domingo, 30 de junho de 2013

Só para lembrar: a Colômbia já renunciou a ser sede de uma Copa do Mundo de Futebol


Belisário Betancour, eleito presidente colombiano em 1982, dois meses e meio depois de empossado, tornou pública a decisão histórica: “Por preservamos o bem público, por sabermos que o desperdício é imperdoável, anuncio aos meus compatriotas que o Mundial de Futebol de 1986 não se realizará na Colômbia (...). Temos outras coisas a fazer, e não há tempo para atender às extravagâncias da Fifa e de seus sócios.”

Naquele momento o conturbado momento que vivia o país talvez justificasse, por si só, essa decisão. Começavam as tentativas de negociação do governo com os grupos extremistas e também uma guerra sangrenta contra o narcotráfico.

Mas não foi só isso. A Fifa praticamente inviabilizou a realização da Copa do Mundo de 1986 na Colômbia. Em 1974, quando o país fora oficializado como sede, as exigências da Fifa eram umas. Oito anos depois, outras. Com a eleição de João Havelange o mundo do futebol começava a mudar. O processo de globalização que a entidade empreenderia, e que ajudaria a enriquecê-la graças a negócios milionários, tinha tudo a ver com o novo presidente. A consequência foi o aumento das exigências para 1986. De 16 participantes, a Copa passava a ter 24 para dar-se um jeito de enfiar países africanos e asiáticos, os responsáveis diretos pela eleição de Havelange. Além disso, novas condições eram impostas em relação à infraestrutura: necessidade de 12 subsedes (ao contrário das cinco previstas até 1978), estádios com capacidades mínimas, e, pela primeira vez, tratamento de luxo para dirigentes e delegados visitantes, incluindo hotel cinco estrelas, limusines e outras benesses. Em julho de 1982, a Fifa enviou um ultimato ao governo colombiano, cobrando investimentos públicos no evento, como a absurda exigência da construção de uma malha ferroviária.

Não havia coisa mais racional a fazer que não a renúncia da Colômbia em sediar a Copa de 1986.

As opções passaram a ser o Canadá,que recusou por causa do peso das dívidas contraídas com as Olimpíadas de 1976, os Estados Unidos, que chegaram a se candidatar, mas Ronald Reagan cortou, Brasil e México.

No Brasil, Figueiredo não concordou que o país dispendesse quase um bilhão de dólares para tentar satisfazer o caderno de encargos da Fifa, principalmente diante do quadro de enorme dificuldade financeira que o Brasil atravessava.

E a Copa foi para o México, o confessado interesse de Havelange - naturalmente, com o apoio já garantido do governo local - por causa das vantagens financeiras que foram oferecidas pela Televisa. Com um detalhe: as exigências impostas pela Fifa à Colômbia foram reduzidas a zero no México

Falta um ano para a Copa no Brasil, mas nunca é tarde demais para ser decente.

Sobre uma reportagem de O Globo.

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