sábado, 20 de dezembro de 2014

Olavo de Carvalho versus Reinaldo Azevedo e a discórdia sobre Bolsonaro

São duas opiniões de peso com alguns pontos em comum e outros divergentes, sendo que Reinaldo se prende mais às palavras e Olavo aos fatos.

Reinaldo Azevedo: Bolsonassauro

A estupidez disparada pelo deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) não deixa margem a interpretações alternativas. Se ele diz a uma desafeta que não vai estuprá-la porque ela não merece, deve-se concluir o óbvio: segundo ele, algumas mulheres merecem o estupro, em particular aquelas que ele admira. “Ah, ela atacou primeiro!” E daí? Não dá! Eu estou pouco me lixando para o que ele pensa sobre o governo Dilma ou para o combate que dá ao PT e às esquerdas. Nem toda forma de enfrentar essa gente é civilizada. Defendi no meu blog, hospedado na Veja.com, e no programa “Os Pingos nos Is”, da Jovem Pan, que, caso ele não a retire, tenha o mandato cassado. Reitero aqui.

Isso me rendeu o ódio dos seus admiradores (sei como lidar com “haters”), que fizeram uma petição pedindo à “Veja” a minha cabeça, acusando-me ainda de fazer charminho para as esquerdas. Vai ver faço esse charminho ao chamar a Comissão Nacional da Verdade de “farsa” e ao publicar os nomes das vítimas dos terroristas de esquerda (is.gd/6rkxTm). As opiniões de Bolsonaro não são “de direita”; são é grotescamente desinformadas. Há sempre mercado para a estridência oca e meio circense. Essa mistura de Tiririca com vivandeira não atrai a simpatia nem dos militares.

Bolsonaro serve é como um bom espantalho a esquerdistas os mais variados, inclusive do colunismo, que fingem ver ameaça da extrema direita até nos seus próprios exercícios manuais. Sem contar que o deputado ainda acabará fazendo de Maria do Rosário ministra - o que, convenham, caracterizaria um atentado à inteligência e, pois, a um direito humano.


Olavo de Carvalho: Temporada de Caça

Está aberta a temporada de caça ao deputado Jair Bolsonaro. Na verdade, sempre esteve, não sendo essa portanto a razão pela qual volto ao assunto. A razão é que agora os tiros vêm da mais inesperada das direções: a coluna do Reinaldo Azevedo. E vêm com aquela persistência inflexível do atirador que não aceita como troféu senão a completa destruição do alvo ou, na mais branda das hipóteses, a sua definitiva humilhação pública.

Numa de suas últimas postagens, o colunista da Veja firmou sua posição: ou o sr. Bolsonaro pede desculpas à sua colega Maria do Rosário, ou merece ter seu mandato cassado. Cassar o mandato de Maria do Rosário? Nem pensar.

Já disse, e reafirmo, que sou amigo do Reinaldo Azevedo e não deixarei de sê-lo por causa de uma opinião errada, depois de tantas certas e valiosas que ele já publicou. Mas esta de agora é tão errada, tão absurda, tão indefensável, que eu falharia ao meu dever de amizade se não alertasse o colunista para a injustiça que comete e o vexame a que se expõe.

Que a resposta do sr. Bolsonaro à sra. Maria do Rosário foi “uma boçalidade”, como a qualifica Reinaldo Azevedo, é certo e ninguém duvida. Mas o sr. Bolsonaro a pronunciou em resposta, não a “outra boçalidade”, como pretende Azevedo, e sim a uma falsa imputação de crime, que é por sua vez um crime. Reinaldo Azevedo exige que a boçalidade seja punida e o crime fique impune.

Como todo debatedor teimoso que se empenha na defesa do indefensável, Reinaldo se vê forçado a apelar a expedientes argumentativos notavelmente capciosos que, em situações normais, ele desprezaria.

Um deles é proclamar que a resposta do sr. Bolsonaro a Maria do Rosário transforma o estupro em uma “questão de mérito”. Quer dizer, pergunta Reinaldo, que, se Maria do Rosário merecesse, Bolsonaro a estupraria? Isso é deformar as palavras do acusado para lhe imputar uma intenção criminosa. Na verdade, Bolsonaro disse: “Se eu fosse um estuprador...” O restante da frase, portanto, baseia-se na premissa de que ele não o é, e só pode ser compreendido assim. Reinaldo parte da premissa inversa para dar a impressão de que o deputado fez a apologia do estupro. Com isso, ele endossa o insulto lançado pela deputada Maria do Rosário e usa essa premissa caluniosa como prova de si mesma. Raciocinar tão mal não é hábito de Reinaldo Azevedo, mas, como se sabe, o ódio político move montanhas: montanhas de neurônios para o lixo.

Pior ainda: tendo recebido centenas de objeções sensatas e racionais na área de comentários do seu artigo – inclusive as minhas -, ele não responde a nenhuma, mas tenta dar a impressão de que toda a oposição à sua versão dos fatos vem de “seguidores de Bolsonaro”, exemplificados tipicamente nos signatários de uma petição raivosa que exige a demissão do colunista de Veja. Fui ver a petição, e sabem quantos signatários tinha? Sete e não mais de sete (talvez agora tenha oito ou nove). Ao fazer desses sete os representantes da maioria que não pedia cabeça nenhuma, Reinaldo procedeu exatamente como os repórteres pró-petistas que, na massa de dezenas de milhares de manifestantes anti-Dilma, pinçaram cinco ou seis gatos pingados adeptos da “intervenção militar” para criar a impressão de que a manifestação era essencialmente golpista.

4 comentários:

  1. A questão aqui não é concordar com Reinaldo ou com Olavo, a questão é o que Bolsonaro fez e deixou de fazer.

    Primeiro: não foram apenas palavras, foi um pronunciamento público na tribuna do parlamento.

    Segundo: a repercussão foi suficientemente negativa para que o Bolsonaro percebesse a MERDA que fez.

    Terceiro: a retratação deveria ser feita para a sociedade e não para Maria do Rosário.

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    1. OK, Milton. Mas eu acho que Bolsonaro é tremendamente inábil ao se expressar, e isso é passível de punição, no entanto, foram apenas palavras que, sem o "politicamente correto", quiseram significar que ela é feia ou coisa que o valha. Não merece uma trepada, nem consentida.

      Já Rosário afirmou que Bolsonaro é um estuprador, acusação que o coronel, à época deveria ter levado à Justiça, mas preferiu ficar "curtindo", lembrando dela apenas nos momentos que quer aparecer.

      Um erro de Bolsonaro, sem dúvida, mas, embora longe de querer defender esse tipo de atitude, sou mais ele do que qualquer petralha.

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  2. (argento) ... "palavras são palavras, nada mais que palavras" ... algunas opiniões são mais danosas, embora palavras, estupram o bom senso ... dizem, poe aí que toda mulher merece, pelo menos, "umazinha"; porém, toda regra tem exceção, algumas nem mesmo um eestupro merecem.

    ... o "politicamente correto" é um Estuprador ...

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