Estadão
Com a aprovação pelo Congresso de um projeto que muda meta
de superávit primário, esta semana, o governo Dilma Rousseff deixa de respeitar
o limite fixo de R$ 67 bilhões para o abatimento das desonerações tributárias e
dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Com isso, o governo poderia abater da meta todo o volume de
investimentos do PAC e de desonerações que for feito até o final deste ano. Na
prática, portanto, o projeto elimina a meta fiscal.
O que é superávit primário?
É a diferença entre receitas e despesas, exceto gastos com
juros. Simplificando: é aquilo que o governo consegue economizar para pagar sua
dívida.
Para que serve o superávit?
Para pagar os juros da dívida pública e evitar seu
crescimento.
Por que é importante?
É um indicador para avaliar se o governo é bom ou mau
pagador da dívida (que existe na forma de títulos públicos). Se é bom pagador,
os credores nacionais e internacionais concordam em emprestar (na forma de
investimentos), recebendo juros mais baixos. Se é mau pagador, o juro fica mais
caro.
O que é a meta de superávit primário?
A cada ano, o governo fixa um objetivo de economia para
reduzir ou pelo menos estabilizar a dívida pública. Essa meta faz parte da Lei
de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Neste ano, ela é de R$ 167,4 bilhões para o
setor público (União, Estados e municípios), sendo R$ 116,1 bilhões para o
governo central, que inclui apenas resultado de Tesouro Nacional, Banco Central
e Previdência.
O que são os abatimentos?
São itens de despesa que podem ser descontados do cálculo do
superávit primário, o que equivale a reduzir a meta. Na LDO de 2014, somavam R$
67 bilhões e eram compostos por gastos com o PAC (investimentos em
infraestrutura) e as desonerações tributárias. Na prática, o resultado poderia
ficar até R$ 67 bilhões abaixo da meta, que ainda assim estaria formalmente
cumprida.
O que é a mudança que o governo anunciou?
Houve um aumento nos abatimentos e a eliminação do limite de
R$ 67 bilhões. Assim, tudo o que for gasto no PAC e tudo o que houver de
desonerações tributárias até o fim do ano poderá ser descontado da meta. Pelos
cálculos do economista Felipe Salto, da consultoria Tendências, são cerca de R$
165 bilhões. Como os abatimentos são maiores do que a meta, será possível
cumpri-la mesmo se o resultado das contas públicas fechar no vermelho (o
chamado déficit).
Por que o governo fez isso?
Porque a meta não seria cumprida. De janeiro a setembro, o
saldo acumulado nas contas do setor público está negativo em R$ 25,5 bilhões. O
Ministério do Planejamento diz que a crise mundial enfraqueceu o crescimento
econômico do País e, consequentemente, as receitas ficaram abaixo do esperado.
Isso resolve o problema?
Não necessariamente. Com o descumprimento da
meta fiscal, além do aumento da dívida pública, o prejuízo é eminentemente
político, com a obrigação de as autoridades terem de explicar as causas do mau
desempenho. Mas há interpretações mais estritas pelas quais seria possível
enquadrar as autoridades do governo federal em crime de responsabilidade, já
que a Lei de Diretrizes Orçamentárias teria sido descumprida.
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