O pessoal da direita liberal se apressou em condenar o
resgate ou sequestro - chamem do que for - dos beagles utilizados como cobaias supostamente
para fins farmacêuticos por uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público) - mais ou menos uma ONG - de nome Instituto Royal, em São
Roque - SP. Eu, também direita liberal, discordo um pouco.
Não vou entrar em méritos da invasão e retirada dos cães e
nem tampouco da posterior ação destruidora dos black blocs - hoje inevitável em
eventos desse tipo -, mas quero enfatizar que faz um ano que o Ministério
Público investiga a empresa sem que nenhum resultado tenha sido apresentado. Ora,
diante disso, chega a ser patética a declaração do promotor do Meio Ambiente de
São Roque, Wilson Velasco Júnior, ao afirmar que a retirada dos animais do
Instituto Royal prejudicou as investigações.
Não está claro, pelo menos para mim, que fins farmacêuticos
são esses. A princípio a notícia era que a tal Oscip usa os cães para testar
cosméticos e, como o site do Instituto Royal está fora do ar, vou ficar sem
saber ao certo, mas se realmente for esse o propósito, já começo a não gostar.
E com um agravante: segundo a própria empresa, “em muitas das pesquisas, os
cães acabam sacrificados antes mesmo de completarem um ano, para que se possa
avaliar os efeitos dos remédios nos órgãos dos bichos”. Remédios ou cosméticos?
Ontem eu acabei vendo o que não queria ver: as cenas
filmadas da retirada dos bichos pelos ativistas. Se aquilo que eu vi representa
o que o diretor científico do Instituto Royal, João Antônio Henriques, chama de
bons tratos - “Eram tratados com muito conforto, com muito cuidado”, disse ele
-, eu não sei o que será um animal ser maltratado para esse senhor.
Primeiro que era xixi e cocô para tudo que é lado e mesmo
que a gerente, doutora Silvia não-sei-das-quantas, afirme que as baias estariam
sujas porque os funcionários foram impedidos de trabalhar no dia anterior,
aquilo não me parecia “obra” de um dia sem limpeza, o que a doutora, que tem
resposta para tudo, justificou assim: “Conforme 150 pessoas entram dentro de um
lugar como esse, os animais se assustaram. Então essa quantidade de fezes e
urina é justamente pelo estresse provocado por aquele ato”. Então tá, ver gente
dá estresse e estresse dá caganeira e entupir o bicho de cosméticos é que dá alívio...
Mas não é só isso. O que a doutora chama, prosaicamente, de
baias são, na verdade, gaiolas de ferro onde, em cada uma, se espremiam vários
beagles. Isso também não dá estresse não, né mesmo, doutora?
O pior mesmo foi ver cadáveres de filhotes congelados, os
tais que são sacrificados para que se possa avaliar os efeitos dos remédios.
No frigir dos ovos, eu até gostei de ver os cães livres
daquele inferno, muito provavelmente por tê-los visto pela TV. Eu não queria
ver para que meu coração não amolecesse ao julgar os fatos, mas há tantos
absurdos nessa história que, mesmo que meu coração empedrasse, a própria razão
condenaria esse confinamento estúpido.
Que fique claro que eu não sou contra testes com cobaias,
desde os seus sofrimentos e as suas mortes tenham como resultado a salvação de
vidas e não apenas fazê-las perfumadas, que os sofrimentos dos animais sejam
limitados a propósitos exclusivamente científicos e que não se estendam em
função das suas precárias condições de habitabilidade.
E, é claro, que os órgãos públicos, como o MP, sejam
conduzidos por gente que tenha vergonha nas fuças que não apenas finja que trabalha.
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