Pela primeira vez eu concordo (em parte) com esse senhor,
que agora faz uma análise óbvia sobre a recente ocupação das ruas por
manifestantes. É claro que ele não perde a viagem, tentando ridicularizar e
diminuir a importância dessa tal “classe média antipetista”, que é muito, mas
muito maior que as pesquisas do seu Vox Populi chinfrim indicam. Mas ele acerta
em cheio ao dizer que Fernando Henrique, depois que saiu da presidência, falou
que queria uma oposição que “suscitasse o interesse” da classe média e lhe
“oferecesse alternativas”, mas não fez nada para que isso fosse viável.
De qualquer maneira, continuo considerando que Coimbra não
vale nada. Ele, petralha por conveniência, tal como outros petralhas, também
está se borrando de medo. Já pensou perder essa boquinha de órgão de pesquisa
oficial do PT?
O texto:
O sentido das manifestações
Enquanto perdem fôlego e amainam as manifestações de
protesto que afetaram o País nas últimas semanas, está na hora de procurar
entender seu significado.
Uma das maiores dificuldades para compreendê-las é que não
tiveram sentido único. Salvo, talvez, nos primórdios, quando usuários de
transportes públicos foram às ruas em São Paulo para reclamar do aumento no
preço das passagens. Lá, ainda tínhamos o cenário que explica as mobilizações
sociais mais características: causa concreta, pessoas afetadas concretamente,
reivindicações concretas.
Muito se diz que as manifestações seguintes foram novas.
Diferentes, por exemplo, das que a direita fez pela deposição de João Goulart
ou das que empurraram o governo Collor para a crise final.
Mas, será que a “horizontalidade” e a “difusão” das atuais
as tornam mesmo originais?
Não terá existido, nas manifestações deste mês de junho, um
segmento que desempenhou papel definidor análogo ao dos anticomunistas e dos
conservadores católicos nas marchas de 1964? Dentre os muitos tipos de gente
que foi às ruas, não houve um que forneceu personalidade ao “movimento”?
Para identificar o sentido das que aconteceram agora, temos
o perfil mais típico dos participantes, suas bandeiras mais características e
as reações mais comuns que suscitaram.
Nada ilustra melhor a mudança do perfil socioeconômico dos
manifestantes que a imagem veiculada pela TV Globo nos primeiros jogos do
Brasil na Copa das Confederações: madames vestidas a caráter e cheias de
balangandãs, brandindo cartazes sobre o “fim da corrupção” e fazendo propaganda
de um endereço no Twitter. Os jovens que, no YouTube, se tornaram astros dos
“insatisfeitos”, parecem seus filhos ou irmãos.
No conteúdo, o elemento central da “ideologia das ruas” foi
a crítica à representação política e às instituições, particularmente os
partidos políticos. Os manifestantes gritaram País afora que não se sentiam
representados por ninguém, que estavam na rua para denunciar os “políticos” e
“fazer política com as próprias mãos”. As vagas perorações em favor de “mais
verbas para a educação e a saúde” ou contra os “gastos exagerados na Copa do
Mundo” nada mais foram que pretextos para externar sua aversão ao sistema
político e ao governo.
Quem monitorou as redes sociais durante esses dias percebeu
que os defensores mais entusiastas das passeatas foram os antipetistas
radicais. Esses é que se sentiram em íntima comunhão com os participantes e
torceram para que as manifestações escalassem, enfraquecendo o governo e
prejudicando as chances de reeleição da presidenta.
Para dizer o óbvio, quem deu o sentido das manifestações foi
a classe média antipetista, predominantemente de direita. Nem sempre, nem todos
os participantes, mas em seu núcleo característico.
Ou seja: embora tenham participado do movimento desde punks
neonazistas a adolescentes apenas curiosos (e mesmo gente genuinamente
progressista), seu rosto é nítido.
A classe média antipetista tem motivos reais para estar
insatisfeita com a representação que tem. Ao contrário do cidadão que simpatiza
com o PT e outros partidos de esquerda, e que majoritariamente aprova o
governo, ela se sente mal representada.
Faz tempo que Fernando Henrique Cardoso lhe dá razão. Em
texto de 2011, em que tentava explicar a vitória de Dilma e definia novos
caminhos para a oposição, propunha ao PSDB que deixasse o “povão” para o PT e
fosse procurar a classe média: “É a essa que as oposições devem dirigir suas
mensagens prioritariamente”. Dizia que o
partido precisava “mergulhar na vida cotidiana” e encontrar “ligações orgânicas
com grupos que expressem as dificuldades e anseios do homem comum” (leia-se, de
classe média).
Lembrava que havia “toda uma gama de classes médias”, empresários
jovens, profissionais, “novas classes possuidoras”, que estariam “ausentes do
jogo político-partidário, mas não desconectadas das redes de internet,
Facebook, YouTube, Twitter, etc.”. Considerando seu “pragmatismo”, o discurso
para atraí-las não deveria ser “institucional”, mas centrado em temas como a
corrupção, o trânsito, os problemas urbanos, os serviços públicos.
FHC queria uma oposição que “suscitasse o interesse” da
classe média e lhe “oferecesse alternativas”. Se não conseguisse ser “uma
alternativa viável de poder, um caminho preparado por lideranças nas quais
confie”, sequer adiantaria “se a fagulha da insatisfação produzisse um
curto-circuito”.
Falou, mas não fez. Nessa, como em outras oportunidades, as
oposições brasileiras mostraram-se mais competentes na conversa que na ação.
Perceberam os desafios, mas não lhes deram resposta.
Foram de Serra, quando precisavam renovar-se. Apresentam
Aécio como prosseguidor da “herança de FHC”. Nada fizeram para “organizar-se
pelos meios eletrônicos, dando vida a debates verdadeiros sobre os temas de
interesse dessas camadas”, como sugeria o ex-presidente.
Presas de seus paradoxos, as oposições criaram a crise de
representação dos setores da sociedade a quem pretendiam (e deveriam)
expressar. Talvez principalmente, foi a impaciência das classes médias
antipetistas com a oposição que as levou às ruas.
Depois, é claro, de um ano de ataque da mídia conservadora
ao governo. Seus estrategistas acharam que conseguiriam, através de incursões
cirúrgicas, eliminar somente as lideranças do PT. O que fizeram foi ferir
valores fundamentais da democracia.
Eu li o texto do Fiuza na Revista Epoca sobre o assunto e gostei, bem escrito. Vale a pena ler.
ResponderExcluirhttp://colunas.revistaepoca.globo.com/guilhermefiuza/
Eu já tinha lido. O texto é bom sim.
ResponderExcluirVai tomar caxirola e deixa o povo protestar: se ainda não entendeu o que o povo quer: só benzendo
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