Leiam, se conseguirem, o artigo do rapaz. Comento embaixo.
No julgamento que levou a Portuguesa ao rebaixamento o
primeiro prevaleceu sobre o segundo: foi legal, porém injusto
Nessa sexta-feira, o STJD dará sua decisão definitiva sobre
o caso das escalações ilegais de jogadores da Portuguesa e do Flamengo, na
derradeira rodada do “brasileirão”. Nos últimos dias surgiram fatores novos,
que podem mudar a decisão inicial. Quero comentar aqui, entretanto, o primeiro
julgamento, cujo veredito — é o que pretendo mostrar — foi legal, porém injusto.
O rebaixamento da Portuguesa à série B, junto à manutenção do Fluminense na
série A, foi, na melhor das hipóteses, fruto de um lamentável equívoco quanto
ao que significam o direito e a justiça, qual a relação entre eles, e qual o
papel de um juiz.
Direito e justiça são duas coisas fundamentalmente
diferentes. O direito é universal e abstrato. A justiça é singular e concreta.
Para que se exerça a justiça, é necessária essa instância generalizante do
direito, manifesta sob a forma de rígidas leis, sem as quais a justiça corre o
risco do arbítrio. Mas, por outro lado, para que se faça justiça é também
necessário submeter os princípios gerais do direito e das leis aos casos
singulares, com toda a sua complexidade. Por mais que as leis sejam detalhadas,
elas nunca poderão conter, em si, a singularidade dos casos particulares, pois
o singular é infinito (um tal livro de leis seria um borgiano volume contendo a
análise combinatória de todas as possibilidades do universo). Por essa razão o
direito — isto é, a lei — nunca pode conter, em si, a justiça. Em outras
palavras, o mero cumprimento da lei não significa realização da justiça.
O sentido de justiça é basicamente formado pelas ideias de
conformidade e equidade. A etimologia — do latim “justitia” — encerra os
significados de “exatidão”, “justeza”, “equidade”. Fazer justiça é equiparar
dois acontecimentos diferentes. Mas, atenção, diferentemente do que consigna o
verbete no dicionário (no “Houaiss”), justiça não é a “conformidade dos fatos
com o direito”, mas a conformidade de um fato com outro fato, mediada pelo
direito. Justiça é comensuração de acontecimentos. O direito estabelece as
diretrizes gerais para esse cálculo, mas só quem pode atualizar a matemática
fina requerida por essa comparação entre acontecimentos diferentes é a figura
do juiz. Sei que estou demasiado abstrato; voltemos ao particular.
A Portuguesa e o Flamengo escalaram ilegalmente um jogador,
na última rodada, num jogo que, para eles, não valia quase nada (no caso da
Portuguesa, seu adversário disputava ainda a ida à Libertadores). O tribunal,
aplicando a lei, puniu os clubes com quatro pontos, em consequência do quê a
Portuguesa foi rebaixada. Ou seja, uma infração ao regulamento cuja
consequência era quase NADA foi punida com TUDO. Uma operação de comensuração
cujo resultado é equiparar o nada e o tudo pode ser conforme à lei — mas é
profundamente desconforme à justiça.
Diferentemente do que disseram alguns de seus participantes,
o julgamento não fez prevalecer a “lei sobre a moral”, ou a “razão sobre a
emoção”; fez sim prevalecer o direito sobre a justiça. Mas o direito, como
mostrei, não é por si justo. O direito está a serviço da justiça. Ao contrário,
os juízes do caso estabeleceram que o sentido último do processo é o direito
(na verdade um meio) e não a justiça (que é o fim). Os juízes recusaram-se a
julgar, logo recusaram-se a procurar a justiça. Não foram dignos da função que
exercem. Mauro Cezar Pereira tem razão em dizer que, para agir assim, eles são
dispensáveis.
É verdade que, se tivessem julgado o caso, e se decidissem
por uma punição mais leve, que não acarretaria o rebaixamento, poderiam ferir o
direito, e isso também não seria justo. Mas esse cálculo deveria ter sido posto
em aguda discussão. Definir e tensionar o direito e a justiça; pesar, avaliar,
comparar o evento e a punição; atravessar a aporia, e finalmente decidir. É
esse o trabalho de um juiz. Ele deve estar de antemão ciente da natureza
impossível da justiça — e enfrentá-la. Por que a justiça é impossível? Porque dois
eventos singulares (infrações e punições) nunca serão rigorosamente iguais.
Eventos são fenômenos tão complexos que não há justeza (como se diz de uma
calça que nos serve perfeitamente) na sua equiparação. A justiça é a matemática
impura dos eventos heterogêneos. Ela exige, como escreveu Derrida, “que se
calcule o incalculável”. Um homem rouba um supermercado. O que fazer?
Cortar-lhe a mão? O princípio do talião é apenas a tentativa de estabelecer uma
matemática pura num campo — o da realidade — que só admite um cálculo inexato,
uma matemática impura. Portanto é uma aproximação infinita a justiça. O
rebaixamento da Portuguesa e a permanência do Fluminense na série A
distanciaram-se infinitamente dela.
O aspirante a filósofo e esquerdopata Francisco Bosco, em seu besteirol semanal do Globo, hoje resolveu fazer as
vezes de jurista e fez uma barafunda danada tentando explicar a diferença entre
Justiça e Direito, para fazer valer seu ponto de vista contra o rebaixamento da
Portuguesa usando como único argumento o fato que o jogo não valia QUASE nada.
Pois é, quase é uma das palavras mais estranhas da nossa
língua. Segundo os léxicos ele é um advérbio que significa muito pouco, por um
triz, muito perto. O Houaiss cita como exemplos: “falou-lhe quase encostado ao
ouvido” ou “a capelinha antiga está quase arruinada”, que exprimem um “quase”
diminuto. Mas não é bem assim que a banda toca. Frequentemente ele indica
quantidades enormes, distancias insuperáveis e modos inimagináveis. Senão
vejamos:
Se eu digo “fiz cinco pontos, quase ganhei a megasena”, este
“quase” representa uma quantia de alguns milhões, que é a diferença do prêmio
pago pela sena para o da quina. Essa diferença pode exprimir muito pouco para o
Bill Gates, mas para a maioria dos mortais é dinheiro a dar com o pau.
Falando em pau, todo cuidado é pouco ao falar “a Rogéria é
quase uma mulher”, principalmente se estiver sozinho com ela em algum
reservado. O Agildo Ribeiro conta que na época em que se apresentava com
Rogéria em um show de teatro, ambos dividiam um mesmo camarim. Uma bela noite,
Rogéria começou a se despir e Agildo - que devia estar pensando também que ela
era quase uma mulher, observava, quando de repente ela tirou a calcinha e lá
se foi o “quase” perna abaixo. O tamanho do “astolfo” beirava o descomunal,
quase cabeceando o joelho, o que deixou Agildo sem fala e sem graça, se é que
isso é possível. O “quase”, nesse caso, pode parecer pequeno, uns 30 cm, se
considerado isoladamente, mas, se comparado com os demais “astolfos” a
diferença é enorme.
Além de tudo o QUASE do Francisco é mentira, pois se ele
mesmo diz que “no caso da Portuguesa, seu adversário [o Grêmio] disputava ainda
a ida à Libertadores” e omite o fato que própria Lusa ainda tinha chances,
embora remotas, de ser rebaixada, é lógico que o jogo era importante sim!
Portanto, de nada adianta essa falsa exibição cultura e
inteligência, se ele partiu de uma premissa mentirosa. De mais a mais, se os
princípios gerais derivados dos valores que formam a ética de um determinado
grupo e que antecedem as leis, não exprimem necessariamente conformidade com a
realidade e sim com o seu ideal, a Justiça tem que ser a representante das leis
e do Direito positivo e legislado, do contrário, agindo como um instrumento que
atende a anseios de momento, sendo oportunista, demagógica e “politicamente
correta”, ela não se justifica como poder.
É tanta bobagem que eu QUASE desisti de comentar. O Fluminense quase foi rebaixado, mas a aplicação do regulamento evitou o rebaixamento. A Portuguesa quase escapou do rebaixamento, mas escalou um jogador indevidamente num jogo que valia quase nada e acabou rebaixada. Tudo isso seria evitado se a Portuguesa QUASE tivesse escalado o jogar indevidamente, portanto o QUASE foi ultrapassado e rebaixamento é inevitável.
ResponderExcluirRealize Carolina... o sujeito chegou na emergência com fratura exposta e o médico disse o seguinte: não vou operar o paciente por que ele QUASE evitou a queda.
ResponderExcluirMagu disse:
ResponderExcluirBem, esse final do comentário do Ric é o que os petralhas estão usando agora para justificar a condenação dos "cumpanheros". Alegam que a decisão foi oportunista, política e demagógica, ao condenar "inocentes".
Depois, é norma petralha que, se os fatos são diferentes da realidade, e os fatos os favorecem, publique-se os fatos.
Ainda bem que ainda temos uns quatro ministros no STF com uma razoável independência. Infelizmente a tendência é que esse número, com o passar do tempo, se reduza a zero. Aliás, nem precisa muito tempo: ano que vem, com Levianodowski assumindo a presidência do Supremo, vamos ter a avant-premiere...
ExcluirVocês Cariocas ainda não se livraram do complexo de injustiçados com a perda da Capital Federal e estão a toda hora cobrando benesses indevidas.
ResponderExcluirÉ "quase" certo que o STJD confirme sua sentença em 27 do corrente, ouvi um comentário de que se a portuguesa recorrer à justiça comum, é "quase" certo que ganhará esse imbróglio e quem pagará o pato será o flamengo que será rebaixado. É " quase" certo que continuamos todos na mesma dúvida, né não!
ResponderExcluirMagu disse:
ResponderExcluir?????????????????
Se... É quase certo... Perda da Capital Federal (há 52 anos!)...
ResponderExcluirBebeu? Fumou unzinho? Já, de manhã?