quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Tem dia que parece que é de noite

Como dizia um conhecido meu, “tem dia que parece que é de noite”. Hoje foi um deles.

Assim que a chuva deu uma brecha, saí para dar uma espairecida e comprar três coisas no supermercado: cerveja, cerveja e cerveja. Chegando lá, dei de cara com filas descomunais nos raros caixas abertos - a metade dos funcionários não tinha ido trabalhar por causa do temporal da madrugada que deixou várias partes do Rio de Dezembro ilhadas. Como a cerveja é essencial para a minha subsistência, resolvi entrar e encarar as filas do que eles chamam de “caixa rápido”, que atende só a quem compra menos de 15 artigos.

Não é que assim que entrei senti uma mão apalpando minha bunda, mais precisamente a bochecha direita, onde fica o bolso que guardo minha carteira? De sobressalto, virei e dei de cara com um exemplar de blatta ocidentalis, vulgo cucaracha, uma espécie de inseto maltrapilho que vem dos Andes, trazendo cocaína em suas asas para polinizar os narizes dos idiotas da zona sul do Rio.

- Qualé? Tá pensando o que da vida? - esbravejei, segurando sua mão boba.

- Calma tchio, fuê sin querer... - disse o cucaracha, num portunhol pastoso de quem fumou um belo baseado.

- Calma é o cacete! Tio é o escambau! E sem querer vai ser a porrada que tu vai levar nas fuças se não sumir daqui! - disse eu, delicadamente, como é meu feitio.

Larguei o cara e rumei para o fundo do supermercado, aonde normalmente repousam as cervejas à minha espera. Quando me abaixei para pegar um pacote delas, sinto, de novo, uma mão na bunda. E dessa vez não prestou. Segurei o braço do cucaracha, que fedia mais que lata de lixo, torci até as costas e, com a outra mão agarrei sua cabeleira ensebada e assim, com ele mais ou menos imobilizado, cruzei o supermercado de volta. Claro que meu “trabalho” foi facilitado pelo estado calamitoso do cara, devido ao que havia fumado ou cheirado, sei lá.

Ao chegar na entrada, sob os olhares espantados de todos, entreguei a “encomenda” ao segurança, explicando os acontecidos. Na volta, duas senhoras, ainda espantadas com meu “feito”, me disseram que o fedido também tinha tentado mexer nas bolsas delas. E eu, já pelos gorgomilos, perguntei:

- E o que vocês fizeram? Nada, né? - E, sem esperar resposta, emendei - É por isso que esses caras se criam, vocês têm medo até da própria sombra!

Bom, peguei as cervejas, fui para a fila e quis o destino que na minha frente estivessem duas mulheres totalmente sem noção das coisas, além de mais umas dez pessoas mais à frente. Ao chegar ao caixa, a primeira delas bota pachorrentamente as compras no balcão, fica olhando a funcionária fazer as contas e, só depois de ouvir o total a ser pago, é que a dita cuja abre a bolsa, escarafuncha a bolsa, tira uma bolsinha da bolsa, abre a bolsinha, escarafuncha, cata o cartão de crédito e entrega à caixa. Feito o crédito, em vez de desentupir logo a passagem, a mulher, estática, faz toda a operação inversa. Quiuspariu!

Com a segunda mulher, imediatamente à minha frente, foi ainda pior. Na hora de pagar, ela me tira um saco de moedas de cinco e dez centavos e despeja no balcão para pagar vinte e poucos reais. Não me contive e perguntei se ela não tinha dinheiro mais graúdo, para facilitar, já que as filas estavam enormes e a contagem daquela moedaria toda iria prejudicar a todas. Ela me olhou de alto a baixo com desdém e, sem dar uma palavra, continuou a contar as moedas.

Paciência, pensei eu, bufando com meus botões. Essa eu não devia torcer o braço...

Paguei e saí, com dois pacotes, um em cada mão. Como estivesse chovendo um pouco, fui por baixo das marquises, distraído, ainda pensando nos cabelos do cucaracha e em lavar minhas mãos com álcool quando chegasse em casa, e recebo uma cacetada de um guarda-chuva na cabeça que me derruba no chão os óculos esquecidos sobre a cabeça na hora de pagar o mercado. Tinha sido uma dondoca de cabelo armado, vestida com uma malha de ginástica andando rápido e de guarda-chuva aberto sob a marquise, que nem sequer virou para trás para se desculpar. Quando eu estava botando os pacotes no chão para procurar meus óculos sem aro, praticamente invisíveis sobre a calçada, ouço um “crec”... E lá se foram os óculos sob os pés de uma menina que passava e também não os viu.

Depois dessa, só procurei chegar em casa são e salvo, atravessando as ruas nos sinais e com muito cuidado.

Cheguei e constatei: tem dia que parece que é de noite...

9 comentários:

  1. Credo!!! ahahahahahahhahahah

    O elevador estava funcionando???? ahahahahahha

    ResponderExcluir
  2. Nao é possivel comprar cerveja online?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É, mas como eu precisava esticar as pernas por causa de uma dor ciática dos infernos, resolvi me aventurar.

      Excluir
  3. Foi uma bela "espairecida".

    ResponderExcluir
  4. Fique contente, nao resmungue, o apalpo foi na bunda, poderia ter sido pior ahahahahahhahah

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Estou até agora sem entender. Eu acho que o cucaracha queria mesmo é me comer, já que nem deu bola para a minha primeira reação.

      Castrem os cucarachas!

      Excluir
  5. O Ricardo esta despertando paixoes ahahahahahahhaha

    É o verao, tudo sobe e tudo que sobe desce ahahahahhaha

    ResponderExcluir