domingo, 28 de dezembro de 2014

Estado do Rio paga R$ 2 milhões por ano para ex-governadores e ex-primeiras-damas

O Rio paga aposentadoria e pensão a três ex-governadores e seis ex-primeiras-damas. Anualmente, o gasto com esse grupo é de R$ 2 milhões. Entre os beneficiários há casos curiosos. Maria da Conceição dos Santos Araújo é pensionista de Theotonio Araújo Filho, que governou o estado por menos de seis meses: entre setembro de 1946 e fevereiro de 1947. Já Onecy de Barros é viúva de Togo Póvoa de Barros. Ele administrou o Rio entre julho de 1958 e janeiro de 1959. Era presidente da Assembleia Legislativa e assumiu o cargo com a renúncia de Miguel Couto.

A ex-primeira-dama Ismélia Silveira é outra que recebe pensão do governo do Rio. Ela é viúva de Roberto da Silveira, que governou de janeiro de 1959 a fevereiro de 1961. Faleceu no exercício do mandato, aos 37 anos. Entre os ex-mandatários locais, Moreira Franco, Celso Peçanha e Nilo Batista têm direito à aposentadoria mensal de R$ 21,8 mil, o mesmo valor do salário de Luiz Fernando Pezão, o atual ocupante do Palácio Laranjeiras.

Moreira, que é ministro da Secretaria de Aviação Civil, disse, por meio da assessoria, que abriu mão dos proventos do Rio porque ultrapassariam o abate teto nacional, embora, por lei, isso não fosse necessário porque são fontes diferentes de pagamento. O Rio deixou de conceder aposentadorias vitalícias aos ex-governadores, além de pensões, em abril de 2002.

Paraíba é o estado que mais gasta com pagamento das regalias aos seus ex-mandatários e ex-primeiras-damas. Anualmente, o estado destina R$ 4,2 milhões. São seis ex-governadores e oito pensionistas. O senador Cássio Cunha Lima (PSDB), que governou a Paraíba por duas ocasiões e perdeu a eleição passada para Ricardo Coutinho (PSB), requereu seu direito assim que as urnas foram fechadas. E foi atendido pelo rival.

Com o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, à frente apenas de Alagoas, o Maranhão mantém regalias para seus ex-governadores e viúvas que custam, anualmente, R$ 3,8 milhões aos cofres públicos. O IDH é um dado utilizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para analisar a qualidade de vida da população e leva em conta três variáveis: grau de escolaridade, renda e nível de saúde. Ao todo, seis ex-governadores e cinco pensionistas são beneficiados mensalmente. O estado só fica atrás do Mato Grosso, que paga a 12 ex-mandatários e cinco viúvas.

O senador José Sarney (PMDB-AP), que governou o estado no final da década de 60, requereu o benefício assim que deixou o cargo e, segundo a assessoria de imprensa do Maranhão, ganha, mensalmente, R$ 26.589,68. O benefício vem sendo pago desde maio de 1970. Sarney tem o mesmo salário como senador da ativa e mais uma aposentadoria como ex-servidor do Tribunal de Justiça do estado. O valor não foi divulgado.

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB), também ganha mensalmente como ex-governador o mesmo valor de Sarney. Lobão é beneficiário desde maio de 1994. A gestão dele no Maranhão ocorreu entre 1991 e 1994. Somando-se aos rendimentos como ministro, o salário chega a mais de R$ 53 mil.

Seus antecessores recebem até hoje: João Castelo (PSDB) e Epitácio Cafeteira (PTB), João Alberto (PMDB). E até mesmo José Reinaldo (PSB), o desafeto do grupo, que rompeu com Sarney ainda durante o mandato, é mais um a ver os R$ 26.589,68 depositados em sua conta. Reinaldo foi eleito deputado federal este ano.

Com as pensões às viúvas, o Maranhão gasta mensalmente R$ 133 mil. São cinco mulheres que se beneficiam. Enide Moreira Lima Jorge Dino, que foi casada com Antonio Jorge Dino, tem direito desde junho de 1978.

A governadora Roseana Sarney (PMDB), que deixou o cargo para não passar a faixa ao sucessor, Flávio Dino (PCdoB) — embora tenha dito que o afastamento se deu por motivos de Saúde —, já requisitou o benefício. Ela também é funcionária aposentada pelo Senado, onde ganha mais R$ 23.108.

ENQUANTO ISSO... DÉFICIT NA PREVIDÊNCIA
A farra das aposentadorias especiais concedidas aos ex-governadores pressiona ainda mais o déficit dos regimes de previdência estaduais, que deve fechar este ano em R$ 53 bilhões, quase 10% das receitas correntes totais. Em 2013, o rombo foi de R$ 45,8 bilhões. O privilégio deixa evidente as disparidades do sistema: enquanto políticos garantem para o resto da vida um benefício acima de dois dígitos, a maioria dos trabalhadores incluídos no Regime Geral de Previdência Social, no INSS, precisa trabalhar a vida inteira (mais de 30 anos) para receber aposentadoria de R$ 4.390 (teto atual).

Os homens se aposentam depois de 35 anos de contribuição e as mulheres, 30 anos. E, ainda que tenham contribuído para receber o teto do INSS, dificilmente os trabalhadores conseguem receber o máximo. O cálculo é feito com base no fator previdenciário, que leva em conta a expectativa de vida — o que reduz o valor para quem se aposenta mais jovem e penaliza quem começou a trabalhar cedo. As pessoas podem se aposentar ainda por idade: 60 anos (mulher) e 65 anos (homens), mas precisam acumular uma contribuição de 15 anos, no mínimo. O benefício equivale ao salário mínimo.

Para técnicos da consultoria do orçamento da Câmara, a aprovação das aposentadorias especiais é uma “irresponsabilidade”. A estimativa é que o conjunto dos fundos de previdência estaduais alcance um rombo de R$ 72,6 bilhões em 2020 e R$ 520,8 bilhões, em 2030. Os números são do Ministério da Previdência.

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