Acabei de ler um artigo do Luciano Ayan na “Mídia sem
máscara” em que ele afirma que o bolivaro-gramsciano Miguel do Rosário é hoje um
dos principais formadores de opinião do PT, e voltei a 2006, quando ele
escrevia no “Informante” - um site efêmero criado para dar suporte à reeleição
de Brahma - e eu comentava, sendo a a ovelha negra, o único não-petralha do
pedaço e Miguel era uma das minhas vítimas prediletas pela sua incoerência e
sem-cerimônia em ofender a oposição, coisa, aliás, comum a todos os
articulistas de lá, haja vista as suas origens petralhas. Imaginem como eu era
elogiado por lá...
Vou reproduzir aqui um artigo - “A volta dos lacerdistas” - do
Miguel, de 9 de março de 2006, meu comentário e a réplica para vocês verem que
nada mudou no petralhismo.
Miguel do Rosário
Eles sempre existiram, mas seguramente todas essas crises
serviram para colocá-los novamente em evidência. Os indignados. Os éticos. Os
desencantados com a política. Mês passado, após o encontro de Lula com
intelectuais e artistas no Rio, um batalhão de repórteres atacaram os
participantes da reunião com perguntas tipicamente lacerdistas.
- E aí Wagner Tiso, e a ética?
- E a ética, fala? Responde!
- Você continua apoiando um partido que cometeu tantos
deslizes éticos?
A vontade que dá é responder algo como: quero mais é que a
ética vá pra puta que pariu! Ou então essa: por que não pegam essa ética e
enfiam naquele lugar?
Bem, o fato é que o lacerdismo voltou. O lacerdismo é o
interesse sujo político travestido de indignação moral, associado à manipulação
dos ingênuos de sempre, notadamente da classe média. Aliás, o termo lacerdismo
é uma pérola, um verdadeiro tesouro literário. Essa palavra tem que ser melhor
explicada no dicionário.
Acompanhei de perto, muito revoltado, a exploração que o
Globo fez da frase do Wagner Tiso e de outros. Ficou absolutamente claro para
mim que os repórteres do Globo armaram uma armadilha. Fizeram perguntas
idiotas, agressivas, e colheram as respostas que queriam para virar manchetes e
escândalo. Mais uma tentativa ridícula de botar fogo no paiol. Ora, é claro que
os artistas não defendiam a falta de ética. Eles estavam dizendo que não
estavam preocupados com “essa ética lacerdista”, que só vê o rabo do macaco
alheio.
O lacerdismo é uma teoria moral diabólica. Prega a santidade
absoluta dos políticos, o que é a coisa mais impossível do mundo, tirante na
Suíça. Ora, todo ser humano tem sua sombra. Mesmo os mais bonzinhos, fazem das
suas. A mídia tem tentado, a todo custo, mostrar que Lula não é santo. Qualquer
mínimo deslize de Lula vira manchete de jornal. Lembram do auge da crise? Se um
sujeitinho qualquer desfilasse com um cartaz “Fora Lula” no Largo da Carioca,
virava estrela do Jornal Nacional. No Carnaval de Recife, deram o maior
destaque a um cara fantasiado de mensalão, e depois descobrimos - por fontes
não globais - que o sujeito era um vereador do PFL...
Dois jornalistas marrons lançaram o livro Viagens com Lula,
mostrando que o presidente, na intimidade, fala palavrões. Ó! Lula é mesmo um
demônio. Fala palavrão. Os lacerdistas ficaram, naturalmente, indignados, além
de excitados com a esperança de que a revelação causasse um rombo na
popularidade de Lula. Coitados.
Conheço o lacerdismo de perto. Minha mãe (te amo mesmo
assim, mãe) é lacerdista. No auge da crise, a gente conversava sobre uma conta
de telefone perdida, que estava em nome do meu pai falecido. A conta era minha,
mas como eu estava sem dinheiro e revoltado com a Telemar, sugeri a minha mãe
que a gente simplesmente ignorasse aquela dívida. Ela reagiu com uma violência
lacerdista impressionante, misturando as intrigas palacianas com minha tola
leviandade pessoal, tratando-me como se eu fosse o próprio Delúbio Soares.
Nossa relação ficou desgastada por algumas semanas. O lacerdismo da minha mãe,
porém, é de família. Carlos Lacerda morava na Praia do Flamengo, perto do
apartamento onde minha mãe residiu a vida inteira. Conta-se que Lacerda foi um
excelente governador. Construiu escolas, fez túneis, investiu em rede de
esgoto. Entretanto, foi o maior golpista da história moderna brasileira. Além
de grande orador e jornalista político. Grandessíssimo canalha. Pensando bem,
ele era uma espécie de síntese de todos esses colunistas tucanófilos de hoje:
Jabor, Leitão, Merval, Azevedo.
O poder da linguagem é um troço perigosíssimo. Por isso
esses grandes colunistas detêm tanto poder. Não tanto como eles achavam que
tinham, é verdade, mas têm. Distorcem verdades, através da manipulação
maquiavélica de informações. Todo dia vemos isso. Por exemplo, hoje saiu que o
PIB brasileiro cresceu pifiamente nos últimos meses. Entretanto, não se deu
destaque a um fator importantíssimo. O consumo das famílias cresceu 4%. Ora, se
o consumo das famílias cresce 4% mesmo com um PIB baixo, imagine quanto
crescerá quando o crescimento do PIB for maior? Os juros caíram ao menor
patamar desde 1996, ou ainda menos (aliás, não falaram que era o menor em 30
anos?).
Esse
Jeferson Perez... Sempre desconfiei que o sujeito era um mala, mas o
respeitava em função de sua “aparência ética”. Era o lacerdismo me envenenando
sutilmente. Eis que agora o infeliz diz que, por desencanto com a política, vai
abandonar a política em 2010! Ora pois pois, como diriam nossos antepassados à
beira do Tejo. Abandonar em 2010! Com todo respeito à terceira idade, mas um
velho daquele vir falar que vai largar a política em 2010! Penso que será
grande coisa se continuar vivo até lá. Senti-me ofendido, todavia, com a declaração
dele de que o Brasil vive uma podridão moral! Ora, o cara parece até missivista
do Globo! Mais um lacerdista, meu Deus, a nos encher o saco!
Um senador da República dizer uma coisa dessa do povo
brasileiro! E por que não abandona agora? Tem que esperar mais 4 anos? E com
que base ele diz essas coisas? Por que re-elegerão Lula? Ora pois pois, repito.
Queria ele que elegessem o paspalhão do Cristóvão Buarque (do mesmo partido
dele, PDT), que é boa gente e tudo, mas um tremendo dum bundão? Ah, desculpe, é
bundão mas é ético! Tá certo. Agora quando o sujeito for operar o cérebro, não
vai escolher o melhor cirurgião - porque o tal se divorciou da mulher, tão
boazinha. Vai optar pelo pior médico, aquele bunda mole que sempre foi um
exemplo de pessoa, apesar de ter matado (sem querer, é claro, pois é um cara
muito ético) uns três ou quatro pacientes que passaram por suas mãos.
O exemplo não convence um lacerdista, eu sei. Lacerdistas
acham que só eles é que são éticos. Qualquer outra atitude, para eles, é falta
de vergonha na cara. Aliás, para eles, a vergonha está na cara. Só na cara. Que
importa se minha mulher recebeu 400 vestidos? Se o meu governo gastou milhões
com acupuntura para professores na clínica do sócio do meu filho? Se o meu
governo fez tráfico de influência para anunciar nas revistas que puxam meu
saco, inclusive a falecida Primeira Leitura? O negócio é ter um bom rosto, o
tipo do rosto que toda sogra sonha para marido da filha. Um rosto branco, de
traços delicados, sobrenome estrangeiro, prefeito aos quinze anos, e apoiado
por donos de jornais e empresários do Brasil inteiro.
Vem cá, por que não perguntaram aos artistas que saíaram do
encontro com Alckmin se eles aprovam as falcatruas do PSDB-PFL? Ah não, claro
que não. Como sempre, levantaram a bola para eles cortarem. Fizeram perguntas
como: que achou do Tiso ter falado que não se importa com a ética?
Distorceram totalmente a frase de Tiso, uma simples frase
descontextualizada, motivada por perguntas agressivas, e agora a usam como mote
para páginas e páginas de debates. Mas o Tiso sabe se defender e já publicou um
artigo muito bom no próprio Globo, embora insuficiente, a meu ver, para
desagravar o dano moral que ele sofreu.
Ética é o tipo da coisa da qual não se fala. Não se fica arrotando
ética por aí. Ética é uma virtude que se pratica em silêncio, bem longe dos
holofotes da mídia e das eleições. Em caso de ataque, aí sim, então nós devemos
responder: nós temos ética. Na maioria da vezes, é a única forma de defesa. Não
significa muito para quem já nos prejulgou, mas vale muito para nós mesmos.
Vieram com aquele história de que o PT achava que tinha
monopólio da ética no Brasil. Ei, quando o PT disse isso? Não creio que um
milhão de filiados do PT fossem tão bobinhos a ponto de ter acreditado, algum
dia, que o partido monopolizasse a ética no país. O PT é um partido político,
não uma seita quaker. Tem ladrão no PT? Tem que ser punido, expulso do partido,
preso. O que não pode é encontrar um ladrão ou dois no PT e daí vir com essa história
de que o PT se dizia dono da ética.
Ética, para mim, é investir e aparelhar a Polícia Federal, e
deixá-la trabalhar de forma independente. É nomear um cara independente para o
Ministério Público. É fortalecer as instituições, de forma que o sistema se
encarregue de limpar a máquina pública. Esse Alckmin é muito patético, não é a
tôa que seu percentual de votos está acompanhando o risco Brasil. Vem falar em
dólar no cuecão, como se houvesse a menor ligação entre o episódio (flagrado e
preso pela PF, diga-se de passagem) protagonizado por um assessor de um
político local e o presidente Lula. A própria PF já desvendou a questão dos
dólares. Foi propina de um empresário, que queria benefícios de um governo
estadual. Coisa normal. Anormal é o cara ter sido pego e o esquema desbaratado.
Bem, os lacerdistas voltaram. Felizmente, existe uma coisa
chamada povo brasileiro que, para tristeza deles, não é composto apenas de
analfabetos-nordestinos-beneficiados-pelo-bolsa-família, mas artistas,
intelectuais, engenheiros, funcionários públicos, donas de casa, operários,
sindicalistas, garçons e advogados. Um bando de gente porreta, com tutano
suficiente para não se deixar engambelar por essa conversa mole dos tucanos, a
la Janio Quadros, de que irão “varrer” a corrupção do país. Já vimos esse filme
muitas vezes. Era uma chanchada das mais vagabundas, com final sempre triste.
Ricardo Froes
Supondo-se que ética seja uma parte da filosofia que investiga
o comportamento humano, colocando-o em confronto com as normas e valores das
sociedades, esse artigo de Miguel do Rosário chega a ser cômico ao iniciar pela
vontade do autor de mandá-la para a puta que pariu. Não adianta porque ela não
vai. A ética é auto-imune, é uma espécie de estado patológico de um organismo
atingido por suas próprias defesas. No caso específico do petismo ela é um
exemplo típico do caso em que as defesas imunitárias sobrepujaram os ataques.
Uma auto-alergia.
O despreparo da nossa imprensa ao interpretar ao pé da letra
o que Wagner Tiso disse, confundiu até mesmo os petistas, o que motivou uma
enxurrada de artigos, apressados em justificar as palavras do músico. Tiso
quando quis que a ética se danasse foi absolutamente coerente. Acontece que
ninguém se deu conta que a ética do PT é essa, a sua própria negação, o
exacerbo da defesa, os fins justificando os meios, aos amigos tudo e aos
inimigos a lei. Não se pode chegar ao exagero de generalizar, dizendo que “a
ética do PT é roubar”, como fez alguém que não me lembro agora o nome (não por
conveniência e sim por irrelevância), mas ela passa perigosamente por perto do
crime em função da complacência da militância com os criminosos.
Não é preciso tanto auê em torno de Tiso – a não ser que
queiram transformá-lo em mártir. Dizer que jornalistas fizeram perguntas
idiotas e agressivas para transformar as respostas da hora em manchetes
escandalosas é demais, até porque a desculpa de supostas respostas impensadas
não cola, em função dos entrevistados, no caso, terem todos pelo menos 20 anos
de contatos freqüentes com a imprensa.
O artigo de Miguel é repleto de exemplos do que seja a ética
petista a começar pelas qualificações de “jornalistas marrons” aos dois que
descreveram as viagens de Lula, passando por Jeferson Perez que é um “mala”,
“infeliz” e velho demais para traçar planos políticos, por Cristovam Buarque,
“paspalhão” e “bundão” e por um “patético” Alkmin. E o que dizer do
“grandessíssimo canalha” do Lacerda, a bola da vez em termos de ressureição?
Para todos há um adjetivo pejorativo, um xingamento na ponta da língua ou uma
acusação na gaveta. Ninguém escapa. Quem não mancomunar com os autores da
cartilha, não merece perdão nem crédito.
Na verdade, falta mesmo aos petistas a autocrítica
necessária para legitimar as barbaridades que eles falam sobre seus opositores.
Enquanto a ética do PT for dominada pela auto-indulgência e pela conivência com
os erros dos seus partidários, a credibilidade do partido vai continuar sendo
alvo de sérias dúvidas sobre sua honestidade, seriedade e competência e tais
deslizes como o de negá-la (a ética), vão continuar sendo motivos de manchetes
e piadas procedentes.
Miguel do Rosário
Prezado Ricardo Froes, a ética a qual me refiro, é a ética
lacerdista, hipócrita, essa ética oportunista dos que nunca se preocuparam com
ela em outros momentos. Bem, quanto às suas críticas, acho que foram muito bem
colocadas, o artigo está mesmo muito apaixonado, é um artigo que tem lado,
posição, eu xingo os que considero meus adversários políticos e elogio a que
apóio, sem tergiversação. É um artigo extremamente pessoal, publicado no meu
blog, e certamente não dá conta das complexidades filosóficas que o conceito de
ética exigiria. É um artigo político, uma peça política. Poderia dizer, me
auto-ironizando, que é quase um lacerdismo às avessas... Obrigado pelas críticas. Cordialmente.
(argento) ... é, o PeTralismo não mudou Absolutamente Nada - querem, e vão, aprovar a Contribuição "Provisória" sobre a Movimentação Financeira ... convém não esquecer que faz parte da Estratégia Marxista, o aumento do Imposto sobre a "Renda" (não é necessário aumentar o percentual incidente, basta que a "Tabela" não seja Corrigida pelo índice da Inflação, para manter Alto o CONFISCO); a pergunta é: a Quem beneficia o CONFISCO sobre o "Dinheiro Circulante"? (pesquisar sobre IPMF, vai henriquecer a discussão e fomentar outras Perguntas)
ResponderExcluir(argento) ... o Foco no "trabalhador"e suas diversas "categorias" distintivas trabalhadores sem terra, sem teto, sem ...) tem se mostrado instrumento psicológico, eficiente na práxis (Marxista) dividir para dominar ...
Excluir(argento) ... mas, quem "criou" o "Lacerdismo"? - de certo não foi Carlos Lacerda. Mais, sob Carlos Lacerda, o Rio Maravilha deu um puta salto de Qualidade, degradando-se em cada "governo" que o sucedeu ...
Excluir(argento) ... onde anda o PeTralha Sérgio Cabral? ...
ExcluirArgento, igual a Lacerda não houve e não haverá tão cedo.
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