Quem me conhece bem sabe que desde a mais tenra idade sou
avesso a grandes eventos, comemorações festivas, enfim, tudo que reúna mais de
meia dúzia de pessoas. Fiz duas concessões das quais me arrependo amargamente,
ambas no Maracanã.
A primeira, em 1969 fui ver um Brasil e Paraguai com um
amigo e chegamos atrasados em função dos engarrafamentos, mas mesmo assim entramos.
Entrar pelo meio da arquibancada, nem pensar, tudo entupido. Subimos e
conseguimos um “lugar” em pé - na ponta dos pés, melhor dizendo - lá na última
fila. Desconfortavelmente acomodados vendo o Maraca entupido, mas mesmo assim
não parava de chegar gente e eu, na ponta dos pés, cada vez mais espremido.
E o Brasil entra em campo. Poderia ter sido a última coisa
que vi na vida: levei um empurrão e rolei lá de cima, passando sobre as cabeças
das pessoas que iam me empurrando cada vez mais para baixo, até que, a poucos
degraus da amurada de ferro onde terminava a arquibancada, uma alma caridosa,
um negão 3x4, me segurou e arrumou um jeito para que eu sentasse (não foi no
colo dele, juro!), e de lá não saí até o jogo acabar. O público oficial desse
jogo foi de 183 mil pessoas.
Apesar do susto e das diversas escoriações, não satisfeito,
resolvi ver um Vasco e Santos, também no Maraca, ainda em 1969. Não havia muita
gente: 65 mil pessoas, oficialmente. Acontece que Pelé, antes de entrar em
campo, estava com 999 gols na carreira e, um gênio qualquer da turma que foi
comigo sugeriu que sentássemos atrás do gol do Santos, onde havia lugar de
sobra porque todos foram para trás do gol do Vasco ver o tal gol 1.000.
Acaba o primeiro tempo e apenas um gol, do Vasco. Como Pelé
não estivesse jogando xongas, visivelmente nervoso, o tal gênio sugeriu que
ficássemos no mesmo lugar, no segundo tempo, embora metade da gente da
arquibancada tivesse migrado para lá. A coisa apertou, mas ainda estava suportável.
Começa o segundo tempo e sai um gol do Santos, mas não de
Pelé. 1 a 1 e o jogo chato pra dedéu, até que no finzinho do jogo o negão cai
na área do Vasco: pênalti! Quiuspariu! Os “arquibaldos” todos resolveram se
espremer ali, onde eu estava. Até que o pênalti fosse batido demorou uma
eternidade e deu tempo de todo mundo que estava na arquibancada chegar até atrás
do gol. Que sufoco! Eu estava tão espremido que fiquei praticamente suspenso, mal
tocando os pés no chão e com uma falta de ar danada. E Pelé fez o gol.
Budabariu treis veiz! Se já estava um sufoco com todo mundo parado, imaginem com
todo mundo pulando... Só sei que nessa brincadeira um amigo meu aterrissou em
falso e quebrou o pé, enquanto outro levou com a ponta de um mastro de bandeira
nas fuças que lhe rasgou a bochecha. Milagrosamente eu saí ileso dessa, para
nunca mais.
Mas, pombas!, eu ia falar do réveillon em Copacabana! Fica
pra depois.
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