domingo, 29 de setembro de 2013

Preguiça e burrice contagiosas atinge jornalistas, professores e políticos - a etimologia de “aluno”

Sergio Rodrigues em seu blog na Veja, o “Sobre Palavras”, descreveu um absurdo etimológico que, pelo visto, está prestes a virar verdade absoluta, já que jornais, jornalistas, professores e até deputados-professores como Chico Alencar andam adotando e divulgando o disparate sobre a origem da palavra “aluno”.

Saí catando adeptos do contrassenso e, só na primeira página da busca no Google, consegui mais que o suficiente. Vejam:

“A palavra aluno vem do latim, em que a letra a corresponde a ausente ou sem e luno, que deriva da palavra lumni, significa luz. Portanto, aluno quer dizer sem luz, sem conhecimento.”

“A palavra ‘aluno’ tem origem do latim, onde a corresponde a ‘ausente ou sem’ e luno, que deriva da palavra lumni, significa ‘luz’. Portanto, aluno quer dizer sem luz, sem conhecimento. Não foi por acaso que Jesus exclamou: Eu sou a luz do mundo.” Ensinar é aprender - Ivone Boechat

“Drago tirou o nome para sua exposição da raiz latina da palavra ‘aluno’, que significa ‘sem luz’. ‘Foram os dias de mais luz da minha vida.’ Por sorte, captados em sua máquina.” Gilberto Dimenstein - Alunos luz
(http://aprendiz.uol.com.br/content/licelicoge.mmp)

“Marcos Meyer, psicólogo especializado em educação infantil, afirmou que para fomentar a autonomia da criança, ela deve instiga-la a aprender. Segundo ele, “’devemos deixar as crianças pararem de ser alunos e passarem a ser autoras a partir da luz dos educadores’, fazendo alusão à etimologia da palavra aluno que significa ‘sem luz’”.
(http://aprendiz.uol.com.br/content/cufrochece.mmp)

“É curioso lembrar que “aluno” vem do grego e significa “sem luz”. “A” como negativa, aquele a quem falta a luz. E o mestre, na concepção tradicional, seria o portador de uma chama divina. Não por acaso o 15 de outubro é consagrado aos mestres por causa da mestra da espiritualidade, Santa Teresa DÁvila, mas não temos de ter a pretensão da santificação nem de iluminações especiais.”
Chico Alencar - deputado federal -
(http://www.chicoalencar.com.br/chico2004/chamadas/2007/pronunc18102007b.htm)

“A palavra “aluno” tem origem do latim, onde “a” corresponde a “ausente ou sem” e “luno”, que deriva da palavra lumni, significa “luz”. Portanto, aluno quer dizer sem luz, sem conhecimento.
Fonte: Portal das Curiosidades”
(http://www.megacubo.net/origem-palavra-aluno/)

“lí em um texto que refere-se à paixão de conhecer o mundo uma frase ,que se lí corretamente é de madalena freire:”...o alfabetizador não alfabetiza o aluno;(aluno/sem luz,uí) ele é apenas o mediador entre o aprendiz e a escrita,entre sujeito e objeto...”
(https://www.listas.unicamp.br/pipermail/ead-l/2005-May/021410.html)

“Conceitos de autoridade e autoritarismo são facilmente confundidos atualmente. Para aquele que vê o educando como na Grécia Antiga, ou seja, “aluno” (sem luz), o autoritarismo será à base das tais relações. Entretanto, quando o educador vivencia uma relação de ensino-aprendizagem afetiva, a autoridade acontece automaticamente (respeito, tolerância, etc.).
É necessário repensar!”
(http://www.ulbra.br/esferaazul/atualidades/atual156.htm)

“Pedro estava decidido: vou ser professor de História. Fez o seu vestibular e passou. É verdade que passou lá nos últimos lugares, mas - ufa! - passou. Como estudante foi um aluno na verdadeira concepção da palavra: sem luz. Lembro que a palavra aluno origina-se do latim e quer dizer sem luz: a, que quer dizer distante de e lux que quer dizer luz. Era um aluno assíduo e, durante o seu curso, pouco faltou aulas.”
(http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/repre.htm)

 “Aluno não é mais aluno: é educando, pois, como se sabe, a palavra “aluno” significa “sem luz”. Vê-los como seres “sem luz” é inadmissível e não louvar sua cultura pessoal (quase sempre televisiva e de gueto) é fascismo. Ensinar alta-cultura e valorizar a erudição é entendido como deplorável elitismo fora da realidade.”
(http://www.jornalopcao.com.br/index.asp?secao=Reportagens&idjornal=129&idrep=1210)

“A idéia de uma livre expressão desse aluno, poderia se tornar uma ameaça para os sistemas educacionais em questão. O aluno é o ser sem-luz (alumni) portanto, incapaz de refletir acerca de sua própria existência.”
(http://www.orecado.org/?p=92)

Agora o artigo do Sérgio:

A palavra “aluno” tem origem no latim, onde ‘a’ corresponde a “ausente ou sem” e ‘luno’, que deriva da palavra ‘lumni’, significa “luz”. Portanto, aluno quer dizer sem luz, sem conhecimento. Pedagogicamente não deve ser mais utilizada, pois, segundo Paulo Freire, toda criança traz consigo uma bagagem, portanto ela não é um papel em branco onde o professor irá escrever novos conteúdos.

O texto acima apareceu num fórum internético e foi considerado a melhor resposta à seguinte questão: “Qual é a origem da palavra aluno?”. Reproduzo-o aqui porque, com sua marra politicamente correta, ele dá uma boa ideia da razão pela qual essa velha e furadíssima lenda etimológica tem vivido um momento de ouro nos últimos anos, circulando pela internet – inclusive em sites supostamente respeitáveis – em formulações parecidas com esta, que transcrevo de forma literal:

Não é nada disso. Aluno veio do latim alumnus, “criança de peito, lactente, menino” e, por extensão de sentido, “discípulo”. O verbo ao qual se liga é alere, “fazer aumentar, nutrir, alimentar”. Uma consulta simples a qualquer dicionário etimológico resolveria a questão.

Curiosamente, isso parece estar fora do alcance de muita gente envolvida em atividades pedagógicas, campo em que a asneira tem vicejado. O fermento que nutre a desinformação é ideológico: a falsa etimologia, afinal, denunciaria a visão estreita da pedagogia que se recusa a ver o estudante como um igual do professor, alguém que tem tanto a ensinar quanto a aprender, coisa e tal.

O irônico é que, com professores assim, isso acaba sendo verdade, ainda que pelas razões erradas.

Bom, quanto a Paulo Freire, eu acho até que é bem possível que ele tenha compartilhado - ou até mesmo criado - essa versão absurda. Já Chico Alencar não surpreende mais ninguém pelas besteiras que diz.

3 comentários:

  1. Criei esta: ATENÇÃO, onde o A significa sem e o TENÇÃO é a energia elétrica, portanto "atenção" é sem energia, Desta forma fica explicado o que acontece com essa "thiurma", a atenção deles é igual ao apagão na rede elétrica.

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  2. A palavra “aluno” não significa “sem luz”.



    Certa vez ouvi em uma palestra que a palavra “aluno” significava “sem luz”. Verificando na internet vários artigos que corroboravam com a ideia, passei a divulga-la em minhas palestras e em alguns artigos. Minha postura, claro, foi sempre a de crítica, contrário ao fato de considerarmos as crianças como se nada tivessem no cérebro, pois a ciência e a simples observação mostram o contrário. As crianças são cheiras de luz, de criatividade, inteligência, disposição para aprender, curiosidade e uma necessidade muito grande de se tornarem cada vez mais autoras em vez de “copiadoras” da luz do mestre. Essa foi sempre minha mensagem.
    Entretanto, a palavra aluno não significa “sem luz”. Isso é um mito, um equívoco, uma interpretação superficial da raiz da palavra. Segundo o dicionário Houaiss "aluno" vem do latim Alumnus, que significa "criança de peito, lactente, menino, aluno, discípulo", der. do verbo alére "fazer aumentar, crescer, desenvolver, nutrir, alimentar, criar, sustentar, produzir, fortalecer” etc. Ou seja, aluno significa “aquele que necessita de leite”. E o que tudo isso quer dizer? Em primeiro lugar significa que eu transmiti um conceito etimológico errado e assumo aqui que fiz isso. Em segundo lugar, mais uma vez aprendi que fontes de internet devem ser sempre verificadas, pois há muito lixo espalhado pela rede. Em terceiro lugar reforço a ideia de que apesar do significado da palavra aluno não ser “sem luz”, muitos professores ainda o tratam assim. Agem como se os alunos fossem seres incapazes de pensar por si mesmos e os mantém na posição passivo-aceitante que não questiona e não cria, apenas copia.
    Está na hora dos professores modificarem sua postura e se tornarem mediadores. O teórico mais importante a respeito do tema é o recém-falecido professor israelense Reuven Feuerstein.
    Sua teoria a “Teoria da Modificabilidade Estrutural Cognitiva” ou teoria da “mediação” fundamenta a prática do professor, especialmente no que diz respeito à forma de interagir com os alunos.
    Sendo mediados, os alunos não apenas aprendem os conteúdos escolares, mas aprendem a contextualizar, construir significados, relacionar conceitos de diversas disciplinas e, principalmente, a aprender a aprender. Ajudar o aluno a desenvolver essa autonomia não é fácil. O professor precisa deixar de agir de acordo com os paradigmas do passado e passar a agir como um mediador.
    Um abraço,
    Marcos Meier

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    1. (argento) ... Parabéns! - precisamos, com certa urgência, mudar (abandonar) o "velho" paradigma (nada velho) das relações entre seres, castas e raças superiores e inferiores, uma relação de Domínio (domínio / servidão) onde, literalmente, tudo pode ser justificado para mante-lo. Atenção é necessária quando a relação envolve Sutilezas Ideológicas; por exemplo: ao relacionar Aluno a Sem Luz, mantém (define) a noção entre um (ente) superior e um inferior, por uma Corrente interessada em "vender" (impor, manter e lucrar) o PARADIGMA que sustenta o Sistema, sistema este baseado em Crenças onde o Inferior-submisso é "Transformado" (convertido), por Convencimento ou Força Bruta, naquilo em que, finalmente, acaba acreditando ser (1984 - George Orwell, Revolução dos Bichos, do mesmo autor) ...

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