sexta-feira, 17 de maio de 2013

Falta um Carlos Lacerda na Oposição

João Mellão Neto em seu artigo hoje no Estadão lembra passagens de Carlos Lacerda, meu ídolo político por tudo que fez pelo Rio de Janeiro e, principalmente, pela sua inteligência, sagacidade e coragem. Foi um gênio.

Carlos Lacerda. Um homem que por vezes acertava, por vezes errava, mas nunca se omitia. Era o terror das autoridades de plantão, que tremiam de medo à simples menção de seu nome.

Direta ou indiretamente, Lacerda foi o responsável pela queda de três presidentes da República: Getúlio, Jânio e Jango - e o primeiro acabou por se suicidar. Alguns resistiram às suas demolidoras investidas, porém à custa de grande parte de seu prestígio pessoal. Foi o caso de Juscelino, que o processou (e perdeu) na Câmara dos Deputados, e de Castelo Branco, que nunca conseguiu atraí-lo para o seu lado. Na política nacional, a década de 1950 e parte da de 1960 foram marcadas pela sua mordacidade, quer no Parlamento, quer no seu jornal, A Tribuna da Imprensa, quer nas emissoras de televisão, que sempre lhe deram espaço porque suas revelações eram realmente bombásticas.

Muitos de seus apartes na tribuna da Câmara, de tão arrasadores, acabaram por fazer parte do folclore político nacional. Nos anais da Casa consta que certa vez a deputada Ivete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio, o desafiou:

“Senhor Lacerda, não perderei o meu tempo com Vossa Excelência porque todos aqui sabem que o senhor é o purgante da política brasileira”.

“Eu sou o purgante e a senhora é o efeito dele.”

Em outra ocasião, o líder do governo foi escalado para defender a política econômica então em curso. “Senhores deputados”, iniciou o discurso, “de acordo com as leis do mercado, de autoria de Adam Smith...”.

“Senhor líder, pode me conceder um aparte?”

“Por favor, nobre deputado Lacerda.”

“Eu peço vênia a Vossa Excelência para uma pequena correção. Como deve ser de seu conhecimento, as leis do mercado não são de autoria de Adam Smith, como se diz, mas sim do grande matemático Thomas Windows, que o precedeu.”

“Vossa Excelência está coberto de razão. Segundo as leis do mercado, de autoria de Thomas Windows...”

“Vossa Excelência me concede outro aparte?”

“Pois não...”

“O senhor líder do governo acaba de demonstrar, de maneira cabal, que realmente não entende nada do assunto que pretende abordar. As leis do mercado são mesmo do escocês Adam Smith, enquanto windows não passam de janelas em inglês.”

Lacerda era tido como o homem mais inteligente e culto da política brasileira. Como ele mesmo admitia, havia se preparado a vida inteira para, um dia, vir a exercer a Presidência da República. Os fados do destino, porém, falaram mais alto e ele terminou os seus dias cassado e esquecido.

É difícil fazer uma leitura fria sobre sua trajetória de vida. O fato é que ele arrumou inimigos demais. Brigou com os getulistas e, mais tarde, com os generais. Mas o que se pode dizer a seu favor é que nem antes nem depois de sua passagem pela política brasileira alguém exerceu a oposição com tamanha maestria.

Que falta faz um Lacerda hoje na oposição...

Um comentário:

  1. Pois eh, nem sequer o fantasma dele vagueia pelos corredores. A oposicao nem sequer entrou no armario para depois poder sair de la.

    ResponderExcluir