Claudio Tognolli
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Ninguém reparou no seguinte trecho do discurso de posse de
Dilma: “O nome de milhões de guerreiras anônimas que, voltam a ocupar,
encarnadas na minha figura, o mais alto posto de nossa grande nação. Encarno
outra alma coletiva que amplia ainda mais a minha responsabilidade e a minha
esperança”.
Note bem o termo empregado: alma coletiva. O ghost writer do
discurso de Dilma deixou bem claro a quem o termo alma coletiva se endereça.
Quem entende o mínimo de história do Brasil, e o mínimo de
filosofia, deve ter tido um repuxão, um vazio no fígado, um bolo duro na
garganta, ao ter ouvido o termo. Porque “alma coletiva” é definição empregada
pelo nacional-socialismo, pelos nazistas, pelos caudilhos. Pelo totalitarismo
religioso, enfim.
Quem mais entendeu sobre alma coletiva no Brasil foi o
embaixador José Osvaldo de Meira Penna, sobretudo em sua obra “Em Berço
Esplêndido” (Editora Topbooks, 1999). Meira Penna mostra, como ninguém, que Getúlio
Vargas, exatamente quando o Eixo assombrava o mundo na Segunda Guerra, vendia,
a torto e a direito, a ideia de “alma coletiva”.
Meira Penna dissecou os perigos da “alma coletiva” ser
defendida no Brasil. E foi beber na origem de quem apontava os perigos na alma
coletiva na política: Karl Jung.
Escrita em 1936, a obra Wotan, de Jung, deixa claro os
perigos da alma coletiva em política: “A psicose coletiva alemã surge a partir
do louvor da imagem arquetípica de Wotan, deus nórdico pagão dos germânicos,
das tempestades, da efervescência, da inspiração e da guerra”.
Segundo Jung, Wotan corresponde a “uma qualidade, um caráter
fundamental da alma alemã, um “fator” psíquico de natureza irracional, um
ciclone que anula e varre para longe a zona calma onde reina a cultura”.
Tem muito líder religioso fundamentalista que adora também o
termo alma coletiva. Mas o vende como “egrégora”. Do grego egrêgorein, «velar,
vigiar”, é a soma de energias coletivas.
O Brasil não precisa de conceitos de coletividades, de
“raízes nacionais” (como defenderam a vida toda os hoje ministros da Cultura,
Juca Ferreira, e da Ciência, Aldo Rebelo). Quem tem raiz é planta. Coletivo é
ônibus, bonde, trem e metrô.
O Brasil não precisa de “coletivos”, de “matilhas
culturais”, aliás, nomes que você encontra em vários blogs, que defendem
cegamente o PT, e vivem de grana pública.
O Brasil precisa de almas individuais, sem raízes, que
defendam uma cultura universal, planetária, sem barreiras. Individualismo dá
prêmio Nobel: não o contrário.
Quem mais criticou o conceito de alma coletiva, aliás, foi o
negro mais brilhante dos EUA: W.E.B. Du Bois, homem de Harvard, estudado na
Alemanha. Referia que a “alma vital”, a que em alemão ele chamava de
“seleleben”, ia pelo individualismo. (“O futuro será, muito provavelmente, o
que as minorias raciais individualmente fizerem dele”, notou Du Bois em sua
obra The Negro, 1915).
Dilma vai contra tudo isso, indica o discurso de posse.
E vou te dizer por que: porque, na brasilidade mais
profunda, seja sob o PT do Mensalão barra Petrolão, seja sob o tucanato Alstom,
alma coletiva quer dizer que todos bebem da mesma fonte.
Veja bem: Dilma nomeou um ministério pífio para fazer favores
políticos. Que, além das benesses auferidas pelas indicações de titulares e
apaniguados, são pagos pela distribuição de grana.
O Mensalão foi a pré-fixação dos pagamentos demandados pelos
políticos coligados e de ocasião. O Mensalão tinha valores combinados, datas de
pagamento, locais de saque. Era a corrupção tópica: local e hora de saque
previamente combinados. Ainda que com uma logística complexa de repasses.
Petrolão foi a mesma coisa: as almas coletivas indo sacar o
prometido. Mas, desta vez, direto no caixa da Petrobras, sem uma lógica de
assalto medieval tecnicamente tão intricada como a do Mensalão.
Agora você entende o que é a “alma coletiva”?
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