domingo, 12 de janeiro de 2014

As malas-artes

Não sei se motivado por um comentário meu onde eu digo que as novelas são arte e ficção - publiquei como post aqui -, como tal, não têm que necessariamente apresentar padrões morais, sejam eles quais forem, Rodrigo Constantino resolveu fazer uma incursão nas artes. Comento depois.

A beleza importa. Ou: Para o inferno com Duchamp!

Poucas coisas me tiram mais do sério do que o relativismo estético (e moral) da atualidade, onde “tudo é arte”, ou seja, nada o é. Igualitários invejosos que lutam contra a “ditadura” da beleza representam o câncer da pós-modernidade. Ao destruírem valores estéticos que sempre foram enaltecidos na civilização, essa gente pretende destruir a civilização em si. São “desconstrutivistas” pois não sabem construir nada, apenas chacoalhar o que existe de melhor no mundo.

Muito dessa baboseira toda começou ou ganhou força com as “obras de arte” de Duchamp. Passou a ser “cool” elogiar qualquer porcaria, só por ofender, chocar, ridiculizar a verdadeira arte. O belo não existe! Tudo é subjetivo! Tudo é relativo! Cada um chama de arte o que quiser! E com tal mentalidade obtusa, eis o que foi parido, literalmente no banheiro:


O local de obrar parece adequado para certos “artistas” e suas “obras”. Só tenho uma coisa a dizer: para o inferno com Duchamp! Ou melhor: para a privada com ele! Sua obra merece nada mais do que o aperto de uma descarga, para ir ao destino adequado, que é o esgoto.

Com essa revolta que sinto contra os detratores da beleza, adorei a imagem que o colega da Veja, Jerônimo Teixeira (que, aliás, traz ótima entrevista nas páginas amarelas dessa semana com o rabino e filósofo inglês Jonathan Sacks, justamente sobre o relativismo moral do nosso tempo), postou hoje em sua página do Facebook:


Nada como a ironia para ridicularizar essa turma mesmo. A pergunta: “Desde quando isso é mais atraente que isso?” Em seguida, a mensagem: “Acabem com os impossíveis padrões definidos pela mídia. Todos os hambúrgueres são bonitos”. Agora pergunto ao leitor: alguém realmente seria indiferente em relação aos dois sanduíches da foto? Alguém acha que não tem a menor importância a apresentação, a imagem, o aspecto? Responda depois, em silêncio, diante do espelho.

Comento:

O Rodrigo, está confundindo as coisas. A arte não tem compromissos, mas quem a percebe sim. Picasso fazia arte? Sim, só que, particularmente, eu acho quase tudo dele uma grossa porcaria, uma carregação.

Leiam o que ele disse sobre a sua própria obra:

“Desde que a arte deixou de ser o alimento dos bons, o artista pode usar seu talento para todas inspirações e pirações de sua fantasia. O povo não encontra mais nesta arte nenhum tipo de consolo ou sublimação. Contudo, os mais vivos, os ricaços, os improdutivos e os charlatões, procuram nesta arte novidade, extravagância e usurpação.

Desde o cubismo, até antes mesmo, satisfaço estes críticos com infinitas piruetas que me ocorreram. E quanto mais malucas foram as minha idéias e quanto menos conseguiram interpretá-las, mais as admiravam.

Através destas brincadeiras e arabescos, tornei-me famoso em pouco tempo. E fama, representa para o artista muita venda, capital e riqueza.

Hoje, eu não sou apenas bastante famoso, como também muito rico. Contudo, quando estou sozinho, refletindo..., chego a conclusão de que não sou um artista (no verdadeiro sentido da palavra). Grandes artistas foram Giotto, Rembrandt.

Eu sou apenas um palhaço que compreendeu a burrice, a avareza e a arrogância dos meus conterrâneos, sabendo explorá-los de todas as maneiras”.

Madri - maio de 1952 - Pablo Picasso

Apesar da conclusão de que não era um artista, Picasso continuou fazendo “arte” até morrer, até porque, para o mundo inteiro, ele continuava a ser um artista. O tal “desde que a arte deixou de ser o alimento dos bons”, define tudo. Munch, Duchamps, Dali, o próprio Picasso e muitos outros, até Bosch no Século XV, têm obras que são verdadeiros atentados ao bom gosto, umas porcarias que ninguém teria coragem de exibir em casa. Mahler tem algumas obras que, de tão cacofônicas, meus ouvidos não suportam. As novelas de hoje, que são pobres em conteúdo e riquíssimas em tecnologia, também são arte. Aliás, tudo isso continua sendo arte, independentemente de ser, para mim, uma péssima arte.

O que Rodrigo passa com esse tipo de opinião não combina nada com quem se diz tão liberal. Como disse o Milton em um comentário anterior, isso mais parece um “marxismo de direita” - eu diria stalinismo -, onde só há duas vertentes, mesmo nas artes: o bem, obviamente representado pelos amigos e escolhidos, e o mal, por todo o resto que não reza pela mesma cartilha.

Não sei, mas espero que Rodrigo não tenha sido mordido pela mesma mosca azul que picou Olavo de Carvalho e Reinaldo Azevedo, os detentores da verdade absoluta, os “incriticáveis”.

10 comentários:

  1. Arteiros ou não, o patrulhamento é violento.

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  2. Ric
    Primeiramente, quero agradecer pelo relógio da saída do poste brasiliense. Mesmo que não se transforme em verdade, deu-me uma espécie de refrigério ao vê-lo, hoje.
    Concordo com tudo o que disse e mostrou de Picasso, um excelente "comerciante de arte", como ele mesmo disse.
    Mas vamos dar um desconto. Em sua fase azul e rosa, ainda era um artista. Até 1906, com o Retrato de Gertrud Stein, via-se a arte. É até onde eu o respeito. Em 1907, quando começa a fase cubista, com Demoiselles D'Avignon, é que entra o comerciante. Cérebro atilado, deu aos criticos e ao povo o que ele gostava, e ganhou dinheiro com isso. Mais ou menos como o PT vem fazendo. Dá ao povo idiota o que ele gosta, eles o mantém no poder e ganha muito dinheiro com isso.

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    1. Concordo, tanto que eu disse "quase tudo". Talento, ele tinha, mas a vontade de ganhar dinheiro foi muito maior.

      Quanto ao relógio do poste, eu, que não sou chegado a botar as mãos para os céus, estou até rezando todos os dias. Pelo visto, é o que nos resta...

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  3. Já que você mencionou o comentário onde usei o termo "marxismo de direita", vou perguntar o seguinte: você já tentou fazer uma pesquisa para ver quem fala mais mal da Globo? Eu não fiz a pesquisa, mas tenho a impressão que a diferença é pequena e pelo mesmo motivo, a Globo não disse o que eles esperam que diga.

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    1. Bom, não se bate em cachorro morto. Perto da Globo, todas as outras emissoras são irrelevantes, logo, ela passa a ser o alvo predileto de todos os "intelequituais", unânimes em considerar a televisão um tipo de cultura de segunda classe. Acham que fazem cocô cheiroso.

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  4. Dos contemporaneos de Picasso há dois pintores que eu gosto muito, Amadeo Modigliani e Diego Rivera, nao aprecio Frida Kahlo como pintora, aprecio a pessoa dela o que representou na epoca.
    O unico quadro do Picasso que eu gosto é "Garcon à la pipe" Penso que foi pintado em 1905, é lindissimo, vi pessoalmente e gostei, nao é a obra mais linda do mundo, mas, é bonita, muito bonita.
    As obras do Diego Rivera me encantam, procuro nao pensar no caracter dele,mas, somente na arte, gsoto muito.
    Cubismo tradicional do Braque tem obras apreciaveis, para o meu gosto, nao sou critica de arte e nao acredito nos criticos, sei que eles existem.
    O cubismo nao tradicional de Jean Metzinger me agrada muito, a obra "Femme au Cheval", é lindissima.
    Renoir pintou um jarro muito simples que é belissimo, se nao tivesse a assinatura Renoir certamente nao representaria o que representa em quesito arte, eu gosto e muito, é lindissimo, talvez pela simplicidade.

    Lembro que quando ainda estavamos na Espanha, 1995, a Yoko Ono esta preparando uma exposicao em Barcelona, os objetos expostos seriam vasos sanitarios, sequer lembro a dimensao da tal exposicao, mas sei que o tema era: vasos sanitarios.
    Um belo exemplo de uma arteira.
    Eu que nao tenho "nome" nao poderia fazer uma exposicao com latinhas de leite condensado, já uma Yoko Ono pode. Ja vi muita coisa absurda, candelabros gigantescos feitos com Allways ultra ou flores gigantescas feitas com tubos de maionese. Canvas enormes com um prego no centro e uma assinatura ao pé do quadro. Tambem vi paredes cobertas com cupons de descontos distribuidos por super-mercados como Carrefour,Lidl e outros. Já passei muitas tardes tortuosas vendo nada.

    Gustav Klimt enche os meus olhos de alegria.

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  5. Tudo isso é arte, mas depende de quem a aprecia (no sentido de julgamento). Meu gosto é muito careta. Por exemplo, eu não penduraria um Modigliani na parede da minha sala e selecionaria os Van Gogh, Gauguin, Cesanne e Monet, mas para Renoir, Pissarro, Ingres e Manet, sempre teria um lugar vago, para falar apenas dos impressionistas.

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  6. Aprecio muito as obras de Magritte.

    Eu vivo em um lugar onde no comeco do seculo passado muitos artistas belgas vieram para viver e para trabalhar nasceu a escola latemse, arte flamenca expressionista.
    Há muitos museus e galerias de arte ao meu redor.

    Se tiver interessado em ver algumas obras de arte da escola latemse aqui vai o link:

    http://www.mskgent.be/en/collection/1900-the-first-group-of-sint-martens-latem/first-group-of-sint-martens-latem

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    1. Bela coleção, Theresa, só agora, um ano depois, dei conta do seu comentário.

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