Prezado senador Aécio Neves,
Talvez você tenha visto a carta aberta que escrevi para seu
colega José Serra, fazendo um apelo para que ele não só desista da candidatura
própria, como permaneça no PSDB lhe dando apoio. Saberemos a decisão dele em
poucos dias.
Agora é a vez de me dirigir a você. Posso compreender que o
“jeito mineiro” de fazer política é diferente, mais “low profile”, discreto,
comendo pelas beiradas. Mas não posso concordar com uma postura tão cordial e
amigável como a que tem sido adotada até agora. Vamos conversar? Vamos bater um
“papo reto”?
Vamos. Aécio, o Brasil vive um momento bastante delicado,
caso ainda não tenha notado. Corremos o sério risco de virar uma Venezuela, uma
Argentina. Àqueles que duvidam, vale lembrar que os venezuelanos nunca pensaram
que seriam a próxima Cuba, e os argentinos jamais acreditaram que seriam a
próxima Venezuela.
O PT aparelhou toda a máquina estatal, e isso inclui o STF.
O bastião de resistência tem sido a imprensa, ou uma pequena parte dela,
justamente aquela difamada e acusada de “golpista” pelos verdadeiros golpistas.
Esta Veja aqui é uma das últimas vozes com coragem de fazer oposição firme ao
projeto bolivariano do PT. O risco é sério.
E uma das principais preocupações que temos – nós todos que
não desejamos virar a próxima Venezuela – é a acovardada oposição política. Basta
salientar que o PSB de Eduardo Campos, até ontem governo, passou a ser uma das
grandes esperanças de muitos empresários. Um partido que se diz socialista e
foi governo com o PT nos últimos 10 anos! Entenda nosso desespero, Aécio.
O que me remete ao meu apelo: seja oposição! Não tente
competir com o PT em “simpatia popular”, em bandeiras “progressistas”, pois
nisso eles têm o monopólio do discurso. Conseguiram criar uma narrativa de que
são o povo, defendem o povo, e representam a esquerda. Você vai realmente
enfrentá-los sendo parecido com eles, atuando no mesmo tom, ou em cinquenta
tons diferentes de vermelho? Derrota certa.
Eles têm o Lula, mito popular. O Bolsa Família, esmolas que
compram votos populares. E cerca de um terço do eleitorado fiel à legenda.
Esses votos já são deles, Aécio. Se você tentar ser “um pouco melhor” ou “um
pouco diferente” do PT, para “fazer mais”, não vai convencer ninguém.
Para ter mais do mesmo, essa gente vai de PT, pois já
conhece e sabe o que esperar (ainda que não saiba o resultado final disso).
Essas pessoas enxergam o PSDB como “elitista”. E isso não vai mudar com
maquiagem de marqueteiro algum.
Por falar em marqueteiro, li na Folha essa semana que o seu
pensa que o mensalão não comove os eleitores. Como assim? E a classe média? E
os 20 milhões de votos que teve Marina Silva? Marina. Falemos um pouco dela. O
que é esse fenômeno?
Marina foi do PT a vida toda, fez parte do governo Lula, e
de repente é vista como alternativa a tudo isso que está aí, por ser
apartidária ou apolítica? Como pode? Maurício Moura, do Instituto Ideia, em
reunião com integrantes de sua campanha, disse: “O mito Marina Silva é muito
superior à candidata Marina Silva”. Exato.
Em eleições, os mitos importam. O que o eleitor pensa que o
candidato representa é determinante. Quem vota em discurso burocrático de “mais
eficiência” na gestão pública? O voto daqueles que sabem que você será mais
eficiente que o PT – o que é moleza, convenhamos – você já tem. Mas e os
demais?
Não, Aécio. Não será com esse tipo de abordagem que os quase
um terço de eleitores ainda indecisos ou de saco cheio da política, sem falar
os quase 20% da própria Marina que não sabemos ainda se vai ou não disputar,
vão migrar para o seu PSDB e digitar 45 nas urnas em 2014.
Qual é o mito Aécio? Quais são as bandeiras tucanas que
realmente diferem tal alternativa do modelo petista que está aí há mais de
década? Ser um pouco menos progressista? Ser um pouco mais eficiente? Ser
esquerdista com perfume francês? Desculpa, não convence, não cativa, não
conquista.
Será que vocês ainda não perceberam que há uma demanda
reprimida enorme por uma oposição de verdade, por alguém que vá claramente
contra esse modelo atual? Sim, eu falo de bandeiras bem mais liberais ou mesmo
conservadoras, firmes, que condenem sem rodeios o bolivarianismo petista, a
degradação de valores morais, tradicionais e familiares, o avanço estatal sobre
nossos bolsos e nossas vidas. Aonde está essa opção?
Não existe. Há uma hegemonia de esquerda na política
nacional, e o PSDB faz parte dela. É apenas mais light, mais civilizado, mais
moderado e bem mais eficiente na economia do que os socialistas do PT. Mas isso
é pouco! Milhões de brasileiros, órfãos de representação político-partidária,
querem mais. Muito mais!
Preencha esse vácuo, Aécio. Suba o tom, deixe claro que não
apenas discorda do governo petista, mas abomina tudo aquilo que essa corja
autoritária tem feito com nosso país. Fale abertamente que, com você, o Brasil
não será a próxima Venezuela ou Argentina mas, ao contrário, voltará a abraçar
o respeito à democracia republicana, e que os Estados Unidos devem ser amigos e
aliados, não a ditadura cubana.
Pensa que isso é suicídio político? Discordo. Suicídio
político é tentar ser parecido com o PT, apenas um pouco melhor. Ou fazer
“oposição” de forma tímida, cheia de cuidados e sorrisos camaradas. É o que
isso, telhado de vidro? Ao aceitar ser candidato, você já sabia o que o lado de
lá iria fazer. É assim que eles jogam: sujo.
O grande equívoco dos opositores do PT e da esquerda radical
sempre foi acreditar que, se sinalizassem uma boa vontade amigável para um
debate mais civilizado, o lado de lá faria o mesmo, sem golpes baixos, sem
demonização do adversário. Acordem!
O PT é um partido capaz de acusar vocês, tucanos, de
“entreguistas”, ao mesmo tempo em que anuncia um leilão de privatização com
participação de vários grupos estrangeiros! Ficar na defensiva é pedir para
apanhar mais e mais.
A definição de canalha é não se importar com o código de
ética aceito pela sociedade, ora bolas! Achar que é possível lidar com essa
turma nos mesmos termos que lidamos com opositores sérios e civilizados é
ingenuidade demais. É convidar um crápula para um chá das cinco na esperança de
que ele vai te aliviar.
E então, Aécio: você será uma alternativa mal definida de
“oposição” ao PT, ou será realmente a imagem de alguém que rejeita com todas as
forças o destino que nos aguarda se o PT continuar no poder? Ainda que tal
imagem seja mais mito que realidade, lembre-se: eleitores votam em mitos, não
em planilhas burocráticas de “choque de gestão”.
Os eleitores brasileiros, os outros 65% que não casam com o
PT “no matter what”, estão carentes de um mito de legítima oposição. Seja essa
oposição, Aécio! Em 2014 não resta nenhuma outra alternativa. Ao povo tem que
ser vendida a seguinte escolha: Venezuela ou Aécio Neves.
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