Reinaldo Azevedo: Sabem que importância tem o acordo entre
Obama e os Irmãos Castro? Nenhuma!
Cuba é um fetiche. Datado, sim, mas ainda um fetiche. Para
esquerdistas e direitistas. Que importância efetiva tem no mundo? Nenhuma! De
que forma pode interferir nos destinos do Planeta ou que peso político tem no
Caribe ou na América Latina? Inferior a zero. Do país, restou a memória de uma
revolução que seduziu esperançosos e incautos e que terminou numa ditadura
feroz, ainda capaz de arreganhar os dentes ao menos aos nativos.
A chamada Crise dos Mísseis, em 1962, reforçou o simbolismo.
Kruschev, o líder soviético, mandou instalar mísseis nucleares em Cuba, em
suposta resposta à decisão americana de instalar esse armamento na Turquia, na
Itália e na Grã-Bretanha. Teve de sair com o rabo entre as pernas. O presidente
Kennedy endureceu o jogo, e o mundo chegou bem perto de uma guerra nuclear. O
líder soviético acabou retirando toda aquela estrovenga na ilha.
Se querem mais informações a respeito, assistam ao magnífico
documentário “Sob a Névoa da Guerra: Onze Lições da Vida de Robert S.
McNamara”, de Errol Morris, lançado em dezembro de 2003. McNamara foi o
secretário de defesa dos EUA entre 1961 e 1968 e conta detalhes impressionantes
daquela crise. Adiante.
Depois de uma troca de prisioneiros, o presidente Barack
Obama decidiu normalizar, no limite do possível, as relações com a Cuba dos
irmãos Castro. Haverá troca de embaixadores, as restrições para o envio de
dinheiro à ilha diminuirão, poderá haver cooperação tecnológica etc. Ainda não
é o fim do embargo, o que só pode ser decidido pelo Congresso dos EUA. Atenção:
a divisão, nesse caso, não se dá entre democratas e republicanos. Nos dois
partidos, há ferozes críticos dessa aproximação.
Dificilmente o embargo chegará ao fim enquanto Cuba não
permitir eleições livres e enquanto o país funcionar em regime de partido
único. O embargo, como já deixei claro aqui em outro texto, nada tem a ver com
a penúria em que vivem os cubanos, mas fornece munição ideológica a Fidel e
Raúl Castro. Se caísse amanhã, o país seguiria sendo uma fazendola de ditadores
jecas.
O alarido que se faz por aí em razão desse acordo, mediado
pelo papa Francisco, remete a um mundo que já não há, ainda que Cuba tenha
deixado alguns maus resquícios na consciência latino-americana. Regimes
excrescentes como o venezuelano, o equatoriano, o boliviano e o nicaraguense
são filhos diletos do castrismo. São ditaduras mitigadas, mas ditaduras ainda
assim.
Não deixa de ser curioso que o governo americano busque a
aproximação com Cuba quando impõe sanções à Venezuela, que, bem, ainda não é um
regime cubano, mas sonha ser. Obama logra um pequeno êxito, em meio a uma
notável coleção de desastres em política externa, e os Castros conseguem uma
folguinha e dão uma aparência mais civilizada à ditadura.
Só para constar: o regime comunista de Cuba, ainda em
vigência, é um dos mais criminosos do planeta. Estimam-se em 100 mil os mortos
de sua “revolução” — 17 mil fuzilados, e os demais, creiam, afogados, tentando
deixar o país. Doze milhões de cubanos moram na ilha, mas os exilados passam de
dois milhões. O regime castrista criou o primeiro campo de concentração da
América Latina. O país ainda prende pessoas por delito de opinião e conserva
presos políticos em suas masmorras.
Reitero: não tem mais importância nenhuma, mas restou, para
os esquerdistas nada preocupados com os direitos humanos, como símbolo da luta
anti-imperialista. Para os anticomunistas, como símbolo do horror de que são
capazes as esquerdas quando chegam ao poder.
Assim, meus caros, deixo claro: sabem qual é o impacto que
tem no mundo o acordo costurado entre Obama e os Irmãos Castro? Inferior a
zero. Mas rende notícia que é uma barbaridade.
Só para não deixar passar: quem mantém relações especiais
com Cuba, estes sim, são os petistas, aqui do Brasil. Afinal, a ilha recebe
quase R$ 1 bilhão por mês em razão do programa “Mais Médicos”. Todo mundo sabe
que o dinheiro sai. Se, depois, ele volta, não há como saber. Ditaduras não
gostam de fornecer informações. E, não custa lembrar, o Brasil financiou a
construção do porto de Mariel com verbas do BNDES. Quanto? A informação é
considerada sigilosa.
Cuba não tem importância, mas pode servir a propósitos nem
sempre transparentes dos países amigos.
Eu considero o Obama um presidente ruim, mas os pseudos intelectuais brasileiros, alinhados com o Olavo de Carvalho, criaram uma obsessão contra o Obama. A aproximação diplomática entre EUA e Cuba é mais relevante do que imaginam os desafetos do Obama, pois começa a desmanchar o discurso do Grande Inimigo.
ResponderExcluirAlém do mais é um tiro no pé do Foro de São Paulo, enquanto Venezuela, Bolívia e Argentina (e até mesmo o Brasil) idolatram Cuba e demonizam os EUA, Cuba se posiciona na direção contrária.
Mas o mais interessante é que a iniciativa de promover a reaproximação diplomática não foi do Obama, foi do governo canadense e do Papa. Curiosamente nenhum dos dois está sendo criticado.
Vou responder com um comentário do Olavo (não é a minha opinião):
ExcluirSe abrir relações diplomáticas e comerciais com uma ditadura comunista pudesse fomentar a liberdade, a China seria hoje uma democracia. Obama repete o erro criminoso de Richard Nixon, adquirindo para os EUA "o melhor inimigo que o dinheiro pode comprar". Em poucos anos, Cuba será uma potência econômica e militar invejável, sem democratizar-se no mais mínimo que seja – excetuada, é claro, a hipótese de uma revolução popular, que é exatamente o que o governo americano tenta evitar mediante a tábua de salvação atirada in extremis a uma ditadura moribunda.
Além do Brasil e das Farc, o Foro de São Paulo terá agora mais um patrono bilionário: os EUA, por intermediação de Cuba.
Os políticos conservadores e os refugiados cubanos em Miami podem se esforçar para dar outro rumo ao encadeamento das causas e efeitos, mas isso será como colocar rédeas num dragão.
Ao apoiar a iniciativa do governo Obama, o Papa Francisco prova mais uma vez sua completa falta de discernimento político.
Primeiro: o Papa não apoiou a iniciativa, ele articulou a iniciativa.
ExcluirSegundo: o governo do Canadá, país cuja rainha é a Sra. Elisabeth II, articulou a iniciativa juntamente com o Papa. Não sei se o Canadá apoiou o Papa ou se foi o Papa quem apoiou o Canadá. Seja como for, o governo do Canadá é tão sen discernimento político quanto o Papa (segundo o Olavo).
Terceiro: O restabelecimento foi apenas diplomático e não comercial, Portanto não qualquer forma de patrocinar o Foro de São Paulo por intermediação de Cuba.
Quarto: As relações comerciais entre Cuba e EUA nunca deixaram de existir, o que existe é a exigência de pagamento antecipado e a proibição de benefícios que outros países possuem.
Quinto: O embargo (não existe bloqueio) só pode ser alterado pelo congresso,
Sexto: Acreditar que Cuba possa se tornar uma potência econômica igual à China é o mesmo que acreditar na fada dos dentes, não existe população suficiente, nem território suficiente para ser uma potência.
Sétimo: Se a relação diplomática entre Cuba e EUA não tem a obrigação de resultar na redemocratização de Cuba, mas com certa a ausência de relação diplomática entre os países torna a redemocratização muito mais difícil.
Desculpe, Milton, mas você já viu alguém articular alguma tão importente coisa sem apoiá-la?
ExcluirDesculpe Ricardo, mas o Papa não poderia apoiar a iniciativa do Obama, pois a iniciativa não foi dele, entendeu?
ExcluirUé, então me explica: se o papa não apoiou, por que articulou? Contra a sua vontade? Alguém o obrigou?
ExcluirCaramba, tá difícil de entender a diferença entre a iniciativa e a conclusão? Iniciativa fica no começo do evento, enquanto que a conclusão fica no outro extremo. Tudo indica que a iniciativa partiu do governo canadense e foi apoiada pelo Papa. O Obama aceitou a proposta, não foi ele quem fez a proposta.
ExcluirNão houve uma iniciativa do Obama, nem uma iniciativa do Raúl Castro, houve uma articulação do Canadá, com apoio do Papa, que resultou no restabelecimento das relações diplomáticas.
Quem disse que o Papa não apoiou a atitude do Obama?
PS: terminei de recuperar meu tormento, digo computador, há poucos minutos.
Você foi textual: "o Papa NÃO apoiou a iniciativa". Agora entendi que queria dizer que a iniciativa não foi do Papa. O erro não foi meu.
ExcluirEu disse que o Papa NÃO apoiou a iniciativa do OBAMA, porque a iniciativa não foi dele. O Papa APOIOU A INICIATIVA do Canadá (ou o contrário). Ambos apoiaram a DECISÃO do Obama.Realmente não ficou claro o que eu estava dizendo.
ExcluirMas tem algo mais que deve ser considerado. Quais foram os países, instituições ou lideranças políticas, incluindo o Partido Republicano, que se manifestaram contrários ao restabelecimento da diplomacia entre os dois países? Com exceção do "formadores de opinião" já citados, é claro.
Eu também gostaria de saber os "formadores de opinião" que são contra as relações diplomática entre Cuba e EUA, por Cuba ser uma ditadura, também são contra as relações diplomáticas entre Arábia Saudita e EUA, ou será que a Arábia Saudita não é uma ditadura?