Por coincidência com o artigo que reproduzo abaixo, eu conversei ontem com amigos e amigas
sobre essa tal “circuncisão feminina”, até explicando a pessoas que
desconheciam a prática do que se tratava: a amputação do clitóris da mulher de
modo a que esta não possa sentir prazer durante o ato sexual, ou seja, além de
bizarra, uma grande burrice.
Não sei de onde veio esse costume, mas duvido que não tenha
origem religiosa, já que todos os documentos que dispomos das principais
religiões ocidentais - judaísmo, cristianismo e islamismo - mostram que todas tratam
a mulher como lixo. (No aniversário de Maomé, por exemplo, o ritual é feito de
forma comunitária e as famílias de mais de 200 meninas recebem dinheiro para a
circuncisão em massa em homenagem ao profeta. Os médicos usam tesoura para
cortar partes do clitóris. Acreditam que as meninas não circuncidadas não podem
permanecer puras depois de urinar e as orações jamais serão ouvidas.)
Por incrível que pareça, ao pesquisar agora sobre o assunto,
dei de cara com dois artigos que, de certa forma, justificam a prática. Um
óbvio, de islâmicos, e o outro, pasmem, de uma
pós-graduanda em Antropologia Cultural na Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Só em pensar que uma antropóloga brasileira seja capaz de masturbar-se
intelectualmente defendendo a mutilação de 125 milhões de mulheres no mundo,
com o único e execrável intuito de impedi-las, inclusive, de terem prazer em
masturbarem-se fisicamente, me dá ânsias de vômito. Deve ser uma mal-comida
complexada.
Em todo caso, o que me levou a escrever isso tudo foi esse bom
artigo sobre o tema.
Barbárie ou civilização: cabe decidir, por Laura Greenhalgh -
O Estado de S.Paulo
Era um encontro mundial sobre saúde da mulher no Rio de Janeiro,
no ainda bem disposto Hotel Glória, meados dos anos 1990. A jornalista, às
voltas com mil e uma possibilidades de boas matérias, encanou de conversar com
uma doutora de Burkina Faso, país africano na região do Saara. Diziam que a
mulher era uma estudiosa da mutilação genital feminina. O quê? Sabia-se pouco
sobre uma realidade tão estranha aos nossos trópicos - embora sejam trópicos
tão pródigos em estranhezas.
Numa varanda do Glória, a jornalista se deparou com a mulher
negra corpulenta, envolta em panos ultracoloridos, deusa africana “empoderada”
em fóruns internacionais, com sólido discurso sobre um crime cometido
milenarmente contra meninas e mulheres. Diante da pergunta técnica da repórter,
como se faz uma mutilação dessa natureza?, o empoderamento da doutora não durou
um minuto. Vi desmontar a ativista que, como as mulheres de sua família, em
diferentes gerações, passou pelo suplício. Guardo na memória seu olhar de
tristeza e humilhação ao se confessar uma vítima.
Dias atrás, o jornal The Guardian entrou com força numa
campanha contra a mutilação genital feminina (comumente tratada como FGM, sigla
para female genital mutilation), e o fez já cortando de saída aquela fleuma
britânica que dilui em contida polidez o que é simplesmente um escândalo. Em
editorial, o diário denuncia haver no Reino Unido cerca de 66 mil vítimas desse
tipo de violência e pelo menos 20 mil jovens ameaçadas de passar pelo mesmo
sofrimento nos próximos tempos, por imposição de suas famílias.
São meninas abaixo de 15 anos, filhas e netas de imigrantes,
a grande maioria com origens numa geografia que abrange não só África, mas
Oriente Médio, Ásia e Indonésia. Nasceram na Grã-Bretanha ou têm cidadania
inglesa, no entanto, continuam sendo mutiladas dentro de casa ou em locais clandestinos
nos domínios de Sua Majestade. Há também casos em que as famílias as levam aos
países de origem, a propósito de férias e/ou visita familiar. Lá consumam o ato
e daí voltam ao Reino.
A campanha deflagrada pelo Guardian ganhou um rosto
inesperado, coberto pelo véu islâmico. Trata-se de Fahma Mohamed, estudante
inglesa de 17 anos, que chegou aos 7 da Somália, a bordo de uma família com
pai, mãe e nove filhas. Em vídeo postado no site do jornal, Fahma olha para a
câmera e fala diretamente a Michael Gove, secretário de Educação do gabinete
Cameron. Trata de informá-lo que a mutilação genital existe na Grã-Bretanha e
cobra dele que escreva para todas as escolas primárias e secundárias do país,
determinando que professores e pais troquem informação abalizada sobre o tema.
E que isso ocorra já, antes das férias de verão, marcadas para o meio do ano,
quando as meninas sempre correm mais risco. Desde 1985, há uma lei inglesa
estabelecendo que a mutilação genital feminina, eufemisticamente tratada como
circuncisão, é crime. A lei francesa, tão antiga quanto, tem sido ao menos
aplicada, o que se confirma por alguns julgamentos exemplares. No Reino Unido,
nada.
O mundo da FGM é sórdido, e não me deixarão na mão aqueles
que estudam o problema. Não se pode atribuir essa prática a questões de fé,
incluindo nesse campo as três grandes religiões monoteístas, que são
balizadoras de boa parte da humanidade. No limite, o que se pode admitir é a
persistência de tradições culturais arraigadas, que ainda hoje encontram respaldo
em sociedades patriarcais. O que não justifica, em absoluto, o abuso perpetuado
com o propósito único de controlar a sexualidade e o corpo da mulher.
Documentário feito no Quênia mostra como comunidades lidam
com isso. De um lado, falam os homens, jovens homens, inclusive, justificando a
necessidade de “operar” as mulheres antes do casamento. Dizem que só assim elas
ficarão puras para eles. O que terão inoculado nas mentes destes pobres diabos,
que só se satisfazem ante a certeza de que sua parceira jamais vai experimentar
o prazer? De outro lado, falam as mulheres que realizam as tais operações, até
como meio de vida, no meio daquela pobreza. As mutiladoras, respeitadas
socialmente, exibem com naturalidade um arsenal de objetos cortantes e seus modos
de uso em condições de total falta de higiene.
Explicam que a “circuncisão” pode ser mais restrita ou mais
radical no estrago anatômico, digamos assim, de acordo com o que lhes é
encomendado. Daí as “pacientes” são deixadas sangrando no correr de uma festa
marcando o rito de passagem para a vida adulta - e muitas sangram até a morte.
São pavorosos os relatos das sobreviventes da FGM que passam pela experiência
do parto. Sabe-se que muitas não resistem ao dar à luz, assim como seus bebês.
É um soco no estômago, ouvir essas mulheres, sejam elas vítimas consumadas ou
potenciais. Dentre as últimas, há as que ainda ousam tentar escapar. A única
maneira é fugindo de casa rumo ao desconhecido, entregues à própria sorte ou à
falta dela.
Cabe, então, a pergunta: por que nós, por aqui, deveríamos
nos preocupar com esse drama humano, quando tantos outros batem à nossa porta
cotidianamente? Duas respostas saltam de imediato. Primeira resposta, para que
vejamos como a barbárie não faz a menor cerimônia em conviver com o mundo
civilizado. Ou altamente civilizado - e que o diga a jovem Fahma, que precisou
contar ao secretário da Educação aquilo que ela vê acontecer entre as colegas
de classe, num dos melhores sistemas de ensino do mundo. Segunda resposta,
porque a FGM se tornou um problema global.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) calcula em 125 milhões
o número de mulheres e meninas “cortadas”, vivendo em 29 países
majoritariamente, sem falar na dispersão silenciosa pelo planeta. Em sua Recomendação
Geral n.º 14, o Comitê para a Eliminação da Discriminação Contra a Mulher, da
ONU (UN-CEDAW), encabeçado pela jurista brasileira Silvia Pimentel, tem cobrado
compromissos dos governos para a erradicação da prática, ao mesmo tempo em que
propõe iniciativas envolvendo sistemas de saúde, redes de ensino, organizações
da sociedade civil, o mundo acadêmico. Mas o problema existe e persiste,
sobressaindo-se desde já na galeria dos maiores abusos aos direitos humanos
neste século. Aqui, também, cabe decidir: de que lado estaremos? Da barbárie ou
da civilização?
Não pretendo fazer uma defesa da religião, mas essa aberração não é fruto da religião, é o uso da religião para justificar uma violência. Circuncisão feminina não existe, a circuncisão representa a aliança entre o homem e Deus, a mulher não faz parte dessa aliança, é propriedade do homem. A mutilação feminina foi uma "sacada" para que as mulheres façam sexo apenas por obrigação, com o homem que a possui, pois não sentirá vontade de fazer sexo, sentirá apenas vontade de cumprir sua obrigação.
ResponderExcluirAgora veja o ridículo da situação: Deus fez uma aliança com o homem e não com a mulher, mas os homens resolveram fazer a aliança entre a mulher e "deus" para satisfazer suas conveniência, nem Deus nem as mulheres opinaram sobre a questão.
Já no título eu coloco o termo entra aspas e o classifico como eufemismo.
ExcluirQuanto a não ser fruto de uma ou mais religiões e sim do seu "uso" inadequado, toda religião nada mais é que um somatório de "usos inadequados" de uma suposta ligação do homem com deuses. Algumas delas só prestam em determinados pontos, em determinadas épocas e com muitas restrições, exclusivamente pelo seu caráter político-social, como por exemplo a importância dos jesuítas nos primórdios da educação brasileira, como o caráter disciplinador que teve o judaísmo no sentido da união de diversas tribos do Oriente Médio e, sejamos justos, o próprio evangelismo, hoje no Brasil, como tábua de salvação de um povo totalmente abandonado pelo Estado.
Claro que até nestes três casos havia e há grandes interesses execráveis por trás, e por isso eu falei em restrições, apelando até para a a frase maquiavélica "os fins justificam os meios".
O resto é exploração pura e simples.
É sempre agradável quando surge uma divergência em nossas opiniões (pareceres), infelizmente acontece poucas vezes. Eu entendi perfeitamente que você usou a palavra eufemismo no título, mas considerei interessante mostrar um pouco como ele foi utilizado, ou seja, fazendo uma aliança entre a mulher e Deus.
ExcluirSobre religião ser um somatório de usos inadequados, eu faço uma distinção simples: em seu sentido literal, religião seria as práticas da meditação, das preces, e dos rituais, enquanto que o uso da religião é o conjunto de inferências que geram princípios que são usados pela sociedade. Quando usam a religião para formar uma doutrina o uso torna-se inadequado, pois as doutrinas são, invariavelmente, baseadas nos interesses de seus criadores.
A maioria das pessoas, quase a totalidade, tem uma ideia de religião baseada nas grandes religiões atuais, o uso dessas religiões para justificar guerras e outras atrocidades é amplamente conhecido, por isso existe o equívoco de que todas as religiões são iguais nesse sentido.
Nas religiões antigas (extintas) como a dos Aztecas também haviam atrocidades, mas em muitas (ou algumas, dependendo do ponto de vista) comunidades indígenas, a religião não era utilizada para justificar essa ou aquela lei, faziam rituais pedindo proteção de Deus ou deuses antes da guerra, mas não faziam a guerra em nome da religião, isso também é verificado nas culturas africanas antigas e também nas culturas europeias.
Algo muito interessante sobre os Druidas, é que eles eram hierarquicamente superiores ao Rei, não eram apenas sacerdotes, haviam várias classes de Druidas, o responsável pela religião, pela conservação do idioma, pela conservação da cultura, pela medicina e essas coisas. Os Druidas não participava das questões políticas, essa era a função do Rei.
Muitas culturas antigas separavam a religião da política de maneira muito mais eficiente do que fazem as sociedades atuais. No caso dos Celtas a situação mostra uma grande sabedoria, os políticos podem ser substituídos, os sábios não, a política corrompe, a sabedoria não, então deve-se manter os sábios afastados dos políticos.
Podemos não chegar à uma convergência sobre esse tema, mas isso não tem a menor importância, uma pesquisa feita por uma universidade americana, em 2002 (se não me engano), identificou mais de 30 mil interpretações diferentes do cristianismo. Não são mais de 30 mil denominações, são de INTERPRETAÇÕES. E tem muitos que não entendem por que está aumentando o número de ateus.
A tal antropóloga domingueira é uma vergonha e nem merece atenção.
ResponderExcluirÉ um grande erro que gente que vive 500 anos atrás no tempo venha diretamente para o mundo civilizado, não acompanham, é impossível, eles vem para a Europa e continuam a viver dentro das suas cavernas, nao mudam o conceito de vida, já esta provado e aclamado que não se integram, falhou a integracao na Europa,um falhanco gritante.
Nao posso culpar os europeus, nao se pode mudar uma cultura de um dia para o outro o erro é que nao se pode pular séculos de desenvolvimento em uma viagem de 15 horas.
Portugal por exemplo tem um grande problema com os guineenses que são na sua maioria islâmicos e a mutilacao genital das meninas é uma praxe.
Ha organizações , ONGs que trabalham na Africa e Asia onde a pratica é mais comum tentando acabar com violencia contra o corpo das mulheres, mas não é fácil.
O mais horrendo é que as maes e as avos tem um papel grandíssimo neste ato primitivo,violento e simplesmente inaceitavel , são as maes e as avós que cuidam de todo o processo da mutilacao genital.
Essa gente quando vem para a Europa fazem uma viagem no tempo, deixam 500 anos para traz em desenvolvimento, tanto cultural como social.
Não é de admirar que a integração é mesmo um grande e redondo falhanço.
Nao é atoa que o islão avanca com sucesso na Africa e na Asia, existe terreno e muito fértil.
Avança também na Europa, Theresa, só não vê quem não quer; só que hoje vai ser dificil achar um Cid Campeador ou um Charles Martel.
ExcluirAvanca entre os islâmicos que se reproduzem e os filhos nao tem a liberdade para escolher se querem ou nao pertencer ao islão.
ResponderExcluirA situação esta mudando, os partidos de ultra direita estao crescendo, novos partidos também estao nascendo, tanto é que até na pura e democratica Suecia já ha no parlamento um partido da ultra direita, nao violento e os membros são pessoas académicas, nao é um partido que a maioria é ignorante como sempre a esquerda quer mostrar os da direita.
Nao se integram, creio que o fato da Angela Merkel ter admitido, mudou algo.
Penso que um El Cid se a necessidade existir irá aparecer.
Poderemos ver uma figura que eu gosto muitissimo e admiro bastante, a sempre bela Brigitte Bardot, ela luta com um El Cid, ao seu modo, mas luta, ja esteve até presa por dizer a verdade.
As mulheres europeias jamais aceitariam a falta de liberdade, nao, as mulheres sao a nossa garantia.