Carlos Lacerda. Um homem que por vezes acertava, por vezes
errava, mas nunca se omitia. Era o terror das autoridades de plantão, que
tremiam de medo à simples menção de seu nome.
Direta ou indiretamente, Lacerda foi o responsável pela
queda de três presidentes da República: Getúlio, Jânio e Jango - e o primeiro
acabou por se suicidar. Alguns resistiram às suas demolidoras investidas, porém
à custa de grande parte de seu prestígio pessoal. Foi o caso de Juscelino, que
o processou (e perdeu) na Câmara dos Deputados, e de Castelo Branco, que nunca
conseguiu atraí-lo para o seu lado. Na política nacional, a década de 1950 e
parte da de 1960 foram marcadas pela sua mordacidade, quer no Parlamento, quer
no seu jornal, A Tribuna da Imprensa, quer nas emissoras de televisão, que
sempre lhe deram espaço porque suas revelações eram realmente bombásticas.
Muitos de seus apartes na tribuna da Câmara, de tão
arrasadores, acabaram por fazer parte do folclore político nacional. Nos anais
da Casa consta que certa vez a deputada Ivete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio, o desafiou:
“Senhor Lacerda, não perderei o meu tempo com Vossa Excelência porque todos aqui sabem que o senhor é o purgante da política brasileira”.
“Senhor Lacerda, não perderei o meu tempo com Vossa Excelência porque todos aqui sabem que o senhor é o purgante da política brasileira”.
“Eu sou o purgante e a senhora é o efeito dele.”
Em outra ocasião, o líder do governo foi escalado para
defender a política econômica então em curso. “Senhores deputados”, iniciou o
discurso, “de acordo com as leis do mercado, de autoria de Adam Smith...”.
“Senhor líder, pode me conceder um aparte?”
“Por favor, nobre deputado Lacerda.”
“Eu peço vênia a Vossa Excelência para uma pequena correção.
Como deve ser de seu conhecimento, as leis do mercado não são de autoria de
Adam Smith, como se diz, mas sim do grande matemático Thomas Windows, que o
precedeu.”
“Vossa Excelência está coberto de razão. Segundo as leis do
mercado, de autoria de Thomas Windows...”
“Vossa Excelência me concede outro aparte?”
“Pois não...”
“O senhor líder do governo acaba de demonstrar, de maneira
cabal, que realmente não entende nada do assunto que pretende abordar. As leis
do mercado são mesmo do escocês Adam Smith, enquanto windows não passam de
janelas em inglês.”
Lacerda era tido como o homem mais inteligente e culto da
política brasileira. Como ele mesmo admitia, havia se preparado a vida inteira
para, um dia, vir a exercer a Presidência da República. Os fados do destino,
porém, falaram mais alto e ele terminou os seus dias cassado e esquecido.
É difícil fazer uma leitura fria sobre sua trajetória de
vida. O fato é que ele arrumou inimigos demais. Brigou com os getulistas e,
mais tarde, com os generais. Mas o que se pode dizer a seu favor é que nem
antes nem depois de sua passagem pela política brasileira alguém exerceu a
oposição com tamanha maestria.
Que falta faz um
Lacerda hoje na oposição...
Pois eh, nem sequer o fantasma dele vagueia pelos corredores. A oposicao nem sequer entrou no armario para depois poder sair de la.
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