Arquitetura é definida pelo Houaiss como a “arte e técnica
de organizar espaços e criar ambientes para abrigar os diversos tipos de
atividades humanas, visando também a determinada intenção plástica”. Claro que
essa é apenas uma definição léxica, mas não há como fugir muito dela. Sua
função primordial, muito mais que a plástica, que muitas vezes pode ser
discutível - questão de gosto -, é a de “vestir” o homem adequadamente, a de
proporcionar condições ambientais que atendam ao seu conforto, praticidade e
segurança. Quem sai disso, não arquiteta, apenas escultura. É o caso de Oscar Niemeyer.
Niemeyer é, sem dúvida alguma, o deus absoluto do
monumentalismo. A princípio, nada contra, mas o problema é que ele é só isso.
Seu ego nunca o permitiu pensar em alguém mais alem dele mesmo. Suas obras,
muitas delas, para mim, horrorosas esteticamente (como eu disse, estética é
questão de gosto), são verdadeiros atentados ao homem, resumindo-se em
verdadeiras estufas de vidro e concreto inabitáveis que, em vez de amenizarem
os efeitos da natureza, multiplicam-nos - são fornos no verão e freezers no
inverno. Desconforto era o lema, desde que o ego do arquiteto fosse massageado.
Mas o pior dessa negligência é ignorar totalmente a
segurança nos projetos e, pior ainda, termos uma estrutura de fiscalização
indecente que permite que se cometam esses atentados. Muitos deles aqui no
Brasil nem alvará de funcionamento têm, mas já foram tombados, o que dificulta
mais ainda a execução de reformas de segurança. O ideal mesmo é que eles fossem
todos tombados mesmo, mas no sentido de derrubados...
Resumindo o que eu disse em um post há alguns dias, a obra
arquitetônica de Niemeyer é uma afronta ao bom senso. Toda.
O Globo de hoje, em reportagem de página inteira, mostra o
descalabro desses projetos de Niemeyer.
Ameaças que rondam o legado de Oscar Niemeyer
Construções projetadas pelo arquiteto, algumas sem alvará ou
certidão dos Bombeiros, estão em situação de risco
RIO, SÃO PAULO, BRASÍLIA E BELO HORIZONTE - O arquiteto
Oscar Niemeyer teria um desgosto profundo se visse o que sobrou do auditório
Simón Bolívar após o incêndio no memorial da América Latina, dia 29. Esse
projeto, desenvolvido com o amigo e educador Darcy Ribeiro, era o seu maior
xodó. Mas ficaria ainda mais apreensivo se soubesse que muitas de suas obras
pelo país sequer têm o certificado de aprovação do Corpo de Bombeiros e carecem
de manutenção e equipamentos adequados de prevenção contra incêndios.
Levantamento feito pelo GLOBO em seis cidades revelou falhas
na segurança de prédios e falta de cuidados. Construídos por Niemeyer na década
de 40, a Igreja de São Francisco de Assis, a Casa do Baile e o Museu de Arte,
obras do conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, sofrem com o
descaso. Além da ausência de alvará de funcionamento, a má conservação dos
imóveis e a negligência com itens básicos de segurança expõem o conjunto a
risco. Diretora do Centro de Restauração do Patrimônio Histórico da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a professora Bethania Reis Veloso
teme pelo pior.
- Estamos correndo o sério risco de perder o patrimônio, o
que é muito grave - alertou.
A igrejinha da Pampulha conta apenas com três extintores de
incêndio, com capacidade de quatro litros cada. Revestido de madeira, o teto
tem infiltrações, perto dos painéis de Cândido Portinari. Por causa da umidade,
cogumelos nasceram no teto. Vinculada à arquidiocese de BH, Nilza Barbosa do
Vale, administradora do templo, adverte sobre os perigos:
- Quando chove mais forte, dentro da igreja vira uma
cascata, que vai jorrando pela parede. Como a fiação está embutida na parede,
tememos um curto-circuito.
Construído para abrigar um cassino em 1943, o Museu de Arte
adquiriu um acervo com cerca de 1.400 obras. Possui três hidrantes de água, mas
apenas um com mangueira. A única disponível está no mezanino. A administração
não forneceu o número exato de extintores, mas O GLOBO contou dez. A prefeitura
de Belo Horizonte confirmou que a Casa do Baile e o Museu de Arte não possuem
alvará de funcionamento. Informou que os dois locais passaram por revitalização
este ano, e, por isso, os procedimentos para a obtenção dos alvarás estão em
curso.
Em São Paulo, uma das obras mais famosas de Niemeyer, a OCA,
no parque do Ibirapuera, completou 60 anos em agosto. Apesar de ser um ícone da
arquitetura na capital paulista, o espaço é subutilizado por não atender a
exigências básicas de segurança. Conta com apenas uma rota de fuga em caso de
incêndio. Para funcionar como museu, projeto da prefeitura, é indispensável que
tenha ao menos outra saída. Apesar dos seus 10 mil metros quadrados, o espaço
só está autorizado a receber pequenos eventos, em geral, exposições para 700 pessoas,
no máximo.
Desde a década de 90, arquitetos e engenheiros discutem
soluções para ajustar a OCA aos padrões de segurança. A maior dificuldade é
conciliar um projeto contra incêndio às restrições impostas pelos tombamentos
municipal, estadual e federal:
- Estamos buscando uma solução que contemple as exigências
dos órgãos de preservação de patrimônio e que atenda também às regras de
segurança - afirmou o diretor do Museu da Cidade, responsável pela
administração da OCA, Afonso Luz.
Uma das soluções estudadas é a construção de uma saída de
emergência subterrânea - medida custosa e demorada porque seria preciso escavar
sob o parque. Outra alternativa é adequar suas famosas escotilhas para
funcionarem como saídas de emergência.
- O próprio Niemeyer, quando se fez a primeira reforma, na
década de 1990, dizia que não projetou mais saídas de emergência porque as
escotilhas poderiam servir como rotas de fuga, em caso de necessidade. É uma
ideia, mas, da forma como estão, não atendem aos padrões do que consideramos
seguro. Uma saída de emergência precisa funcionar para uma multidão - disse
Luz.
No Rio, nenhum dos dez prédios pesquisados tinha o
certificado de aprovação do Corpo de Bombeiros. Alguns administradores correm
contra o tempo para legalizar a situação. Inaugurado em 2007 e fechado por
quatro anos, o Teatro Popular Oscar Niemeyer, um dos mais belos projetos do
arquiteto no Caminho Niemeyer, em Niterói, foi reaberto em outubro, mas ainda
está passando por reformas para conseguir a certificação do Corpo de Bombeiros:
- Quando chegamos em janeiro, não havia nada. Contratamos
uma consultoria particular para levantar as exigências, procuramos o escritório
Oscar Niemeyer e estamos fazendo uma série de modificações, para darmos entrada
no processo de certificação - afirmou a diretora Carla Tavares.
Entre as mudanças, o oferecimento de mais rotas de fuga e
barras de proteção (guarda-corpo) na lateral do foyer superior. Todos os
extintores e mangueiras de incêndio foram revisados. Além disso, o teatro conta
com uma equipe de brigadistas, presente em todos os eventos. O espaço possui
agora um circuito interno de segurança, com 32 câmeras que monitoram as áreas
internas e externas 24 horas. Inaugurado em 2004, o Centro Cultural Oscar
Niemeyer, na Praça do Pacificador em Caxias também abriga biblioteca e teatro,
que nunca foram licenciados pelo Corpo de Bombeiros.
Em Brasília, os prédios de Niemeyer são a face mais
conhecida da cidade, mas precisaram ser adaptados para minimizar riscos de
incêndio. Na Esplanada, os prédios dos ministérios foram construídos sem
escadas de incêndio, o que só foi corrigido nos anos 90. Uma das dificuldades
para adaptar os prédios às normas de segurança é o tombamento - caso da Câmara
dos Deputados, que informou que “algumas obras de segurança que valeriam para
qualquer edifício comum não se aplicam aqui, como a colocação de escadas de
emergência na parte externa dos edifícios”.
Algumas modificações na estrutura da Câmara, como a
colocação de portas e paredes corta-fogo e a pressurização das escadas onde se
dá a rota de fuga, foram concluídas em 1986. A Câmara informou que outras
alterações deverão ser feitas até o fim de 2015.
O Senado criou um plano de prevenção de combate a incêndio e
informou que está realizando obras de adequação, a serem concluídas em 2014. Há
casos em que o problema não é a estrutura do prédio. No Congresso, um saída de
emergência está trancada com grades e cadeado, no corredor que liga o Senado à
Câmara.
O Palácio do Planalto também é tombado, o que não impediu
que fosse construída uma saída de emergência na reforma concluída em 2010. Essa
saída foi posta nos fundos do palácio.
A professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP
Rosaria Ono explica que, até a década de 70, o Brasil praticamente não tinha
legislação sobre segurança contra incêndio:
- As regras começaram a surgir após o incêndio dos edifício
Andraus e Joelma, no Centro de São Paulo. Por isso, é comum edificações antigas
terem dificuldade para se ajustar às regras.
A situação é ainda mais complicada no caso de exemplares de
arquitetura diferenciada como as de Niemeyer.
- A arquitetura foge do padrão e não se encaixa na
regulamentação. Em locais com pé-direito muito alto, o sistema de detecção de
fumaça e “sprinters” (sic)* (chuveirinhos) no teto pode não funcionar
satisfatoriamente, porque a fumaça demora para chegar até eles por causa da
altura. É preciso ter soluções personalizadas.
Em Belo Horizonte, o conjunto arquitetônico da Pampulha,
construído nos anos 1940, sofre com o descaso. No Museu de Arte, com cerca de
1.400 obras, há três hidrantes, mas apenas um conta com mangueira. Os outros
dois (como o que fica atrás da porta vermelha, em destaque) não têm condições
de uso. Na igrejinha da Pampulha, há infiltrações nas paredes, bem acima dos
painéis de Portinari. No caso do museu, ainda não foi emitido o alvará de
funcionamento.
No Teatro Popular de Niterói, parte do Caminho Niemeyer, foi
modificada a disposição das cadeiras, para oferecer mais rotas de fuga. O
espaço também ganhou barras de proteção na lateral do foyer superior e um
circuito interno de segurança, com 32 câmeras que monitoram as áreas internas e
externas 24 horas. Mas o teatro ainda aguarda receber a certificação do Corpo
de Bombeiros.
Com dez mil metros quadrados e localizada no Parque do
Ibirapuera, a OCA completou 60 anos em agosto, mas, por não atender a
exigências básicas de segurança, como uma segunda rota de fuga, só está
autorizada a receber pequenos eventos, com um máximo de 700 pessoas. Uma das
soluções em estudo é adaptar as escotilhas nas paredes e construir rampas, para
que elas sirvam como uma nova saída de emergência. A prefeitura pretende criar um
museu no local.
Espalhadas pela Capital Federal, as construções de Niemeyer
precisaram passar por várias adaptações para minimizar os riscos, em caso de
fogo, e facilitar a fuga com rapidez. Os prédios dos ministérios, por exemplo,
ganharam escadas de incêndio. Mas o problema, às vezes, não é de estrutura. No
Congresso, por exemplo, há uma saída de emergência trancada com grades e
cadeado no corredor que liga o Senado à Câmara.
P.S.: (sic)* - Não são “sprinters” e sim sprinklers
O que esperar de um comunista de carteirinha como ele?
ResponderExcluirNunca gostei do estilo dele, mas não sabia que pecava também em segurança e conforto!
Se ele fosse projetista de automóveis, teríamos mais Lada Laika rodando pelo país!
Nao poderia deixar de concordar com o Ricardo. Eu nao conheco todas as obras do Niemeyer, as que conheco nao gosto, o "olho mau que esta em Curitiba, é simplesmente indecente" parece uma decoracao de um filme de SF de quinta categoria. O Ricardo como arquitecto deve entender "muito mais melhor que eu" as obras do falecido. Acho Brasilia horrivel, o assassinato cometido na Costa Amalfitana a mais bela costa da Europa é algo imperdoavel, deveriam explodir aquele trambolho do Niemeyer. Um crime contra a natureza.
ResponderExcluirahahahahahhahah Bigfull, acho que as "rodas" seriam quadradas ou bicudas.
kkkk... e os carros teriam apenas duas cores, Vermelho ou Pink... as cores que eles mais gostam.
ExcluirO pior é encomendar projetos de igrejas a um ateu convicto que quer disputar o lugar com o Tudo-Poderoso...
ResponderExcluirAlguns comentários que pincei pelaí:
"Dizem as más línguas que ele idealizou a Catedral de Brasília e a Igreja da Pampulha em BH como vingança contra os crentes, fazendo o interior delas no verão um verdadeiro forno quente like a hell."
"Bem capaz de o arquiteto/engenheiro que projetou a pirâmide de Quéops ter vivido mais que o próprio faraó. A vida e suas ironias."
"Seria uma fábula atraente mas ainda assim fábula, pois contraria as evidências. O desempenho de Niemeyer nos quesito ‘conforto térmico’, ‘funcionalidade’ e ‘respeito aos usuário’ foi desastroso desde sempre. A idéia Niemeyeriana de “ateísmo” e “comunismo” era fazer metade do povo flutuar acima da realidade do chão e enterrar a outra metade num forno catacumbesco."
Bom eu não falei sobre política, mas eu acho que a obra dele, tanto na arquitetura quanto no campo das ideias, é igualmente escabrosa e hipócrita. O que mais chama atenção é que em momento algum da vida Niemeyer deixou de receber seu pixulé mensal do governo a troco de manutenção e conservação das obras públicas de Brasília, nem mesmo na época mais dura dos militares. Quando chegou a sair do seu exílio voluntário em Paris, para dar uma guaribada no aeroporto de Recife, a pedido de Geisel.
Comunista com escritório numa cobertura de frente pro mar que só projeta fornos crematórios para vivos, só aqui no Brasil...
Tomei a liberdade de unir a primeira linha com a última é olha o que deu!
Excluir"...encomendar projetos de igrejas a um ateu convicto, que só projeta fornos crematórios para vivos, só aqui no Brasil......"
Partindo da premissa que Comunista odeia Cristão, a frase faz bastante sentido, talvez ele fosse competente em criar fornos disfarçados de edifícios para exterminar os "inimigos"....rsrsrsrs
Uma das obras mais impressionantes do Oscar Niemeyer foi o Instituto Nacional do Café, que fez parte do projeto de Brasília, atualmente é utilizado pelo Banco Central. Não tenho como checar a informação, mas quando visitei Brasília, meus anfitriões me mostraram o Instituto Nacional do Café e contaram que era necessário utilizar móveis "especiais", pois a estrutura não suportaria móveis de madeira comum. É importante lembrar que quando Brasília foi construida os móveis era feitos com madeira de verdade, não com a serragem colada que utilizam atualmente.
ResponderExcluirMas a questão mais polêmica sobre Brasília, é que o projeto seria inspirada na cidade construída por Akenaton (pai de Tutankamon). Vi no programa do Jô uma comparação entre os dois projetos e existem muitas semelhanças.
http://www.youtube.com/watch?v=fFgvNZl_m9k
http://www.youtube.com/watch?v=iPUN1uCAZrc
Obs: basta assistir os últimos 5 min do segundo vídeo.
Não há nenhuma semelhança entre as duas cidades.
ExcluirA planta e Akhenaton é NNE/SSO e a de Brasília N/S, mas vale lembrar que essa orientação de Brasília nada mais é que a observação a um dos princípios mais básicos da arquitetura, a insolação, evitando que o Sol, que percorre praticamente em perpendicular o ano inteiro o eixo L/O incida diretamente nas fachadas de manhã ou à tarde; Akhenaton segue a margem direita do Nilo enquanto em Brasília o lago artificial é que seguiu a planta da cidade; o formato geral e a disposição dos prédios nas plantas são completamente diferentes; o fato de ambas serem mais ou menos o centro geográfico dos seus países é uma questão de logística, e não há mistério nenhum nisso e a celeridade com que foram construídas é por conta da vaidade comum aos governantes em ter suas obras prontas a tempo de ainda poderem vangloriar-se delas.
Quanto ao resto - avenidas largas e tudo o mais -, obedece a critérios arquitetônicos que nem de longe podem ser considerados como cópia ou coincidência. Ademais, em arquitetura, não há nada mais normal do que se “chupar” uma ideia, por mais antiga que ela seja.
É sempre agradável (e construtivo) conhecer o parecer de alguém com conhecimento de causa, algo que está difícil de acontecer hoje em dia.Mais uma vez o TMU apresenta informações que não aparece em meios que desejam ser polêmicos. Apenas para ficar mais claro, um parecer é diferente de uma opinião, um parecer tem fundamentos e uma opinião é apenas um "eu acho".
ExcluirObrigado pelo esclarecimento.
Justo o que eu procurava sobre guarda corpo bh. Obrigada!
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