O Ministério da Saúde selecionou para o programa Mais
Médicos um profissional suspeito de ter mutilado e causado lesões corporais em
pelo menos 15 mulheres em Manaus. Ex-deputado federal, Carlos Jorge Cury
Mansilla, 56 anos, começa a trabalhar hoje em um posto de saúde no município de
Águas Lindas de Goiás (GO).
Em fevereiro último, Carlos Jorge Cury Mansilla, médico, foi preso por mutilar dezenas de mulheres em Manaus, em cirurgias plásticas para as quais não tinha especialização. |
Até o momento, foram concluídos 15 inquéritos policiais no
Amazonas. Segundo o delegado Mariolino Brito, as vítimas sofreram sequelas
físicas e mentais, após passarem por procedimentos cirúrgicos com Mansilla. O
próprio médico assume não ter especialidade médica em cirurgia. Entretanto,
conta que trabalhou por 28 anos como cirurgião-geral do Hospital Regional de
Guajará-Mirim, em Rondônia, e já realizou cerca de 20 mil operações. “No
interior do Norte, minha filha, nós somos especializados em tudologia”, afirmou
ontem ao Correio.
As pacientes procuraram o médico para realizar cirurgias
estéticas. Celiane Eduardo Santos foi uma das mulheres que entraram na Justiça
pedindo indenização de R$ 108.690 por danos causados em uma cirurgia de redução
das mamas. “Eu tive de realizar três procedimentos. No primeiro, eu não fiquei
com o tamanho do seio que tínhamos acertado. Tentamos mais uma vez e não deu
certo. Na última, ele já me atendeu muito mal e senti muita dor na anestesia,
que ele mesmo aplicou”, conta.
No fim de julho deste ano, o Conselho Regional de Medicina
do Estado do Amazonas (Cremam) interditou o registro de Mansilla. A partir daí,
o médico ficou proibido de exercer a profissão por seis meses em qualquer lugar
do Brasil. “É um absurdo um profissional realizar cirurgias sem que tenha
especialização”, critica o presidente do Cremam, Jefferson Jezini. O médico
também está certificado em Rondônia. Lá, Mansilla já havia sofrido suspensão da
certidão por 30 dias, pois contou com a ajuda de um anestesista sem registro no
Conselho Regional de Medicina (CRM) durante um procedimento.
Carlos Mansilla afirma que é inocente. “Até hoje não existe
um laudo que confirme as acusações.” Para o médico, as mulheres fizeram
denúncias, pois ficaram insatisfeitas com o resultado. O delegado Mariolino
Brito conta que a maioria das vítimas passou por exames de delito e sofreram
sequelas irreversíveis. “Algumas mulheres chegaram a ser mutiladas. As vítimas
sofreram lesões nos seios, abdômen, barriga, bumbum”, detalha. Em janeiro deste
ano, a polícia civil de Manaus chegou a pedir a prisão preventiva de Mansilla,
porém, com um salvo-conduto, expedido pelo juiz da 8ª Vara Criminal, o médico
escapou de ficar preso.
Segundo Mansilla, a decisão de se inscrever no Mais Médicos
foi para ter uma nova chance na profissão. O suspeito alega perseguição de
colegas e diz que nem chegou a ser ouvido pelo Cremam. “Eu nunca vou deixar de
ser médico. Por que eu não posso trabalhar sem CRM, se os cubanos, paraguaios,
bolivianos podem?”, reclamou. Cury também exerceu o cargo de deputado federal,
como suplente, pelo PPB (RO), entre 22 de abril e 8 de setembro de 1999, e de
secretário de Saúde de Guajará-Mirim, em abril do mesmo ano.
De acordo com o Ministério da Saúde, Mansilla se inscreveu
no Programa Mais Médicos, porque um desses cadastros está ativo junto ao
Conselho Federal de Medicina (CFM). A pasta informou que fará uma consulta ao
órgão e aos CRMs do Amazonas e de Rondônia solicitando um parecer sobre a
situação ética do médico. O CFM afirmou não ter sido comunicado oficialmente
sobre o caso e se colocou à disposição do Ministério da Saúde para fornecer
mais informações
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