Sempre gostei de Sebastião Neri, apesar dele ter sido um
Brizolista doente - e arrependido, diga-se de passagem, tendo sido expulso do
PDT por denunciar maracutaias dos políticos do próprio partido. Neri teve sua
época áurea (1978-80) quando tinha até programa diário na TV Bandeirantes.
Sempre muito bem informado e relativamente imparcial, Neri caiu em desgraça
quando apoiou a eleição vitoriosa de Collor para presidente (como prêmio foi
nomeado adido cultural em Roma e em Paris). Ao voltar, após a queda de Collor,
parece que levou um gelo geral e passou a escrever para jornais pouco
expressivos, o que continua fazendo até hoje.
Apesar de uma ou outra eventual idiossincrasia, minha
avaliação de Neri é positiva.
Em novembro passado, ele escreveu o seguinte artigo na Tribuna
da Imprensa:
Zum, zum, zum, está faltando um
Contei esta historia aqui em 25 de setembro do ano passado.
Tarde de sábado do começo de 2003 no restaurante Piantella, o melhor de
Brasília. Lula havia ganho as eleições presidenciais de 2002 contra José Serra
e estava em Porto Alegre, com José Dirceu e a cúpula do PT, discutindo com o PT
gaúcho a formação do novo governo.
Como fazíamos quase todas as tardes de sextas e sábados, um
grupo de jornalistas almoçávamos a um canto,conversando sobre política e o
pais.
De repente, entram nervosos, aflitos, os deputados Moreira
Franco, Gedel Vieira Lima, Henrique Alves, da direção nacional do PMDB, e
começam a discutir baixinho, quase cochichando. Em poucos instantes, chega o
deputado Michel Temer, presidente nacional do PMDB. Nem almoçaram. Beberam
pouca coisa, deram telefonemas, saíram rápido.
Nada falaram. Acontecera alguma coisa grave. Deviam voltar
logo.
LULA
Só um voltou e nos contou a bomba política do fim de semana.
Antes de viajar para o Rio Grande do Sul, Lula encarregara José Dirceu,
coordenador da equipe de transição e já convidado para Chefe da Casa Civil, de
negociar com o PMDB o apoio a seu governo, em troca dos ministérios de Minas e
Energia, Justiça e Previdência, que seriam entregues a senadores e deputados
indicados pelo partido.
Lula já havia dito ao PT que eles não podiam esquecer a
lição da derrubada de Collor pelo impeachment, que o senador Amir Lando, do
PMDB de Rondônia, relator da CPI de PC Farias, havia definido como uma
“quartelada parlamentar”. No Brasil, para governar é preciso ter sempre maioria
no Congresso. O PT tinha que fazer as concessões necessárias.
DIRCEU
O primeiro a ser chamado foi o PMDB, o maior partido da
Câmara e do Senado. Lula mandou José Dirceu acertar com o PMDB. Combinaram os
três ministérios e ficaram todos felizes. Em Porto Alegre, na primeira noite,
Lula encontrou a gula voraz do PT gaúcho, que exigia os ministérios de Minas e
Energia, da Justiça e da Previdência. Lula cedeu. Chamou Dirceu e deu ordem
para desmanchar o acordo com o PMDB.
Dirceu perguntou como iriam conseguir maioria no Congresso.
- Compra os pequenos partidos, disse Lula a Dirceu. Fica
mais barato.
Dilma virou ministra de Minas e Energia, Tarso Genro da
Justiça e Olívio Dutra das Cidades. O PMDB seria substituído pela compra dos
“pequenos partidos” : PTB, PL, PP, etc. E assim nasceu o Mensalão.
PATRÃO
O advogado do ex-deputado Roberto Jefferson, o brilhante
jurista Luiz Francisco Correa Barboza, disse ao “Globo”:
-”Não só Lula sabia do Mensalão como ordenou toda essa
lambança. Não é possível acusar os empregados e deixar o patrão de fora”.
No dia 12 de agosto de 2005, em um pronunciamento pela TV a
todo o povo brasileiro, Lula pediu “desculpas pelo escândalo”.
Lula é um “cappo”. Os companheiros do partido e do governo
na Papuda e ele, só ele, de fora. Logo ele que é o grande réu, “o réu”. Dirceu,
Genoino, Delúbio, Valério, a malta toda, como disse o Procurador Geral da
República, era uma “organização criminosa”, uma “quadrilha” chefiada pelo
Dirceu. (Mas sob o comando do Chefão, Lula).
SUPREMO
Desde 2003, cada ano relembro essa historia. Lula começou
dizendo que “não sabia de nada”. Depois, passou para : “Fui traído pelas
costas”. E, finalmente, a tese oficial dele e do PT : – “O Mensalão foi uma
farsa”.
E Lula arranjou ajudantes na desfaçatez para agredir o
Supremo Tribunal. Delubio:- “O Mensalão é uma piada de salão”. Um gaúcho
baixotinho, que veio não se sabe de onde e virou presidente da Câmara, Marco
Maia, cuspiu no Supremo: “O Mensalão é uma falácia”.
Ele não sabe o que é falácia. Mas cadeia ele sabe. Quando
for visitar na Papuda sua turma, Dirceu, Genoino, Delubio, Valério, ele vai
aprender.
Quem tinha de estar na Van da frente era Lula, o Chefão.
Como diz a marchinha do Paulo Soledade, Zum, Zum, Zum, na Papuda está faltando
um.
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