Como dizia um conhecido meu, “tem dia que parece que é de
noite”. Hoje foi um deles.
Assim que a chuva deu uma brecha, saí para dar uma
espairecida e comprar três coisas no supermercado: cerveja, cerveja e cerveja.
Chegando lá, dei de cara com filas descomunais nos raros caixas abertos - a metade
dos funcionários não tinha ido trabalhar por causa do temporal da madrugada que
deixou várias partes do Rio de Dezembro ilhadas. Como a cerveja é essencial
para a minha subsistência, resolvi entrar e encarar as filas do que eles chamam
de “caixa rápido”, que atende só a quem compra menos de 15 artigos.
Não é que assim que entrei senti uma mão apalpando minha
bunda, mais precisamente a bochecha direita, onde fica o bolso que guardo minha
carteira? De sobressalto, virei e dei de cara com um exemplar de blatta
ocidentalis, vulgo cucaracha, uma espécie de inseto maltrapilho que vem dos
Andes, trazendo cocaína em suas asas para polinizar os narizes dos idiotas da
zona sul do Rio.
- Qualé? Tá pensando o que da vida? - esbravejei, segurando
sua mão boba.
- Calma tchio, fuê sin querer... - disse o cucaracha, num
portunhol pastoso de quem fumou um belo baseado.
- Calma é o cacete! Tio é o escambau! E sem querer vai ser a
porrada que tu vai levar nas fuças se não sumir daqui! - disse eu,
delicadamente, como é meu feitio.
Larguei o cara e rumei para o fundo do supermercado, aonde
normalmente repousam as cervejas à minha espera. Quando me abaixei para pegar
um pacote delas, sinto, de novo, uma mão na bunda. E dessa vez não prestou.
Segurei o braço do cucaracha, que fedia mais que lata de lixo, torci até as
costas e, com a outra mão agarrei sua cabeleira ensebada e assim, com ele mais
ou menos imobilizado, cruzei o supermercado de volta. Claro que meu “trabalho”
foi facilitado pelo estado calamitoso do cara, devido ao que havia fumado ou
cheirado, sei lá.
Ao chegar na entrada, sob os olhares espantados de todos, entreguei
a “encomenda” ao segurança, explicando os acontecidos. Na volta, duas senhoras,
ainda espantadas com meu “feito”, me disseram que o fedido também tinha tentado
mexer nas bolsas delas. E eu, já pelos gorgomilos, perguntei:
- E o que vocês fizeram? Nada, né? - E, sem esperar
resposta, emendei - É por isso que esses caras se criam, vocês têm medo até da
própria sombra!
Bom, peguei as cervejas, fui para a fila e quis o destino
que na minha frente estivessem duas mulheres totalmente sem noção das coisas,
além de mais umas dez pessoas mais à frente. Ao chegar ao caixa, a primeira
delas bota pachorrentamente as compras no balcão, fica olhando a funcionária
fazer as contas e, só depois de ouvir o total a ser pago, é que a dita cuja
abre a bolsa, escarafuncha a bolsa, tira uma bolsinha da bolsa, abre a
bolsinha, escarafuncha, cata o cartão de crédito e entrega à caixa. Feito o
crédito, em vez de desentupir logo a passagem, a mulher, estática, faz toda a
operação inversa. Quiuspariu!
Com a segunda mulher, imediatamente à minha frente, foi ainda
pior. Na hora de pagar, ela me tira um saco de moedas de cinco e dez centavos e
despeja no balcão para pagar vinte e poucos reais. Não me contive e perguntei
se ela não tinha dinheiro mais graúdo, para facilitar, já que as filas estavam
enormes e a contagem daquela moedaria toda iria prejudicar a todas. Ela me
olhou de alto a baixo com desdém e, sem dar uma palavra, continuou a contar as
moedas.
Paciência, pensei eu, bufando com meus botões. Essa eu não devia
torcer o braço...
Paguei e saí, com dois pacotes, um em cada mão. Como
estivesse chovendo um pouco, fui por baixo das marquises, distraído, ainda
pensando nos cabelos do cucaracha e em lavar minhas mãos com álcool quando
chegasse em casa, e recebo uma cacetada de um guarda-chuva na cabeça que me
derruba no chão os óculos esquecidos sobre a cabeça na hora de pagar o mercado.
Tinha sido uma dondoca de cabelo armado, vestida com uma malha de ginástica
andando rápido e de guarda-chuva aberto sob a marquise, que nem sequer virou
para trás para se desculpar. Quando eu estava botando os pacotes no chão para
procurar meus óculos sem aro, praticamente invisíveis sobre a calçada, ouço um “crec”...
E lá se foram os óculos sob os pés de uma menina que passava e também não os
viu.
Depois dessa, só procurei chegar em casa são e salvo,
atravessando as ruas nos sinais e com muito cuidado.
Cheguei e constatei: tem dia que parece que é de noite...
Credo!!! ahahahahahahhahahah
ResponderExcluirO elevador estava funcionando???? ahahahahahha
Não, mas o apartamento está em obras... É pior ainda!
ExcluirNao é possivel comprar cerveja online?
ResponderExcluirÉ, mas como eu precisava esticar as pernas por causa de uma dor ciática dos infernos, resolvi me aventurar.
ExcluirFoi uma bela "espairecida".
ResponderExcluirpior que isso só dois disso...
ExcluirFique contente, nao resmungue, o apalpo foi na bunda, poderia ter sido pior ahahahahahhahah
ResponderExcluirEstou até agora sem entender. Eu acho que o cucaracha queria mesmo é me comer, já que nem deu bola para a minha primeira reação.
ExcluirCastrem os cucarachas!
O Ricardo esta despertando paixoes ahahahahahahhaha
ResponderExcluirÉ o verao, tudo sobe e tudo que sobe desce ahahahahhaha