Evangelizar no vagão de trem é demais!

Você já se imaginou - já danado da vida por ter que ir trabalhar ou já cansado do trabalho, louco para chegar em casa - dentro de um vagão de trem entupido de gente com um cara colado na sua bunda soltando um bafo quente na sua nuca, outro na sua frente com o braço levantado se segurando para não cair, cujo sovaco fedido está roçando seu nariz e você sem poder se mexer durante uma hora?

Pois é, então some a isso uma corja de evangélicos berrando sem parar no seu ouvido que só Jesus salva e sendo xingado porque não é da mesma religião, que vocês vão ter a descrição do que é uma viagem de trem na SuperVia, no Rio de Janeiro.

Como não poderia deixar de ser, a decisão da 7ª Vara Empresarial da Capital de ter proibido a realização de cultos religiosos nos trens da SuperVia que veio ratificar uma liminar da 12ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça que, em 2009, determinou o fim das pregações nos vagões, estabelecendo, inclusive, que a concessionária colasse avisos nas bilheterias e nos trens, comunicando a proibição de qualquer manifestação religiosa nas composições, causou polêmica entre representantes de igrejas evangélicas e, para variar, o onipresente Silas Malafaia foi o primeiro a protestar: “Só agora os cultos estão incomodando? Ninguém fala da quantidade de pessoas que pensavam em se matar e desistiram depois de ouvir a palavra dos pregadores. Ou dos dependentes químicos que deixaram as drogas. O que é lixo moral tem ampla divulgação. Quero ver o promotor mandar acabar com a Parada Gay.”

Já o presidente da Ordem dos Ministros Evangélicos no Brasil e Exterior (Omeb), Isaías Souza Maciel, argumentou que a Constituição dá ampla liberdade religiosa para qualquer segmento religioso cultuar e levar a palavra de Deus para qualquer local: “Trata-se da opinião isolada de um promotor. Essa pessoa não conhece a Constituição. O que não pode acontecer é violar a lei do silêncio. Durante o dia, todo mundo faz barulho. Dentro dos vagões, todos têm liberdade. Ninguém fala desses trios elétricos por aí, com decibéis elevados.”

Ora, Malafa e Isaías, vão tomar onde as galinhas tomam! Não é de hoje que os evangélicos não usam desconfiômetro e vivem sendo motivo de queixas pela algazarra que fazem. O direito deles termina aonde começa o meu, seus patetas! E em vagão de trem lotado nem Jesus tem coragem de entrar!

Não sei por que, certas situações me trazem à memória um filme do Michael Douglas, “Um Dia de Fúria” (Falling Down) onde ele interpreta um trabalhador desempregado, frustrado com as várias falhas que ele vê na sociedade, sofre um surto psicótico que começa em um engarrafamento e sai matando todos os que forem aparecendo seu caminho e que abusam de uma boa vontade que ele já perdera há muito, como bandidos, trabalhadores que fecham uma rua, enfim, faz uma limpa.