Belisário Betancour, eleito presidente colombiano em 1982,
dois meses e meio depois de empossado, tornou pública a decisão histórica: “Por
preservamos o bem público, por sabermos que o desperdício é imperdoável,
anuncio aos meus compatriotas que o Mundial de Futebol de 1986 não se realizará
na Colômbia (...). Temos outras coisas a fazer, e não há tempo para atender às
extravagâncias da Fifa e de seus sócios.”
Naquele momento o conturbado momento que vivia o país talvez
justificasse, por si só, essa decisão. Começavam as tentativas de negociação do
governo com os grupos extremistas e também uma guerra sangrenta contra o
narcotráfico.
Mas não foi só isso. A Fifa praticamente inviabilizou a
realização da Copa do Mundo de 1986 na Colômbia. Em 1974, quando o país fora
oficializado como sede, as exigências da Fifa eram umas. Oito anos depois,
outras. Com a eleição de João Havelange o mundo do futebol começava a mudar. O
processo de globalização que a entidade empreenderia, e que ajudaria a
enriquecê-la graças a negócios milionários, tinha tudo a ver com o novo
presidente. A consequência foi o aumento das exigências para 1986. De 16
participantes, a Copa passava a ter 24 para dar-se um jeito de enfiar países
africanos e asiáticos, os responsáveis diretos pela eleição de Havelange. Além
disso, novas condições eram impostas em relação à infraestrutura: necessidade
de 12 subsedes (ao contrário das cinco previstas até 1978), estádios com
capacidades mínimas, e, pela primeira vez, tratamento de luxo para dirigentes e
delegados visitantes, incluindo hotel cinco estrelas, limusines e outras
benesses. Em julho de 1982, a Fifa enviou um ultimato ao governo colombiano,
cobrando investimentos públicos no evento, como a absurda exigência da construção
de uma malha ferroviária.
Não havia coisa mais racional a fazer que não a renúncia da
Colômbia em sediar a Copa de 1986.
As opções passaram a ser o Canadá,que recusou por causa do
peso das dívidas contraídas com as Olimpíadas de 1976, os Estados Unidos, que chegaram
a se candidatar, mas Ronald Reagan cortou, Brasil e México.
No Brasil, Figueiredo não concordou que o país dispendesse quase
um bilhão de dólares para tentar satisfazer o caderno de encargos da Fifa,
principalmente diante do quadro de enorme dificuldade financeira que o Brasil
atravessava.
E a Copa foi para o México, o confessado interesse de
Havelange - naturalmente, com o apoio já garantido do governo local - por causa
das vantagens financeiras que foram oferecidas pela Televisa. Com um detalhe:
as exigências impostas pela Fifa à Colômbia foram reduzidas a zero no México
Falta um ano para a Copa no Brasil, mas nunca é tarde demais
para ser decente.
Sobre uma reportagem de O Globo.
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