Deu no Globo
Auditores e advogados do Tribunal de Contas da União, da
Receita Federal e do Banco Central, que analisaram para o Congresso a
documentação dos negócios da Petrobras com a empresa holandesa SBM, comprovaram
que a diretoria da estatal subscreveu um contrato em branco para a construção
do navio-plataforma P-57. Isso aconteceu na sexta-feira 1º de janeiro de 2008.
O contrato de construção da P-57 (nº 0801.0000032.07.2), que
chegou à CPMI, não contém “informação expressa sobre seu valor”, relataram os
técnicos, por escrito, à Comissão Parlamentar de Inquérito.
Somente 207 dias depois - ou seja, passados sete meses - é
que “esses valores foram ‘preenchidos’”, registraram os assessores da CPMI.
O “Aditivo nº 1” foi assinado na terça-feira 26 de agosto de
2008, mas ainda sem especificar os valores completos dos serviços nacionais e
estrangeiros.
A plataforma P-57 foi vendida por US$ 1,2 bilhão à
Petrobras. Por esse negócio, a SBM pagou US$ 36,3 milhões em propinas - o maior
valor entre seus casos de corrupção no Brasil, como admitiu, em acordo de
leniência com a promotoria da Holanda e o Departamento de Justiça dos EUA.
A empresa holandesa confessou ter distribuído US$ 102,2
milhões em subornos a dirigentes da Petrobras, entre 2005 e 2011. Assim, obteve
13 contratos de fornecimento de sistemas e serviços à estatal. Foram suas
operações mais relevantes no país, durante os últimos cinco anos da
administração Lula e no primeiro ano do governo Dilma Rousseff.
TUDO COMPROVADO
As propinas foram “para funcionários do governo brasileiro”,
constataram a Receita e o Ministério Público da Holanda. Os pagamentos, segundo
eles, fluíram a partir de empresas criadas pelo agente da SBM no Rio, Julio
Faerman, no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas. Faerman controlava
três (Jandell Investiments Ltd., Journey Advisors Co. Ltd. e Bien Faire Inc.) e
partilhava outra (Hades Production Inc.) com o sócio carioca Luis Eduardo
Barbosa da Silva.
Quem assinou o contrato da P-57 foi Pedro José Barusco
Filho, que, na época, era gerente executivo da Diretoria de Engenharia e
Serviços, comandada por Renato de Souza Duque.
No mês passado, Barusco se apresentou à procuradoria
federal. Entregou arquivos, contas bancárias e se comprometeu a fazer uma
confissão completa em troca da atenuação de penalidades. Informou possuir US$
97 milhões guardados no exterior, dos quais US$ 20 milhões na Suíça já estão
bloqueados. Duque foi preso e depois liberado. Agora, enfrenta acusações de
corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de influência com políticos do Partido
dos Trabalhadores. Ele nega tudo.
A comissão parlamentar de inquérito identificou outros sete
funcionários da Petrobras envolvidos no processo de compra da P-57. Eles são:
Márcio Félix Carvalho de Bezerra; Luiz Robério Silva Ramos; Cornelius
Franciscus Jozef Looman; Samir Passos Awad; Roberto Moro; José Luiz Marcusso e
Osvaldo Kawakami.
PROPAGANDA ELEITORAL
Um ano depois da assinatura do contrato, a P-57 entrou no
projeto de propaganda eleitoral do governo. Foi em outubro de 2009, quando Lula
preparava Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, para disputar a eleição
presidencial de 2010.
O então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, que
é filiado ao PT, formatou um calendário de eventos. Escolheu o período entre o
primeiro e o segundo turnos, em outubro de 2010, para o “batismo” da
plataforma, sob a justificativa do 57º aniversário da estatal.
Era preciso, no entanto, garantir a entrega antecipada do
equipamento. O diretor Duque e seu gerente Barusco recorreram ao agente da SBM
no Rio. Faerman informou ser possível, mas a custos extras. Seguiu-se uma
negociação com os funcionários Mario Nigri Klein, Ricardo Amador Serro, Antonio
Francisco Fernandes Filho e Carlos José do Nascimento Travassos.
Em abril de 2010, Duque aprovou a despesa extraordinária
pela antecipação da entrega da plataforma, apoiado por Barusco e outro gerente,
José Antônio de Figueiredo.
Lula comandou o “batismo” da plataforma em comício em Angra
dos Reis (RJ), na quinta-feira 7 de outubro. A antecipação da entrega para o
evento, em meio à disputa presidencial, custou à Petrobras um extra de US$ 25
milhões. A SBM enviou US$ 750 mil líquidos para empresas de Faerman nas Ilhas
Virgens Britânicas.
Meu caro Ricardo, falta descobrir como contabilizaram o referido contrato. Meu primeiro emprego foi em escritório de contabilidade (com 14 anos), desenvolvi sistema de contabilidade para computadores e prestei consultoria e assessoria por uns vinte anos. Quanto li a notícia (antes de você publicar no TMU), comentei com minha esposa exatamente isso: como se contabiliza um contrato sem valor especificado?
ResponderExcluirOs meios de comunicação estão noticiando a corrupção na Petrobras, mas não estão dando a devida atenção para um problema que pode fechar a empresa, que é justamente a contabilidade. A questão é o seguinte, não há como fazer balanço da empresa, pois ninguém sabe o valor VERDADEIRO do patrimônio.
Apenas para dar um pequeno exemplo, a Petrobras está tecnicamente impossibilitada de contrair qualquer empréstimo no sistema financeiro (politicamente é outra história), pois por via de regra é necessário apresentar balanço do patrimônio, que serviria como garantia do empréstimo. Você conhece algum banco, além do BNDS, que arriscaria emprestar dinheiro com base no último balanço? Lembrando que o último balanço deveria ter sido apresentado há um mês e ninguém aceitou assinar o balanço.
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