sexta-feira, 28 de junho de 2013

No tempo em que Presidentes ainda se importavam com o povo...


Circula na internet uma mensagem de Paulo Figueiredo, filho do general João Batista Figueiredo, o último militar a ocupar a Presidência da República durante o regime militar. Ele relata por que seu pai não aceitou que o Brasil sediasse a Copa na década de 80.

De repente eu comecei a receber uma enxurrada de mensagens mencionando esta estória, que segue abaixo.  Sou, evidentemente, talvez o cara mais suspeito para tecer considerações sobre qualquer matéria que faça juízo de valor a respeito de meu pai, especialmente em atos do seu governo.

Mas sobre este episódio, especificamente, não posso me furtar a dizer, e com certeza absoluta, que o que está relatado é totalmente verdadeiro. …

Até porque, calhou de eu estar presente no mencionado encontro. Tinha acabado de vir do Rio, e fui direto ao Torto ver os meus pais, como eu sempre fazia assim que chegava a Brasília. Soube que o “Velho” estava reunido com o Havelange, no gabinete da residência. Como sempre tivemos com ele uma relação muito cordial, me permiti entrar para cumprimentá-lo e dar-lhe um abraço.

- João e João? Esta reunião eu tenho que respeitar!, brinquei irreverente, dele recebendo um carinhoso beijo. (Havelange sempre teve o hábito de beijar os amigos). Ia, logicamente, me retirar, mas Papai me deixou à vontade:

- Senta aí, estamos falando de futebol, que é coisa que você adora.

Fui logo sacaneando:

- E ele já descobriu um jeito de salvar o Fluminense? (risos – os dois, tricolores roxos).

- Ainda não, mas vamos chegar lá. Estamos conversando sobre Copa do Mundo…

E deu-se então o diálogo, do qual o trecho que está contido no texto fez parte, realmente. O Velho não concordava que o país dispendesse quase um bilhão de dólares (valor abissal para os números daquela época) para tentar satisfazer o caderno de encargos da Fifa, principalmente diante do quadro de enorme dificuldade financeira que o Brasil atravessava. Uma situação cambial dramática, resultante de um aperto histórico na liquidez internacional – taxa de juros internacionais de 22% a.a, barril de petróleo a 50 dólares no mercado spot – agravada pela necessidade de se dar continuidade a um importantíssimo conjunto de obras de infraestrutura. Muitas delas iniciadas, diga-se de passagem, em governos anteriores, mas que não poderiam ser paralisadas por serem realmente de vital importância para a continuidade do nosso desenvolvimento.

Para se ter uma ideia: produzíamos apenas, em 1979 (quando houve o segundo “oil shock”) 164.000 barris de petróleo por dia, contra uma demanda de 1,2 milhões. Um forte investimento nos programas de prospecção e mudança no perfil do refino, associado à criação e implementação do Proálcool, permitiu que em 1985 se atingisse uma produção de 640 mil barris/dia, fora a triplicação das reservas cubadas de gás, e ainda tivéssemos grande parte da bacia de Campos instalada (o que, sem medo de falar bobagem, até hoje garante o abastecimento do nosso carro ou o óleo diesel do nosso busão.)

Realmente, era contrastante com o que se fez (ou melhor, o que NÃO se fez) nos governos seguintes: várias hidrelétricas, começando por Itaipu – até hoje é a segunda maior do mundo, além de Tucuruí, Balbina, Sobradinho, etc, todas com as suas gigantescas linhas de transmissão; conclusão da expansão de todas as grandes siderúrgicas (CSN, Usiminas, Cosipa e outras – que fizeram o Brasil passar de crônico importador para exportador de aço); conclusão das usinas de Angra 1 e 2; um programa agrícola que permitiu que ainda hoje estejamos colhendo os frutos da disparada de produção de grãos – graças à Embrapa, ao programa dos cerrados e ao programa “Plante que o João garante”; um salto formidável nas telecomunicações, até então ridículas; multiplicação da malha rodoviária – a mesma, praticamente, na qual hoje ainda rodamos, só que agora sucateada e abandonada; inauguração de dois metrôs: Rio e São Paulo; instalação de vários açudes no sertão nordestino; e, o que não vejo ninguém da mídia mencionar (até porque não lhes interessa): a construção de 2,4 milhões de casas populares, mais do que toda a história do BNH até então, e muito mais do que a soma de todos os outros governos (?!) que sucederam.

Isto é apenas o que eu me lembro agora, ao aqui escrever rapidamente. Em resumo: naquela época, o dinheiro dos impostos dos brasileiros, simplesmente, destinava-se ao desenvolvimento do país.

Daí não ter havido condições de se fazer a Copa de 1986. O mais engraçado foi no dia seguinte: Delfim era muito ligado ao então presidente da CBF (ou ainda era CBD?), Giulite Coutinho, que, lógico, tinha todo o interesse em trazer aquela Copa para o Brasil. No despacho, Delfim foi logo colocando:

–Presidente, trago aqui os números globais de custo para fazermos a Copa, blá, blá, vai dar entre uns 300 a 500 milhões de dólares, blá, blá…

O Velho, que já havia pedido ao SNI para preparar um estudo acurado, cortou sumariamente:

- Não é isso não, Delfim, você está enganado, iria custar isto, mais isto, mais aquilo… e pode esquecer porque nós não vamos entrar nesta fria!

Mas, para concluir, já falando do presente: o que se está fazendo com o povo brasileiro é simplesmente criminoso. Só que a roubalheira na construção dos estádios é apenas a cabeça do iceberg...

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