segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Não há terceira via: A história do “homo petralhensis”

Coincidentemente, logo depois de assistir à metade do vídeo do Lobão com Tuma e Tognolli - uma hora e meia de enfiada, não dá - dei de cara com o artigo de Deonísio da Silva que fala sobre “a magia do número três”. Coincidência porque Tognolli disse no papo que hoje, o Brasil está vivendo uma “bipolaridade”, termo não muito adequado, mas o significado que ele quis dar o é: vivemos um dualismo típico de regimes autoritários onde quem não concorda com o que aí está é imediatamente tratado como inimigo. “Tertium non datur”, disse (não há terceira via).

Por mais de uma vez já comentei aqui sobre esse maniqueísmo, onde o pensamento é dividido em duas partes antagônicas e excludentes entre si e que esse engessamento intelectual grosseiro, essa estúpida simplificação da realidade, também não aceita indiferenças: tudo está obrigatoriamente ligado à política que não admite alternativas que não sejam o Bem e o Mal, onde obviamente o primeiro representa a esquerda.

Mas, voltando ao três, a associação da sua não existência aos petralhas é inevitável: não há terceira via porque eles só sabem contar até dois, por ainda estarem no estágio em que a humanidade só expressava o singular, o par e o plural, sem esmiuçá-los. E também não abstraía nada, ainda quando os conjuntos tivessem mais do que o par. Assim, as quatro patas de um animal, os cinco dedos da mão, os dez dedos que as duas formam, os vinte dedos do corpo humano, contados no total, todos esses conjuntos só valiam para o que designavam: as patas e os dedos. O conceito não migrava dali para designar dez pássaros, vinte peixes, cinco porcos-do-mato etc.

Três veio do latim tres, de uma raiz indo-europeia que forneceu o mesmo étimo para numerosas outras línguas, de que são exemplos tres, em espanhol; tre, em Italiano; trois, em Francês; three, em Inglês; drei, em Alemão. A etimologia do três esclarece complexas sutilezas desses números em todas as línguas e ajuda-nos a entender o conceito que está na base dessa evolução, que começou com o um, o par e o plural, e, a partir do três, chegou ao googol, nome que o matemático Edward Kasner deu, em 1938, ao maior número que ele inventou, acolhendo sugestão de seu sobrinho Milton Sirotta, então um menino de oito anos. O pessoal do Google, o mais conhecido sistema de buscas na web, inspirou-se nesse número para criar a empresa. Mas o número três vai mais além e está no Francês très, designando intensidade máxima: très riche, para o ricaço; très mauvais, para o muito mau, como é também o caso do Italiano troppo (excessivo).

Muito provavelmente os petralhas são descendentes de alguns exemplares da espécie “Homo” que sobreviveram graças à sua união. Diz a moderna teoria da evolução, elaborada pelo Doutor Ludwig Von Sifhüder, que, ao saírem da África, uma grande parte dos “Homo” seguiu reto, rumo Leste, até encontrar os rios Tigre e Eufrates e lá se estabeleceu, deixando de ser nômade, em função das condições de habitabilidade do lugar, passando a plantar e a colher seus próprios alimentos. A outra parte dobrou à esquerda, rumo Norte, e acabou emburrecendo por falta de alimentação - em virtude do gelo que cobria a atual Europa - e, consequentemente, morrendo. Mas, segundo Von Sifhüder, alguns deles, os mais unidos, voltaram e, por sua semelhança física com os “Sapiens”, se misturaram com eles, sem que, no entanto, tenha havido miscigenação, já que o DNA dos recém-chegados havia se alterado significativamente e, após milênios de burrice, só permitia seu cruzamento com seres da mesma espécie.

Interessante notar o aspecto social da coisa, já que os “homo petralhensis” não faziam absolutamente nada de útil, mas eram devidamente alimentados e tinham onde morar, graças ao trabalho dos “Sapiens”, que por isso nada cobravam.

Daí até os dias atuais, eles continuam não conhecendo o três e vivendo à custa dos outros. Não mudaram nada.

Nem nós...

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