segunda-feira, 3 de junho de 2013

"Se o povo é analfabeto, só ignorantes estarão em termos de o governar."


A esses homens-panacéias, a esses empreiteiros de todas as empreitadas, a esses aviadores de todas as encomendas, se escancelam os portões da fama, do poderio, da grandeza, e, não contentes de lhes aplaudir entre os da terra a nulidade, ainda, quando Deus quer, a mandam expor à admiração do estrangeiro.

Pelo contrário, os que se tem por notório e incontestável excederem o nível da instrução ordinária, esses para nada servem. Por quê? Porque “sabem demais”. Sustenta-se aí que a competência reside, justamente, na incompetência. Vai-se, até, ao incrível de se inculcar “medo aos preparados”, de havê-los como cidadãos perigosos, e ter-se por dogma que um homem, cujos estudos passarem da craveira vulgar, não poderia ocupar qualquer posto mais grado no governo, em país de analfabetos. Se o povo é analfabeto, só ignorantes estarão em termos de o governar. Nação de analfabetos, governo de analfabetos. E o que eles, muita vez às escâncaras, e em letra redonda, por aí dizem.

Trecho da Oração aos Moços, de Ruy Barbosa (1922).

Será que além de tudo o homem era vidente?

Um comentário:

  1. Uma postagem excelente Ricardo.
    Parece que sim, vai tinha uma bolinha de cristal no bolso.
    Pelo andar da carruagem o analfabetismo crescendo, o pais sera governado pela gentalha durante muito, muito tempo. Nem os teus bisnetos irao conhecer uma sociedade politizada e alfabetizada. Ingelizmente.

    ResponderExcluir