sábado, 5 de setembro de 2015

Mulheres sauditas vão poder votar nas eleições - oh!, que progresso! -, mas ainda são proibidas de dirigir

Elas vão votar assim e a pé. Quanta liberdade!
Todas as sextas feiras, depois de ler as colunas de Rasheed Abou-Alsamh, me dá vontade de cancelar a assinatura do Globo. Para quem não conhece, Rasheed  é um muçulmano travestido de ocidental que escreve verdadeiros cartapácios tentando defender o Islã usando argumentações estapafúrdias e, por diversas vezes, manifestando seu antissemitismo latente.

Nesta sexta o cara resolveu exaltar a especial deferência da monarquia saudita em permitir o voto feminino nas eleições municipais este ano, no dia 12 de dezembro, como se isso tivesse alguma relevância dentro do quadro de escravidão em que vivem as mulheres no Arábia e adjacências, fato que ele mesmo confessa paradoxal ao revelar que elas “não poderão conduzir um carro para chegar ao recinto de votação porque mulheres ainda são proibidas de dirigir no país”.

O mais engraçado é que Rasheed, em seguida, se apressa em dizer que “antes que botem a culpa no Islã, fiquem sabendo que não há proibição alguma na religião. Essa birra contra mulheres atrás do volante é uma coisa cultural muito específica dos sauditas”, o que não faz o menor sentido. Dizer que alguma “coisa cultural” em países islâmicos é desvinculada do Islã é uma grossa apelação.

A Lei Básica de Governo na Arábia (Constituição), que é concedida por decreto real e serve como o quadro constitucional, é baseada no Corão e na Suna, que narra a vida e tradição do Profeta Muhammad. O sistema legal é a sharia (mais ou menos uma jurisprudência baseada em interpretações do Corão), com alguns elementos da lei egípcia e francesa.

E tem mais. Apesar de ter mais de 30% da população composta por expatriados de várias religiões, a maioria das formas de expressão religiosa pública incompatível com a interpretação sancionado pelo governo do Islã sunita são restritas; não-muçulmanos não são autorizados a ter a cidadania saudita e lugares não-muçulmanos de culto não são permitidas.

Ora, diante disso não há como negar que um povo que não tem nem mesmo o conhecimento de nenhuma outra cultura possa manifestar qualquer “coisa cultural” que não seja absolutamente islâmica.

Mas Rasheed prossegue: “A boa notícia é que dois terços dos lugares nos conselhos [nas eleições municipais este ano, no dia 12 de dezembro] vão ser eleitos desta vez, em vez de somente metade. O outro terço vai ser nomeado pelo governo saudita”.

Putzgrila!, quanta condescendência! Isso é boa notícia? A desculpa dada pelo governo para não abrir as portas da democracia é que, como nas últimas eleições os candidatos religiosos se elegeram facilmente, já que usaram a fé do eleitorado para ganhar votos e os liberais quase não registraram presença nos resultados das urnas, é o pavor de ver ultraconservadores no poder. “Nós somos muito mais progressistas do que essas pessoas que vão chegar ao poder pelas urnas”, diz a monarquia mandante.

E, pasmem, Rasheed concorda afirmando que “de certo jeito, no reino, eles estavam certos”.

Por certo as mulheres vão votar, mas sabe-se lá como, já que a escravidão em que continuarão mantidas reduz a zero a importância do fato, a começar por não haver partidos políticos e por não se ter a mínima informação sobre o secretismo dos votos. Em um país onde uma mulher adulta ainda precisa da permissão do pai, marido ou irmão para viajar para fora do país, aceitar um emprego ou abrir uma conta bancária, sem falar em outros absurdos muito maiores, a permissão do voto das mulheres não significa bulhufas.

Rasheed é definitivamente uma piada de mau gosto.

2 comentários:

  1. Apenas por curiosidade, como vão conferir se a mulher que está votando é a mesma da foto do documento?

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    1. (argento) ... dois compadres bêbados como uma porca estavam pescando em um rio

      - Cumpadi, jacaré comeu meu pé.
      - Qual?
      - Não sei, jacaré é tudo igual

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