sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Maconha: a falta do que fazer de Nelson Motta e a consciência de Ruy Castro

Nelson Motta resolveu virar o “fumo de um sabor só”: a única coisa que escreve é sobre as vantagens da liberação da maconha e hoje não foi diferente, reclamando, inclusive, da má qualidade do fuminho no Brasil.

Só que, por coincidência, Ruy Castro também escreveu sobre jererê, mas sob um outro prisma: em vez de ficar fazendo apologia, aponta os perigos inerentes à sua liberação e da alta qualidade do fumo.

Muita fumaça e pouco fogo - Nelson Motta

Em Barcelona, já são mais de 400 clubes legalizados, onde a inscrição custa dez euros e o sócio pode comprar até 80 gramas por mês de diversas qualidades de maconhas orgânicas, produzidas por pequenos agricultores autorizados. Está ficando banal, todo dia se tem noticia de mais um lugar em que o tabu está sendo quebrado, além dos 20 estados americanos que já permitem o “uso medicinal” e dos dois que liberaram geral, da estatização no Uruguai, da bem-sucedida descriminalização portuguesa…

Mudou muita coisa e, ao mesmo tempo, não mudou nada na vida desses lugares e de seus cidadãos. As pessoas não estão saindo enlouquecidas pelas ruas, não há hordas de doidões invadindo lanchonetes em busca de laricas, os funcionários não estão dormindo nos escritórios, a criminalidade e a violência nem aumentaram e nem diminuíram, as famílias não estão se sentindo ameaçadas, a polícia tem mais o que fazer do que perseguir cidadãos honestos e pacíficos que gostam de fumar um baseado.

Um golpe mortal no tráfico e no crime organizado? Nem chapado alguém pode acreditar nisso. O tráfico de verdade, o definitivo e invencível, faz fortunas e milhares de mortos com cocaína, crack, heroína, ecstasy e uma infinidade de novas drogas sintéticas e quase invisíveis, que dão muito mais lucro com muito menos risco do que a volumosa e olorosa maconha.

Diante do mercado milionário de analgésicos tarja preta, que já tem seis milhões de dependentes nos Estados Unidos, o tráfico de marijuana virou coisa de pobre, do passado.

O mais triste é pensar nos trilhões de dólares torrados, no tempo, no trabalho e nas vidas perdidas, nas incontáveis pessoas de bem que sofreram o diabo nas cadeias por alguns baseados, nos que se tornaram bandidos e marginais, na trágica inutilidade de tudo isso. Tanto barulho por nada, por um bagulho.

Enquanto isso, no Brasil, onde os consumidores dizem que se fuma uma das piores e mais caras maconhas do mundo, produzida no Paraguai e distribuída pelas facções do crime organizado, o governo e o Congresso vão enrolando, a polícia vai apertando e continuamos queimando tempo e dinheiro.

Maconha comestível - Ruy Castro

No Estado americano do Colorado, onde o uso recreativo de maconha foi liberado, as crianças ainda sem idade para fumar não precisam passar sem a erva. Em Denver, sua capital, lojas dedicadas ao produto oferecem fascinantes derivados: compotas de pêssego e tangerina, drops de melancia, trufas de chocolate, barras de menta, biscoitos amanteigados, bolos, pirulitos e outros doces, todos enriquecidos em sua preparação com uma calda de maconha. Deu no “New York Times” de 31/1.

Os médicos, professores e associações de pais não ficaram tão empolgados. Seus filhos lhes apareceram sonolentos, desorientados, babando e com respiração difícil. Levados ao hospital, testaram positivo para THC (tetraidrocanabinol), que é a substância psicoativa da droga. A ideia de tornar a maconha comestível surgiu para atender usuários impedidos de fumá-la em certos ambientes e pessoas com dificuldade para engolir fumaça. Era inevitável que seu uso atraísse outros interessados.

As lojas alegam que é difícil manter esses produtos fora do alcance dos menores. Eles não estão impedidos de comprá-los e, mesmo que estivessem, sempre haveria quem comprasse por eles. Uma medida imposta pelas autoridades, proibir que as embalagens mostrassem personagens tipo Piu-Piu ou Pica-Pau, revelou-se inócua. Resta o preço, diz o “Times”: uma única bala de maconha custa o equivalente a um saco de balas comuns.

Intelectuais ativistas da liberação desprezam o fato de que a maconha atual contém dez vezes mais THC que a dos anos 60 --ou seja, Bob Marley precisaria fumar dez baseados para valer um fumado hoje por Justin Bieber. Talvez por isso os médicos não a recomendem para crianças.

Mas, como a tendência parece irreversível, podemos esperar pelas novas redes de junk food: a Hashishburger, McHemp e Kentucky Fried Skunk.

5 comentários:

  1. Perguntinha básica: se a legalização da maconha não ajuda em nada no combate ao tráfico, quais serão os benefícios da legalização?

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  2. O benefício da legalização é o fim do genocídio que já exterminou mais pobres do que foram exterminados durante a I e II Guerras Mundiais. 100 mil mortes por ano sem solução são números que só existem no braziu ziu ziu ziu ziu ziu.... E quem não vê o problema é porque, lamentavelmente, também faz parte do problema... só isso... é pouco?????

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    1. Meu caro Anônimo:

      Primeiro eu queria dizer que nunca em minha vida fui contra o que quer que seja que os outros façam com a sua.

      Depois, a legalização de uma droga, pura e simples, sem uma regulamentação baseada em critérios médicos e sociais, não adianta nada e, sem isso, os usuários e traficantes vão continuar da mesma maneira que que se encontram hoje.

      Drogas são para serem vendidas em drogarias, como eu vi há quarenta anos (1973) em Londres, onde determinadas farmácias já eram autorizadas a vender heroína, desde que a mesma fosse aplicada pelos farmacêuticos, no local, para evitar maiores sequelas aos consumidores.

      Isto é regulamentar, disciplinar o uso.

      O mais estranho é vocês quererem liberar a maconha e restringir o tabaco do cigarrinho normal ou a cervejinha de lei...

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  3. Milton, são muitos.

    Não vai combater diretamente, vai vão deixar de render alguns milhões ao trafico. Milhões que são usados para comprar outras drogas.
    Estes milhões a menos para o trafico poderiam ir para o a construção de hospitais, redes de tratamento de usuário de drogas mais pesadas, como o crack.

    Iria reduzir o numero de pessoas presas por pequenas quantidade de drogas. Meu amigo foi preso com 0,3g de maconha. Foi em casa, 4 policiais tiveram de sair das ruas para ir fazer relatório, o escrivão teve de ir la. Vai ter um julgamento daqui a um tempo, o juiz vai ter de perder seu tempo por 0,3g. Pensa na grana gasta pelo estado com as 0,3g. E sabe o pior, vai cair no principio da insignificancia, ou seja, só tempo e grana gastos com nada. Pra um pais que tem um judiciário e falido perder tempo com 0,3g é ridiculo.

    Outro fato a se atentar é o gasto com politicas de repressão que não funcionam. Essa politica esta assim desde que os EUA declararam guerra contra a maconha (mexicanos), e sabe de uma coisa, NUNCA houve redução dos níveis de consumo. Essa guerra as drogas é perdida. Sabe pq? Pq o ser humano é individualista, e quer fazer o que quer, e isso NÃO vai mudar, pq esta no ser humano.

    Outra coisa, existem países que descriminalizaram e o nível de consumo não aumentos. Na verdade aumentos, mas nos mesmos níveis do que no resto do mundo. Tu sabia que os países aonde as drogas são descriminalizadas são vistos os menores níveis de mortes ligadas a overdose???

    Da uma olhada nessa reportagem, é um balanço dos ultímos 10 anos da policita de drogas de Portugal.
    http://www.jn.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1198578
    http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1837101

    Bom, vamos a mais motivos.
    A politica de drogas atual é tão fraca, que o delegado de plantão vai decidir se o cara que foi pego com droga é traficante ou usuário. Se o usuário pegar o delegado em um dia ruim pode ter certeza que vai ser enquadrado como traficante.

    Outra coisa, sabemos que as favelas são controladas por traficantes e estes são protegidos por policiais. Isso já esta na cara faz muito tempo. PQ? pq o traficante paga melhor do que o estado.
    E se o nosso estado passasse a ganhar dinheiro com a erva, pagar melhor seus subordinados, será que não teriamos mais segurança?

    Outra coisa, dizem que liberar a cannabis vai fazer ter uma epidemia de doentes mentais.
    Sempre que leio alguém falar isso eu me pergunto:
    Será que a maconha de traficantes não faz a mesma coisa? Ou só a maconha legalizada que faz mal e vai fazer ter um monte de dontes mentais?

    Esse lance da epidemia de doentes mentais é só especulação. Portugal pensava EXATAMENTE a mesma coisa, e hoje, depois de 13 ANOS de uma politica de drogas não repressiva não constataram aumentos nos números de doentes mentais.
    Isso pq somente pessoa com pré-disposição a doença podem ter algum distúrbio.
    Isso é um TALVEZ, pq não existem estudos focados nisso, justamente pq a policita atual não permite.

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    1. O comentário foi grande e o conteúdo pífio. Até aonde eu sei não há casos de overdose de maconha, então essa historia de que diminuiu o número de morte por overdose deve ser piada, se o número é zero, para diminuir alguém deveria ter ressuscitado, não é mesmo?

      Argumentar que menos pessoas serão presas com a legalização é no mínimo ridículo, legalizar o assassinato também diminuirá o número de prisões. Você argumento sobre um monte de coisas que eu não disse, mas que outros dizem, portanto argumentou com a pessoa errada sobre essas questões. Meu questionamento foi simples e direto: quais são os benefícios da legalização da maconha? O mais perto que você chegou foi dizer que o consumo de maconha não aumenta, quando benefício seria diminuir, portanto não foi apresentado nenhum benefício.

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