Troca de farpas entre mim e uma amiga (ex-amiga?) filiada ao PT, vermelhinha até a alma, ocorrida em 2006. Vejam que nada mudou.
Ao Presidente:
Delúbio, comemorando seu
aniversário disse que em três anos todo esse imbroglio [o mensalão] vai virar
piada de salão, mas o senhor, presidente, após emocionar-se até às lágrimas ao
visitar o túmulo de Lenin, esse grande herói brasileiro nascido em Jaboatão,
observou lá de Moscou que a situação aqui é muito engraçada, antecipando as
nossas gargalhadas.
Piada engraçada mesmo,
presidente, é o senhor ainda ser um analfabeto funcional, um língua-presa
boquirroto que não sabe o que diz nem quando tenta ler, quando teve todo o
tempo do mundo para aprender alguma coisa e tratar-se com um fonoaudiólogo. Mas
piada engraçada para o senhor deve ser olhar para a cara dos milhões de
eleitores que o tinham como uma pessoa pelo menos honesta e com bons propósitos
e ver a tristeza e a decepção estampadas, após descobrirem que o senhor e seu
séquito não passam de mais uma quadrilha a saquear o Brasil. É um governo
desclassificado, não tem classe nem para roubar.
Eu tenho orgulho, e muito, de ser
brasileiro, mas tenho vergonha, e muita, de ter um presidente como o senhor,
que nem para consumo interno serve, quanto mais quando sai do país - coisa que
faz amiúde - e expõe ao mundo toda sua ignorância, que é absolutamente
incompatível com o cargo que ocupa. Isso é engraçado, senhor presidente, para
eles lá fora...
Já está mais do que na hora do
senhor pedir seu boné e deixar o governo do país para alguém menos
incompetente, mesmo porque mais é impossível. Escarnecer do povo, presidente,
não é uma boa política. O senhor um dia foi povo, sabe muito bem disso e até
lutou contra, no entanto, agora faz pior do que os que julgava serem seus
algozes. Parece que os charutos cubanos e os ternos Armani fizeram o senhor
esquecer suas origens.
Sou porta-voz de mim mesmo e não
acho que meu país e meus compatriotas mereçam ser vilipendiados pelo senhor ou
por quem quer que seja. Nós não temos obrigação de ouvir e calar, muito pelo
contrário: temos o dever cívico de protestar contra um governo cínico e sem
caráter como o seu. Apenas como lembrete, o povo é ordeiro e paciente mas não é
burro, e o seu funeral, presidente, caso não siga meu conselho e entregue o
cargo antes, já tem data marcada, em outubro de 2006.
Réplica:
Rick, qualquer adolescente
escreve (e muitos já escreveram, que eu já li aqui na rede) uma carta como
essa, reclamando de coisas vagas, cobrando coisas vagas ou do passado, que são
impossíveis agora, isto é, só reclamando e preocupado demais com o que o Lula
fala, aqui ou lá fora. O que interessa é o que ele faz ou deixa de fazer. Neste
momento ninguém está interessado em divulgar nada de bom que acontece no
Brasil, nenhum projeto do governo, porque não dá ibope, o povo quer é reclamar
mesmo, e a classe média só lê O Globo e a Veja, gostam de ser guiados pelos
discursos maniqueístas e apelativos desses dois formadores de opinião,
portanto...
Tréplica:
Que bom que os adolescentes estão
acordando para a realidade! Mas eu gostaria de saber quais são as coisas vagas
do passado que estou cobrando se esse texto só fala de coisas recentes ou
perenes, como a burrice do Lula. As “piadas” de que o Delúbio falou aconteceram
há uma semana e a “situação engraçada” há dois dias. Isso é passado? E, de mais
a mais, eu não posso falar do futuro de um governo morto.
Quanto à minha leitura de O Globo
e da Veja, ela não se limita só a isso. Pela internet leio o JB, a Folha de São
Paulo, além de muitas outras outras fontes de informação, às vezes até me
divirto com o Pravda e o Granma e me indigno com o NY Times. As opiniões que
emito são absolutamente independentes de qualquer órgão de imprensa e são
frutos da reflexão, digestão e comprovação de notícias não opinativas.
Pouquíssimas vezes você recebeu ou vai receber e-mails meus com alguma opinião
política de quem quer que seja, a não ser como curiosidade.
Achar que é maniqueísmo criticar
a roubalheira do governo ou atestar a imbecilidade do Lula é forçar a barra.
Quando falo sobre esses assuntos, não me baseio em “ismos”, porque são mais
policiais e educacionais do que propriamente filosóficos. Aliás, maniqueísmo é
atribuir tudo que dá errado a “heranças malditas”, acusações fundamentadas a “manobras
da direita” e limitar a simples sim ou não questões tão complexas como o
desarmamento.
Minha indignação de momento é com
os deboches do Lula e do Delúbio com o povo brasileiro e principalmente comigo,
que falo por mim, não dependo da aquiescência de terceiros para falar e nem
tampouco me apego a opiniões de Jabores ou Boffs da vida. O texto é
propositalmente curto e pouco abrangente porque falo apenas de um saco
estourado por escárinos. Se fosse para fazer uma análise geral dos erros do
governo eu escreveria um tratado.
Quadréplica:
Não sei por que você e a Regina,
quando falo das babaquices da classe média, não raciocinam que em geral, pelo menos
nós três, somos exceção que só confirma a regra. Você (e ela) enfiam logo a
carapuça e saem se defendendo. Quando falei de O Globo e a Veja, eu falei da
grande maioria, Rick, não disse Ricardo (nem Regina) e nem Alyda... Sempre
acontece isso, e parece que vocês não sabem ler, ou então têm algum peso na
consciência que não deviam ter. Não leve para o lado pessoal a frase que
menciona O Globo e a Veja, Rick, apesar de pertencer sim à classe média, que é,
sim, na sua imensa maioria alienada, preconceituosa e ignorante, deslumbrada
com a classe alta e com discurso totalmente maniqueísta. Essa burguesiasinha de
merda que está sempre reclamando de cumprir seu dever, pagar impostos e viver
honestamente, só que não cumpre o principal, que é se unir para exigir seus
direitos. Nós somos desunidos porque vivemos nesse pega prá capar de ganhar
dinheiro prá ter um carro melhor do que o vizinho, prá comprar a última moda em
roupa, e prá sei lá o que mais de comprar, possuir, comprar. E também
segregamos, queremos longe e bem mortinhos, todos os que estão “abaixo” de nós,
a não ser que nos sirvam na cozinha ou nos restaurantes e lojas, e mesmo assim
os tratamos com uma desconfiança que dá nojo. Estou cheia das pessoas que só
pensam no próprio umbigo, ainda mais num país como o nosso. Ando com vontade de
me mandar para o meio do mato e viver numa das três ou quatro tabas de índios
que ainda deixam viver relativamente livres, lá no fim desse mundão de Brasil.
Sonhei com isso esta noite e não foi um sonho muito louco, foi só um sonho.
Gostaria de pelo menos sonhar com isso todas as noites. Acordei até de bom
humor, e sem a dor nas costas que estava me matando. Bem, já começo a delirar,
por isso paro por aqui.
Quintéplica:
E eu não sei porque você fala
tanto das babaquices da classe média quando os assuntos são outros. Se eu falo
no Papai Noel ou no Dalai Lama, lá volta você ao assunto para acusar os caras
de imobilismo, preconceito e outras coisas mais. Nem tudo se resume à “essa
burguesiasinha de merda” a quem você insiste em atribuir todos os pecados do
mundo.
Se você se situa, junto com a
Regina (muito prazer) e eu, dentro dos parâmetros que definem a classe média e
nos isenta de todas essas imprecações, é justo pensar que suas opiniões não
devem ser tão generalizadas assim e que não somos exceções a regra nenhuma, mas
sim gente que tem o privilégio de poder escrever “marromeno” e que pode e deve
representar uma maioria que concorda conosco mas não sabe o que fazer. Quantos
eu conheço assim! Quantos nos elogiam até pelos destemperos que manifestamos
contra o que está errado!
Quando você achincalha a classe
média dessa maneira está fazendo exatamente o que diz que ela faz com os que
estão “abaixo” dela, se prevalecendo de um intelecto privilegiado e de uma
cultura muitos furos acima da média. Nem todos têm uma visão política pelo
menos mediana, que embora seja necessária hoje em dia, ela não é obrigatória.
Se quisermos fazer algo que preste, que tenha alguma utilidade para os outros,
temos que respeitar as limitações de um povo que sempre esteve habituado a
favores governamentais, quase incapaz de caminhar com suas próprias pernas. Mas
isso não significa inaptidão e sim mau costume. Compreender e aceitar, para
depois ajudar é fundamental.
Hextéplica:
Gente que teve os mesmos
privilégios que nós e que não sabe o que fazer é babaca. Gente que como nós,
estudou em escola particular e só pensa em arrumar um empreguinho público prá
garantir a boa vida remunerada às custas do país e do povo é babaca. Não
admito. Nós temos como pensar, e não só eu ou você, que inteligência não se
mede, apenas o que se faz com ela. Não é questão de ajudar ninguém, é questão
de não haver união dessa maldita classe média.
Heptéplica
Alvíssaras! Quer dizer que você é
a favor das privatizações? Só pode ser, porque o que se mais vê hoje nas
estatais é neguinho que arrumou “um empreguinho público prá garantir a boa vida
remunerada às custas do país e do povo”. Foram mais de 40 mil apaniguados do PT
que incharam as empresas públicas ou tiraram empregos de gente qualificada. Se
quiser eu redijo um manifesto agora mesmo para pedir a privatização do Banco do
Brasil, da Caixa e da Petrobrás!
Magu disse:
ResponderExcluirCaro Ricardo, Bom Dia!
Acabo de ler essa esbórnia de troca de correspondência. Antes de ser divertido, achei muito mais trágico a constatação de quanto mal foi cometido pela cooptação esquerdizóide que vem sendo feita (e produziu tanto resultado) há muitos e muitos anos nas faculdades.
Caro Magu:
ExcluirLeia "o velho" de Nelson Rodrigues, que eu postei em http://obrasildopt.blogspot.com/2013/11/nelson-rodrigues-o-velho-cronica.html.
Essa ex-amiga, de infância mesmo, é uma dondoca que estudou jornalismo na PUC e depois foi para Londres fazer um curso de fotografia, à custa do pai, um industrial, à época, cheio da grana, e lá ficou por uns três ou quatro anos. Inteligentíssima até o segundo parágrafo e dona de uma cultura invejável. Casou-se com um sujeito mais rico ainda, de família "tradicional".
Ela já tinha ideias de jerico, que ficavam só nas ideias enquanto papai e maridão tinham bala na agulha. Depois que ambos deram com os burros n'água, virou militante, por força das circunstâncias, como se fosse uma vingança: se quem a sustentava ficou pobre, todo mundo tem que ficar. E esta é a história do socialismo.