quarta-feira, 16 de setembro de 2015

“Ninguém prejudica tanto os negros do Brasil quanto parte do próprio movimento negro”

Leandro Narloch

Participei de um barraco delicioso ontem à noite. Fui à PUC-SP discutir programas assistenciais com o Eduardo Suplicy, a Luciana Temer e o José Maria Eymael. O debate começou em alto nível, ponderado e generoso. Todos concordavam que é preciso virar a página ideológica e aproveitar propostas que funcionem, venham elas do Milton Friedman ou do Paul Krugman. Até que seis ou sete militantes do Coletivo de Negros e Negras da PUC invadiram o Tucarena e interromperam a discussão. Disseram que eram cotistas da universidade e estavam indignados por não terem sido chamados para o debate. Foi assim que eu conheci alguns exemplares de um personagem comum hoje em dia: o ativista que sabota o próprio movimento.

Trezentos estudantes assistiam o evento, e eu pude ver que quase todas eles sentiram uma repulsa imediata à abordagem. Propusemos aos manifestantes que escolhessem um representante para participar do debate com a gente. Mas eles recusaram. Queriam gritar como adolescentes mimados, sem respeitar as regras do debate e as inscrições para perguntas.

Conseguimos conter o grupo e manter o debate por uma hora. Expus com detalhes a ideia de que o pior inimigo dos pobres é o Estado, que impede os brasileiros de empreender e mantém programas de “Bolsa Família ao contrário”, tirando dos pobres para dar ao governo e aos ricos. Logo depois, a coisa saiu do controle. Os manifestantes interromperam o debate e começaram a discursar sobre o sofrimento dos negros do Brasil. A causa é genuína e relevante, mas os modos do grupo espantaram quase toda a plateia. Depois, eles determinaram uma censura: “acabou o debate. Ninguém aqui vai falar mais nada”. Até mesmo o Eduardo Suplicy ficou assombrado com a intolerância da tropa. O que mais me impressionou foi o desrespeito à igualdade. Parece que o grupo se achava superior e por isso não precisava seguir as regras como pessoas comuns.

Depois da palestra, alguns estudantes negros, que não participavam do protesto e estavam ali para ouvir, me pediram desculpas e se disseram envergonhados com a confusão. Outros pediram dicas de soluções liberais para a pobreza. Fiquei com a alma lavada. A imaturidade e a falta de educação dos manifestantes fizeram muita gente encarar minhas ideias com benevolência.

O único lado lamentável é que grupos de malucos como esse Coletivo de Negros e Negras da PUC estão provocando uma antipatia nas universidades quanto às causas dos brasileiros discriminados. Quando você quer que alguém escute o que você tem a dizer, que se coloque no seu lugar e entenda o seu ponto de vista, o primeiro passo é conquistar a empatia do interlocutor. Não se consegue isso no grito.

Fui embora da PUC-SP com a impressão de que ninguém prejudica tanto os negros do Brasil quanto parte do próprio movimento negro.

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