quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Artigo de Simone Frattini, acadêmica de Medicina da Universidade Gama Filho, fechada pelo Mercadante e pela Dilma

Em 1808, Dom João criou a primeira escola médica no país. Em 2012, a USP revelou que há 198 instituições ensinando Medicina no Brasil, um dos maiores índices mundiais. Só nos últimos 17 anos, surgiram 96 novos cursos. A maioria em instituições privadas. Com esse baby boom, era de se esperar que o Ministério da Educação fiscalizasse e cuidasse bem das novas escolas; entretanto, também deveria estar atento às antigas e já renomadas instituições.

Mas o MEC não estava atento... Não percebia o risco de morte de uma das mais tradicionais: a Universidade Gama Filho, responsável por formar médicos desde 1965. Ao olhar apenas para o novo, o MEC se descuidava de quem estava respirando por aparelhos.

Fossem médicos, os responsáveis pelo ministério ouviriam o bip-bip, tão comum nos CTIs, falhando. A Gama Filho começou a fraquejar no fim de 2011. Alunos e funcionários se manifestaram. O MEC, que, além de não ser médico, não prima pelo cuidado, não se mexeu. Os sintomas estavam lá. A infecção se alastrava, e a morte seria questão de tempo. Se fosse médico, teria percebido a gravidade do caso e poderia salvar a vida de quem ele deveria estar cuidando.

Em 2013, enquanto se falava da contratação de médicos estrangeiros, cerca de dois mil acadêmicos de Medicina da Gama Filho lutavam para continuar seus estudos, em uma instituição moribunda. Sem assistência do MEC, tanta vontade de sobreviver não bastaria...

Mas precisamos de mais médicos. Principalmente bons! Por que, então, não cuidar dos acadêmicos de Medicina? Por que importá-los de outros países? Por que criar mais vagas? Fosse o MEC um médico, saberia que não se cobre um machucado profundo com band-aid. Dependendo da lesão, há que se fazer cirurgia. De outro modo, ela continua lá. E dói e mata do mesmo jeito...

Em 12 de dezembro de 2013, foi autorizada a abertura de 560 vagas em cursos de Medicina. Até 2017, serão abertas mais 11.447. O baby boom continuará, sem garantias de que essas novas possibilidades serão bem cuidadas. Criar vagas não é tão complicado. Difícil é manter a qualidade e ter certeza de que a educação médica no país está crescendo forte e saudável. Ao que parece, não está.

Fosse o MEC um médico, saberia que não basta colocar filho no mundo. É preciso cuidar, alimentar, vacinar... Mas o ministério não é médico. Não entende nada de Medicina.

Aliás, o MEC e o Ministério da Saúde não se entendem nada bem. O primeiro abandona os acadêmicos em um país que grita “Mais médicos”. Fosse o MEC médico, saberia que, se uma população precisa de remédio, não adianta dar placebo. Uma vez, li que quem tem fome tem pressa. Quem está morrendo também. Os primeiros dez minutos no atendimento de emergência são cruciais para a sobrevivência do paciente.

Ainda bem que o MEC não é médico. A esta altura, nós, estudantes de Medicina da Universidade Gama Filho, já estaríamos todos mortos.

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