Sobre direita e esquerda no Brasil - Especialmente para JAC

Reeditado às 13:00 de 5/12/2013. Foi só um erro de interpretação que cometi, acusado pelo JAC, que já corrigi.

Brindado que fui, em julho, com um artigo do Boff dedicado especialmente a mim pelo José Antônio da Conceição em seu blog “Filosofia”, só descobri hoje e retribuo a homenagem com minhas observações, que são óbvias, por óbvia ser a tacanhice do ex-fradinho. E desculpe a demora, JAC.

Sobre direita e esquerda no Brasil (e lá no norte maravilha também) - Especialmente para Ricardo Froes

Leonardo Boff - Contra as tramoias da direita: sustentar a Dilma Roussef

Para começar, e para ficar aqui no Brasil, já que o ex-fradinho se refere a Dilma, figura solenemente ignorada no resto do mundo, eu gostaria de saber por que essa referência às “tramoias” como sendo “da direita”, se é público e notório que os únicos responsáveis por elas são de esquerda.

É notório que a direita brasileira especialmente aquela articulação de forças que sempre ocupou o poder de Estado e o tratou como propriedade privada (patrimonialismo), apoiada pela mídia privada e familiar, estão se aproveitando das manifestações massivas nas ruas para manipular esta energia a seu favor. A estratégia e fazer sangrar mais e mais a Presidenta Dilma e desmoralizar o PT e assim criar uma atmosfera que lhes permite voltar ao lugar que por via democrática perderam.

O ex-fradinho quer nos enganar mais uma vez: quem tentou explorar as “manifestações massivas nas ruas” foram os petralhas e seus paus-mandados, financiando, inclusive, os black blocs, numa tentativa imbecil de desmoralizá-las. As manifestações autênticas foram todas contra o governo do PT, à exceção de uns gatos pingados pagos pelo governo para desestabilizar Alkmin, já que a obsessão do PT sempre foi governar São Paulo. E, diga-se de passagem, a “mídia privada e familiar” a que Boff se refere, é tão livre que, de vez em quando publica as bobagens que ele escreve.

Se por um lado não podemos nos privar de críticas ao governo do PT (e voltaremos ao tema), mas críticas construtivas, por outro, não podemos ingenuamente permitir que as transformações político-sociais alcançadas nos últimos 10 anos sejam desmoralizadas e, se puderem, desmontadas por parte das elites conservadoras. Estas visam a ganhar o imaginário dos manifestantes para a sua causa que é inimiga de uma democracia participativa de cariz popular.

“Cariz” é ótimo! O cara escreve com um dicionário no sovaco. Cariz é aparência, fisionomia. Mas, voltemos. Por certo houve “transformações político-sociais alcançadas nos últimos 10 anos” - notem que Boff teve o cuidado de não escrever “progressos” em vez de “transformações”. É claro que as houve! Não só as “elites conservadoras”, mas todos os que têm o QI acima do de uma ameba perceberam isso. A classe política ficou muito mais corrupta e o povo muito mais burro e amoral. Mas quem é Boff, um comunista, para falar em democracia?

Seria grande irresponsabilidade e vergonhosa traição de nossa parte, entregar à velha e apodrecida classe política aquilo que por dezenas de anos temos construído, com tantas oposições: um novo sujeito histórico, o PT e partidos populares, com a inserção na sociedade de milhões de brasileiros. Esta classe se mostra agora feliz com a possibilidade de atuar sem máscara e mostrando suas intenções antes ocultas: finalmente, pensa, temos chance de voltar e de colocar esse povo todo que reclama reformas, no lugar que sempre lhe competiu historicamente: na periferia, na ignorância e no silenciamento. Aí não incomoda nem cria caos na ordem que por séculos construímos mas que, se bem olharmos, é ordem na desordem ético-social.

A quem o ex-fradinho se refere quando fala em “velha e apodrecida classe política”? Que eu conheça, Maluf, Collor, Sarney, Barbalho e alguns outros corruptos agora são petralhas de carteirinha. A quais oposições Boff se refere, se o PT tem larga maioria no Congresso? Mais que isso, só ditadura, que para ele seria o ideal, já que não há registro na História do Mundo que um governo comunista tenha governado de outra forma. Quem é esse bobalhão para falar em “desordem ético-social”, se isso é o que vivemos hoje graças a essa corja petralha que nos governa, na qual ele está incluído?

Esta pretensão se liga a algo anterior e que fez história. É sabido que com a vitória do capitalismo sobre o socialismo estatal do Leste europeu em 1989, o Presidente Reagan e a primeira ministra Thatcher inauguraram uma campanha mundial de desmoralização do Estado, tido como ineficiente e da política como empecilho aos negócios das grandes corporações globalizadas e à lógica da acumulação capitalista. Com isso visava-se a chegar ao Estado mínimo, debilitar a sociedade civil e abrir amplo espaço às privatizações e ao domínio do mercado, até conseguir a passagem de uma sociedade com mercado para uma sociedade de puro mercado no qual tudo, mas tudo mesmo, da religião ao sexo, vira mercadoria. E conseguiram. O Brasil sob a hegemonia do PSDB se alinhou ao que se achava o marco mais moderno e eficaz da política mundial. Protagonizou vasta privatização de bens públicos que foram maléficos ao interesse geral.

Esse cara me faz rir. Segundo ele, no capitalismo “tudo mesmo, da religião ao sexo, vira mercadoria”... Com certeza ele acha que “virar mercadoria” se quiser e por vontade própria é pior que virar um pau mandado sem querer, sem valor, sem vontade e sem cérebro. A maior imbecilidade do mundo é se prostituir obrigado por uma ideologia. E Boff ainda defende isso. Quanto às privatizações - o que o PT chama, eufemisticamente, de concessões - eu não vou nem comentar, dado ao fiasco que estão sendo as ditas cujas no governo atual.

Que isso foi uma desgraça mundial se comprova pelo fosso abissal que se estabeleceu entre os poucos que dominam os capitais e as finanças e a grandes maiorias da humanidade. Sacrifica-se um povo inteiro como a Grécia, sem qualquer consideração, no altar do mercado e da voracidade dos bancos. O mesmo poderá acontecer com Portugal, com a Espanha e com a Itália.

Os países citados pelo ex-fradinho, estão apenas pagando o preço pela esculhambação dos seus governos socialistas. Aliás, é claro que Boff nunca vai citar a ajuda que, por exemplo, Portugal recebe da capitalista Alemanha, que absorveu a sua parte leste sem chiar e sem pedir ajuda a ninguém, e hoje é a potência que todos conhecem.

A crise econômico-financeira de 2008 instaurada no coração dos países centrais que inventaram esta perversidade social foi consequência deste tipo de opção política. Foram os Estados que tanto combateram que os salvaram da completa falência, produzida por suas medidas montadas sobre a mentira e a ganância (greed is good), como não se cansa de acusar o prêmio Nobel de economia Paul Krugman. Para ele, estes corifeus das finanças especulativas deveriam estar todos na cadeia como criminosos. Mas continuam aí faceiros e rindo.

“Corifeu” também é ótimo, só que dessa vez eu sei que significa algo como um “destaque”. Parágrafo confuso, com acusações vagas e genéricas. Ah, já que ele citou Paul Krugman agora e, antes Reagan, a quem acusa, ao lado de Thatcher, de ser o responsável pela “campanha mundial de desmoralização do Estado”, que fique sabendo que o economista em questão trabalhou na Casa Branca, como membro do Conselho de Economistas do próprio Reagan, sendo, portanto, corresponsável por essa tal “desmoralização”, que só existe na cabeça de Boff e similares.

Então, se devemos criticar a nossa classe política por ser corrupta e o Estado por ser ainda, em grande parte, refém da macroeconomia neoliberal, devemos fazê-lo com critério e senso de medida. Caso contrário, levamos água ao moinho da direita. Esta se aproveita desta crítica, não para melhorar a sociedade em benefício do povo que grita na rua, mas para resgatar seu antigo poder político especialmente, aquele ligado ao poder de Estado a partir do qual garantia seu enriquecimento fácil. Especialmente a mídia privada e familiar, cujos nomes não precisam ser citados, está empenhada fervorosamente nesta empreitada de volta ao velho status quo.

Que neoliberal, seu jumento, se nem o governo FHC pode ser enquadrado nessa classificação? Eu gostaria de saber, só para começar, qual foi a redução drástica do Estado na economia e na sociedade que possa levar alguém a esse raciocínio. Uma economia que retinha mais de 35% do PIB em forma de impostos, tomava 70% da poupança destinada ao crédito, cobrava 110% de encargos sobre os salários, tinha um dos mais altos índices de burocratização e também a mais alta taxa de juros do planeta, como acontecia no governo FHC, pode ser chamada de neoliberal?

E é bom lembrar também que, em termos de liberdade econômica, o Brasil ocupava a 88^a posição, atrás até da China. Segundo o IPEA, ocupávamos também o sétimo lugar entre os países com menor fluxo de comércio e o terceiro com menor importação em relação ao PIB, entre 145 países.

Será que governos que se metem em tudo e mexem com todos, podem se encaixar na limitação das tarefas que caracteriza o neoliberalismo, que se dedica somente a cuidar da arrecadação de impostos, das Forças Armadas, da Justiça e Diplomacia? Obviamente não. Mas não é isso que a “intelligentzia” esquerdopata acha, sempre pensando no poder da sua influência nefasta sobre os cidadãos. Para a grande maioria - uns por dificuldade de raciocínio e outros pela ausência dele - ainda somos neoliberais com Dilma.

É ou não um jumento?

Por isso, as demonstrações devem continuar na rua contra as tramoias da direita. Precisam estar atentas a esta infiltração que visa a mudar o rumo das manifestações. Elas invocam a segurança pública e a ordem a ser estabelecida. Quem sabe, até sonham com a volta do braço armado para limpar as ruas.

Não há nenhuma tramoia de direita, as infiltrações vieram mandadas e pagas pelo PT e braço armado vem sempre de quem não tem argumentos e de quem se prepara para isso, como os que hoje estão no poder já fizeram em Cuba - tem até gente que já fez isso que está presa, de novo. A inteligência é única a arma da direita. E é mortal. Pena que o PT, muito oportunamente, faça de tudo para extirpá-la dos brasileiros.

Dai, repetimos, cabe reforçar o governo de Dilma, cobrar-lhe, sim, reformas políticas profundas, evitar a histórica conciliação entre as forças em tensão e a oposição para juntas novamente esvaziar o clamor das ruas e manterem um status quo que prolonga benefícios compartilhados.

O cara fala tanto - hipocritamente - em democracia e diz que os outros querem “esvaziar o clamor das ruas” quando é justamente o PT que quer fazê-lo! Ora, vai tomar no centro para não gastar as beiradas! E, por falar em clamor, desde quando pode ter crédito o de um padre que foi expulso da igreja católica por não desempenhar seu ofício a contento? Desde quando pode se dar crédito a um cara que confunde uma ideologia imbecil com o que pregava Jesus Cristo?

Inteligentemente sugeriu o analista político Jeferson Miolo em Carta Maior (07/7/2013):

“Há uma grave urgência política no ar. A disputa real que se trava nesse momento é pelo destino da sétima economia mundial e pelo direcionamento de suas fantásticas riquezas para a orgia financeira neoliberal. Os atores da direita estão bem posicionados institucionalmente e politicamente…

A possibilidade de reversão das tendências está nas ruas, se soubermos canalizar sua enorme energia mobilizadora. Por que não instalar em todas as cidades do país aulas públicas, espaços de deliberação pública e de participação direta para construir com o povo propostas sobre a realidade nacional, o plebiscito, o sistema político, a taxação das grandes fortunas e do capital, a progressividade tributária, a pluralidade dos meios de comunicação, aborto, união homoafetiva, sustentabilidade social, ambiental e cultural, reforma urbana, reforma republicana do Estado e tantas outras demandas históricas do povo brasileiro, para assim apoiar e influir nas políticas do governo Dilma”?

“Inteligentemente”, só se for pras negas do Boff (nega é neguinha, usado normalmente para se referir a pessoas genéricas; Caetano, por exemplo, já disse que é neguinha...). As propostas do infeliz são as mesmas e trágicas de todo esquerdopata: empobrecer ricos para enriquecer pobres e, no caso, os “pobres” são todos petralhas; censurar a mídia: a tal “pluralidade dos meios de comunicação” é apenas um nome bonito para censura; legalizar o aborto indiscriminado: vamos salvar os chimpanzés e as baleias e matar crianças; permitir o casamento de homossexuais, quando “casamento” implica em sexos diferentes, sob todas as definições que se queira utilizar, até mesmo a que consta na Constituição e, “demandas históricas” é o cacete!, já que a história que esses sujeitos exibem não passa de um amontoado de deturpações e mentiras.

Desta forma se enfrentarão as articulações da direita e se poderá com mais força reclamar reformas políticas de base que irão na direção de atender a infraestrutura reclamada pelo povo nas ruas: melhor educação, melhores hospitais públicos, melhor transporte coletivo e menos violência na cidade e no campo.

Quer menos violência no campo, santa? Acaba com o MST. Quanto ao resto, acaba com o PT!

Leonardo Boff não é filiado ao PT, é teólogo e escritor, da Comissão da Carta da Terra

Até aqui cabe uma crítica a esse bobalhão. Sabem por que ele faz questão de dizer que “não é filiado ao PT”? Porque, segundo ele mesmo, não fica bem um “intelectual” ser filiado a um partido... É mole? O cara se acha!