidatos a prefeitos em
2012 e a deputados em 2014 passaram a compor um novo alvo na investigação em
andamento. O potencial é bastante explosivo.
(argento) ... “O povo merece respeito.” ... e Uma Cova Rasa, de preferência "bancada" pela prefeitura - como convém aos "Socialistas das Despesas e da Privatização dos Lucros" ...
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