Luiz Felipe Pondé: Samurais x Ciências Humanas
Dizem por aí que o Japão, a nação samurai, quer acabar com
as ciências humanas. Será? Não acho a ideia toda má, se levarmos em conta
alguns dos absurdos que abundam nas ciências humanas.
Vejamos algumas pérolas: “A humanidade não se divide em
homem e mulher”, “o corpo não existe, é apenas uma representação social”, “tudo
é ideologia, menos Marx e Foucault, esses são para valer”, “as leis de mercado
não são naturais, são inventadas pelos opressores”, “governo que gasta mais do
que ganha não quebra”.
Nestes dois últimos casos, você diz isso até que tenha de
gastar seu suado dinheirinho ou demitir sua empregada para cortar gastos, ou
que alguém queira tomar sua vaga na universidade em que você prega essas
bobagens para os coitados dos alunos.
E o que dizer do conceito (?) de “cissexual” para substituir
“heterossexual”? Alguém, por favor, acorda essas pessoas e diz para eles
pararem de inventar termos ridículos que servem apenas para teses que ninguém
vai ler e para seus 15 amigos?!
Autores como Thomas Sowell, em livros como “Os Intelectuais
e a Sociedade”, traduzido pela editora É Realizações, têm falado desses
delírios. Os intelectuais (os “ungidos”, como fala Sowell) acham que entendem o
mundo melhor do que as pessoas que o sustentam há milênios. De dentro de seus
gabinetes, como dizia Edmund Burke (1729-97), em pleno século 18, produzem suas
“teorias de gabinetes” achando que sabem de tudo.
Só alguém que delira diz absurdos como os de que a humanidade
não está dividida em homem e mulher, mesmo que gêneros minoritários habitem
entre nós com todo o direito de assim o ser.
Ou que o corpo seja uma representação social, mesmo que
dimensões culturais façam parte de nossa percepção dos corpos. Será que, mesmo
diante de um câncer, esses gênios do nada dirão que o “corpo é uma
representação social”? Qual seria a “representação social” de um câncer?
Opressão celular?
A proposta samurai se ancoraria na ideia de que as ciências
humanas há muito tempo não nos ajudam em muita coisa. Sociólogos como Norbert
Elias (1897-1990) já temiam pelas ciências sociais e sua irrelevância, já que
não nos ajudam em nada para evitar problemas reais.
Outro detalhe que parece sustentar a proposta samurai é a
queda vertiginosa na fertilidade das mulheres japonesas: parece que as meninas
de lá, como todas as meninas de países ricos, não querem mais ser mães. Querem
o sucesso profissional. Esse tema é importante porque impacta diretamente,
entre outras coisas, o mercado da educação, coisa que por aqui também já
sentimos. Faltam jovens para preencher as vagas das escolas e das faculdades.
O foco mesmo da proposta samurai, no entanto, seria a
inutilidade das ciências humanas para os seres humanos. O máximo, não? Temo que
a culpa seja nossa.
Transformamo-nos em seres alienados, que acreditam que as
bobagens que se fala em aula e em teses descrevem a vida das pessoas. Talvez a
melhor forma de descrever aquilo no que se transformou as ciências humanas seja
mesmo “masturbação”. Aquele tipo de coisa que parece dar prazer, mas que, na
realidade, é prova da incapacidade de gozar “em” alguém real.
As ciências humanas se tornaram incapazes de dialogar com a
realidade. Criaram um “mundinho bobo de teses emancipatórias” a serviço da
masturbação intelectual. Afirmam que tudo é “construção social”, mesmo que uma
pedra lhes caia sobre a cabeça todo dia. O nome disso é surto psicótico. Há um
surto correndo solto em muitos departamentos de ciências humanas. Para começar,
como tratamento, proporia dar um tempo no gozo com Marx, Foucault e Piketty.
Há décadas se detona a família em salas de aula. Detona-se o
homem, seus afetos e inseguranças, ensina-se às mulheres que os homens são seus
inimigos. Christopher Lasch (1932-94) acertou em cheio quando identificou nesse
“ódio ao sexo oposto” uma incapacidade típica da cultura do narcisismo.
Narcisistas são pessoas incapazes de se arriscar na vida. Preferem lamber suas
próprias imagens no espelho.
Quem sabe a espada samurai nos ajude a recobrar a
consciência de nosso ridículo. Já passou da hora.
Antigamente a filosofia (busca pelo conhecimento) dividia-se em filosofia (do homem) e filosofia da natureza, uma buscava conhecer o comportamento do homem a outra o comportamento da natureza. Os filósofos eram os cientistas da época, e vice versa, embora poucas pessoas lembrem de Platão como o pai dos cinco poliedros ou de Newton como filósofo.
ResponderExcluirNa atualidade, filosofia é basicamente estar a história dos filósofos, pegar um papelucho e escrever ou falar um monte de bobagens, com devido respeito àquele que ainda buscam o conhecimento. Por outro lado, dividiram a ciência em exatas e humanas, quando as tais "ciências humanas" deveriam estar relacionadas com filosofia e não com ciência. O motivo é óbvio, o status da palavra ciência confere credibilidade às crendices como a psicologia e coisas do tipo.
Agora eu pergunto: existe ciências não exatas ou ciências desumanas? Se o Japão pretende acabar com as tais "ciências humanas" eu apoio totalmente, mas não no sentido de proibir os cursos, basta tirar esse status de ciência e deixar claro que trata-se de crença e especulação.
Perfeito. Acredito que seja essa a intenção, a de minar o "status" que essas baboseiras atingiram.
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