domingo, 2 de fevereiro de 2014

“Um deus onisciente, onipotente e benevolente não existe”

Hélio Schwartsman em seu artigo na Folha “Logicamente impecável” é logicamente impecável.

Por ocasião do Dia do Holocausto, o rabino Michel Schlesinger e o cardeal dom Odilo Scherer publicaram na edição de segunda desta Folha um interessante artigo em que levantam uma questão que há séculos atormenta religiosos: como conciliar a ideia de um deus bom com o sofrimento de inocentes. “Como se pode ainda acreditar em Deus depois de Auschwitz?”, escreveram.

Schlesinger e Scherer concluem que o Holocausto não foi obra de Deus, mas de homens e suas ideologias. Como não acredito em Deus, concordo, mas, para os que creem, receio que não seja tão fácil assim limpar a barra do Criador. O problema do mal, conhecido como teodiceia, constitui uma dificuldade filosófica real, e as respostas até hoje oferecidas deixam muito a desejar.

O argumento antiteísta é simples. Se há um deus onisciente, onipotente e benevolente, então não existe mal. Ora, há mal no mundo. Portanto, um deus onisciente, onipotente e benevolente não existe. A forma lógica do raciocínio, “modus tollens”, é impecável. Se as premissas são verdadeiras, a conclusão necessariamente também o é. Daí que, para esboçar uma resposta, é preciso negar a onipotência/onisciência de Deus, sua benevolência ou a existência do mal.

Todas foram tentadas. Especialmente os cristãos gostam de afirmar que Deus renunciou a interferir em ações humanas para nos dar o livre-arbítrio. Outra saída popular é dizer que, ao contrário de Deus, nós não temos todas as informações e é possível que o que nos pareça um mal ou uma injustiça sejam, na verdade, um meio para produzir um bem maior.

Tais respostas permitem um rico debate filosófico, mas não me convencem. Por que então Deus não criou homens incapazes de fazer o mal, para início de conversa? A hipótese mais simples, de que não há um deus com os três atributos, me parece infinitamente mais plausível. E também torna mais fácil responsabilizar os homens por suas ações.

8 comentários:

  1. Hoje eu tambem pensei em Deus. Na ida para a Holanda olhando o céu metade azul e metade cinza, fiz uma interrogacao.
    Nao há como acreditar no criancionismo, pois se somos imagem e semelhanca de um Deus, ele é imperfeito e tambem sofrerá de todas as mazelas que nos sofremos, como: aneurismas, asma, cancer, azia, dores estomacais e solucos entre outras tristezas.
    Heranca de pai para filho.
    Deus chora, Deus sente frio e calor?
    Hum!°!!!!
    Nao podemos ser imagem e semelhanca de um Deus imperfeito, os deuses sao perfeitos.

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  2. Sobre a questão do benevolente, aconteceu uma descoberta incrível na última quinta-feira (31/01/2014). Lobão, Olavo de Carvalho e Rodrigo Constantino reuniram-se em vídeo conferência (hangout), concordaram plenamente uns com os outros em relação ao quanto eles são inteligentes, mas o auge da conferência, no meu entendimento, foi quando os três concluíram que a benevolência com os próximo é boa, a benevolência universal é ruim, é marxista. Então, segundo os três gênios, deduzo que Deus não é marxista, por isso a benevolência dele não é universal.

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  3. http://www.youtube.com/watch?v=r_IYHJXf7Vs&hd=1

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  4. Eu não gosto de me envolver com teologia, mas não resisto aos questionamentos lógicos. Tento resolver a questão levantada na postagem com o seguinte raciocínio:

    a) Ser onipotente (todo poderoso) não significa fazer o impossível, significa poder fazer tudo o que é possível. Dizer que para Deus o impossível não existe é ser burro, pois Deus não pode fazer um círculo quadrado, logo o impossível existe até mesmo para Deus.

    b) Ser onisciente não implica em conhecer o futuro, pois trata-se de uma possibilidade e não de um fato. É nesse momento que entra o livre arbítrio em ação com a benevolência.

    c) Ser benevolente não significa fazer tudo pelo outro, um pai benevolente não resolve todos os problemas para o filho, permite o livre arbítrio e interfere apenas em situações que sejam necessárias.

    O problema em relação ao holocausto judeu, é que questionam a relação de Deus com os judeus, quando Deus se relaciona com toda a humanidade ao mesmo tempo. O holocausto dos ucranianos foi muito pior que o holocausto judeu e aconteceu antes da segunda guerra.

    O mundo teve conhecimento do holocausto ucraniano, no entanto não deixou de comprar os alimentos que tinham sido produzidos pelos ucranianos que foram condenados a morrer de fome. O mundo teve conhecimento das invasões do Hitler e nada fizeram, os EUA mantiveram relações comerciais com os nazistas e japoneses até poucos dias antes de entrar na guerra.

    Churchill denunciou o envolvimento de Stalin com Hitler, no entanto os outros países mantiveram as relações políticas e econômicas com o sanguinário. Grande parte dos alemães concordaram naturalmente em não comprar em lojas de judeus, depois aceitaram passivamente o confinamento dos judeus em guetos, onde mais tarde foram privados de alimentos e morreram de fome.

    Depois que a Alemanha perdeu a guerra, Inglaterra, França e EUA organizaram visitas de alemães aos campos de concentração e laboratórios nazistas, pois muitos continuavam negando as atrocidades praticadas. Depois da segunda guerra não faltaram imagens de crianças africanas morrendo de fome ao mesmo tempo que o desperdício de alimentos no mundo crescia tanto quanto a produção.

    O conhecimento dos fatos por aqueles que poderiam evitá-los, pode (não estou dizendo que deve) ser reconhecido como benevolência de Deus, mas desprezada pelo livre arbítrio do homem. O questionamento sobre catástrofes ambientais, deficiências congênitas e outras questões naturais também podem ser explicadas, mas sempre levando em consideração a relação entre Deus e a humanidade como um todo, jamais considerando a relação entre Deus e um indivíduo ou um grupo específico.

    Não sou ateu, mas no meu entendimento, nada afasta as pessoas de Deus mais que as doutrinas religiosas, nenhuma delas aceita que Deus seja Deus para os outros. É mais fácil encontrar mil ateus dispostos a morrer por seus semelhante do que encontrar um religioso disposto disposto a respirar sem que seja por seus próprios interesses. Não afirmo a existência de Deus, mas também não vejo possibilidade de existir um Deus que se enquadre em alguma doutrina religiosa, parece que Espinosa não pensava muito diferente.

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  5. O massacre armenio (holocausto) entre 1915-1918 , matou 1,5 milhao de armenios.Milhares foram simplesmente jogados para fora das fronteiras turca . Foram centenas de milhares de otomanos de origem armenia fque foram obrigados a deixar seus lares, os turcos (jovens turcos) entao denominados queriam exterminar a cultura e a economia armenia, os armenios eram cristaos e viviam em prosperidade dentro do imperio otomano até a chegada da primeira guerra mundia.

    "Afinal quem fala hoje do extermínio dos armênios?" Dizem que foram as palavras de Hitler quando invadiu a Polonia.

    Provavelmente o Deus maior é o dinheiro, hoje com a quase ausencia de valores, nao há o porque para o mundo desenvolvido entrar em guerras por um Deus.

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  6. O Deus onipresente!

    No meu entendimento, somos todos deuses!

    A onipresença vem daí... cada um tem um Deus o observando 24 hs por dia.
    Se este Deus é perfeito ou não, se é malvado ou bondoso, depende de cada um, pois lá no fundo, todos sabemos o que é certo e o que é errado, algumas más ações decorrem de circunstâncias ou desejos, o que demonstra a falta de amadurecimento do indivíduo. A partir do momento em que se obtém o autoconhecimento, passamos a agir com consciência, acima dos instintos e de todos os desejos primitivos.

    O Deus onipotente!

    Deixando de lado a figura de um Deus que mora nas nuvens e o colocando dentro de nós, podemos perceber que somos capazes do impossível. Obviamente não podemos nos apegar à exemplos como o quadrado redondo, pois resumiria muito nossa capacidade. Mas quando reconhecemos que já vivemos em cavernas e que hoje temos computadores, vemos que já fizemos várias coisas impossíveis, e continuaremos à fazer, ontem inventaram a roda, hoje os automóveis estacionam sozinhos, à pouco tempo atrás, 50 anos, computador, internet, celular e outras coisas normais hoje eram impossíveis!

    O Deus onisciente!

    Seguindo o mesmo raciocínio, a onisciência é obvia! Este mesmo Deus que habita em cada um, sabe tudo sobre todas as coisas. Quando conseguimos nos conectar com este deus, descobrimos a energia elétrica, descobrimos o magnetismo, aprendemos a matemática, enfim, toda a ciência vem à tona.

    O Deus benevolente!

    Somos todos bondosos, exemplos de holocaustos e outras atrocidades que ocorreram e ainda ocorrem na história da humanidade, foram e são causados por pessoas que estão muito distantes de entender sua essência. Suas ações são pautadas por instintos e desejos, com uma superficialidade desmedida. Nenhum humano que tenha um pouco de autoconhecimento, planejaria ou provocaria qualquer ação contra qualquer ser vivo.

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  7. Mais didático que você sobre a questão, creio ser impossível, Full. Na natureza, com pouco de observação atenta podemos identificar animais, insetos e peixes agindo coletivamente como se fossem um organismo único. Cardumes de sardinhas unem-se de forma a "enganar" o predador fingindo ser um só indivíduo, enorme indivíduo. Abelhas, formigas, cupins, manadas e alcateias dão outros exemplos.

    Já o ser humano, infelizmente não consegue enxergar o semelhante e acredita na diferenciação entre iguais por meio da conjugação constante do verbo "ter" em detrimento do "ser".

    Somos o Deus Onipotente, Onisciente e Benevolente infelizmente sofrendo de aneurismas, asma, câncer, azia, dores estomacais, soluços e outros males. O mal (e os males) nascem, vivem e morrem exatamente como seus iguais que optaram por uma vida oposta e atendem por outros nomes.

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