quinta-feira, 7 de novembro de 2013

...E nada mudou

Troca de farpas entre mim e uma amiga (ex-amiga?) filiada ao PT, vermelhinha até a alma, ocorrida em 2006. Vejam que nada mudou.

Ao Presidente:
Delúbio, comemorando seu aniversário disse que em três anos todo esse imbroglio [o mensalão] vai virar piada de salão, mas o senhor, presidente, após emocionar-se até às lágrimas ao visitar o túmulo de Lenin, esse grande herói brasileiro nascido em Jaboatão, observou lá de Moscou que a situação aqui é muito engraçada, antecipando as nossas gargalhadas.

Piada engraçada mesmo, presidente, é o senhor ainda ser um analfabeto funcional, um língua-presa boquirroto que não sabe o que diz nem quando tenta ler, quando teve todo o tempo do mundo para aprender alguma coisa e tratar-se com um fonoaudiólogo. Mas piada engraçada para o senhor deve ser olhar para a cara dos milhões de eleitores que o tinham como uma pessoa pelo menos honesta e com bons propósitos e ver a tristeza e a decepção estampadas, após descobrirem que o senhor e seu séquito não passam de mais uma quadrilha a saquear o Brasil. É um governo desclassificado, não tem classe nem para roubar. 

Eu tenho orgulho, e muito, de ser brasileiro, mas tenho vergonha, e muita, de ter um presidente como o senhor, que nem para consumo interno serve, quanto mais quando sai do país - coisa que faz amiúde - e expõe ao mundo toda sua ignorância, que é absolutamente incompatível com o cargo que ocupa. Isso é engraçado, senhor presidente, para eles lá fora...

Já está mais do que na hora do senhor pedir seu boné e deixar o governo do país para alguém menos incompetente, mesmo porque mais é impossível. Escarnecer do povo, presidente, não é uma boa política. O senhor um dia foi povo, sabe muito bem disso e até lutou contra, no entanto, agora faz pior do que os que julgava serem seus algozes. Parece que os charutos cubanos e os ternos Armani fizeram o senhor esquecer suas origens.

Sou porta-voz de mim mesmo e não acho que meu país e meus compatriotas mereçam ser vilipendiados pelo senhor ou por quem quer que seja. Nós não temos obrigação de ouvir e calar, muito pelo contrário: temos o dever cívico de protestar contra um governo cínico e sem caráter como o seu. Apenas como lembrete, o povo é ordeiro e paciente mas não é burro, e o seu funeral, presidente, caso não siga meu conselho e entregue o cargo antes, já tem data marcada, em outubro de 2006.
  
Réplica:
Rick, qualquer adolescente escreve (e muitos já escreveram, que eu já li aqui na rede) uma carta como essa, reclamando de coisas vagas, cobrando coisas vagas ou do passado, que são impossíveis agora, isto é, só reclamando e preocupado demais com o que o Lula fala, aqui ou lá fora. O que interessa é o que ele faz ou deixa de fazer. Neste momento ninguém está interessado em divulgar nada de bom que acontece no Brasil, nenhum projeto do governo, porque não dá ibope, o povo quer é reclamar mesmo, e a classe média só lê O Globo e a Veja, gostam de ser guiados pelos discursos maniqueístas e apelativos desses dois formadores de opinião, portanto...

Tréplica:
Que bom que os adolescentes estão acordando para a realidade! Mas eu gostaria de saber quais são as coisas vagas do passado que estou cobrando se esse texto só fala de coisas recentes ou perenes, como a burrice do Lula. As “piadas” de que o Delúbio falou aconteceram há uma semana e a “situação engraçada” há dois dias. Isso é passado? E, de mais a mais, eu não posso falar do futuro de um governo morto.

Quanto à minha leitura de O Globo e da Veja, ela não se limita só a isso. Pela internet leio o JB, a Folha de São Paulo, além de muitas outras outras fontes de informação, às vezes até me divirto com o Pravda e o Granma e me indigno com o NY Times. As opiniões que emito são absolutamente independentes de qualquer órgão de imprensa e são frutos da reflexão, digestão e comprovação de notícias não opinativas. Pouquíssimas vezes você recebeu ou vai receber e-mails meus com alguma opinião política de quem quer que seja, a não ser como curiosidade.

Achar que é maniqueísmo criticar a roubalheira do governo ou atestar a imbecilidade do Lula é forçar a barra. Quando falo sobre esses assuntos, não me baseio em “ismos”, porque são mais policiais e educacionais do que propriamente filosóficos. Aliás, maniqueísmo é atribuir tudo que dá errado a “heranças malditas”, acusações fundamentadas a “manobras da direita” e limitar a simples sim ou não questões tão complexas como o desarmamento.

Minha indignação de momento é com os deboches do Lula e do Delúbio com o povo brasileiro e principalmente comigo, que falo por mim, não dependo da aquiescência de terceiros para falar e nem tampouco me apego a opiniões de Jabores ou Boffs da vida. O texto é propositalmente curto e pouco abrangente porque falo apenas de um saco estourado por escárinos. Se fosse para fazer uma análise geral dos erros do governo eu escreveria um tratado.
  
Quadréplica:
Não sei por que você e a Regina, quando falo das babaquices da classe média, não raciocinam que em geral, pelo menos nós três, somos exceção que só confirma a regra. Você (e ela) enfiam logo a carapuça e saem se defendendo. Quando falei de O Globo e a Veja, eu falei da grande maioria, Rick, não disse Ricardo (nem Regina) e nem Alyda... Sempre acontece isso, e parece que vocês não sabem ler, ou então têm algum peso na consciência que não deviam ter. Não leve para o lado pessoal a frase que menciona O Globo e a Veja, Rick, apesar de pertencer sim à classe média, que é, sim, na sua imensa maioria alienada, preconceituosa e ignorante, deslumbrada com a classe alta e com discurso totalmente maniqueísta. Essa burguesiasinha de merda que está sempre reclamando de cumprir seu dever, pagar impostos e viver honestamente, só que não cumpre o principal, que é se unir para exigir seus direitos. Nós somos desunidos porque vivemos nesse pega prá capar de ganhar dinheiro prá ter um carro melhor do que o vizinho, prá comprar a última moda em roupa, e prá sei lá o que mais de comprar, possuir, comprar. E também segregamos, queremos longe e bem mortinhos, todos os que estão “abaixo” de nós, a não ser que nos sirvam na cozinha ou nos restaurantes e lojas, e mesmo assim os tratamos com uma desconfiança que dá nojo. Estou cheia das pessoas que só pensam no próprio umbigo, ainda mais num país como o nosso. Ando com vontade de me mandar para o meio do mato e viver numa das três ou quatro tabas de índios que ainda deixam viver relativamente livres, lá no fim desse mundão de Brasil. Sonhei com isso esta noite e não foi um sonho muito louco, foi só um sonho. Gostaria de pelo menos sonhar com isso todas as noites. Acordei até de bom humor, e sem a dor nas costas que estava me matando. Bem, já começo a delirar, por isso paro por aqui.

Quintéplica:
E eu não sei porque você fala tanto das babaquices da classe média quando os assuntos são outros. Se eu falo no Papai Noel ou no Dalai Lama, lá volta você ao assunto para acusar os caras de imobilismo, preconceito e outras coisas mais. Nem tudo se resume à “essa burguesiasinha de merda” a quem você insiste em atribuir todos os pecados do mundo.

Se você se situa, junto com a Regina (muito prazer) e eu, dentro dos parâmetros que definem a classe média e nos isenta de todas essas imprecações, é justo pensar que suas opiniões não devem ser tão generalizadas assim e que não somos exceções a regra nenhuma, mas sim gente que tem o privilégio de poder escrever “marromeno” e que pode e deve representar uma maioria que concorda conosco mas não sabe o que fazer. Quantos eu conheço assim! Quantos nos elogiam até pelos destemperos que manifestamos contra o que está errado!

Quando você achincalha a classe média dessa maneira está fazendo exatamente o que diz que ela faz com os que estão “abaixo” dela, se prevalecendo de um intelecto privilegiado e de uma cultura muitos furos acima da média. Nem todos têm uma visão política pelo menos mediana, que embora seja necessária hoje em dia, ela não é obrigatória. Se quisermos fazer algo que preste, que tenha alguma utilidade para os outros, temos que respeitar as limitações de um povo que sempre esteve habituado a favores governamentais, quase incapaz de caminhar com suas próprias pernas. Mas isso não significa inaptidão e sim mau costume. Compreender e aceitar, para depois ajudar é fundamental.

Hextéplica:
Gente que teve os mesmos privilégios que nós e que não sabe o que fazer é babaca. Gente que como nós, estudou em escola particular e só pensa em arrumar um empreguinho público prá garantir a boa vida remunerada às custas do país e do povo é babaca. Não admito. Nós temos como pensar, e não só eu ou você, que inteligência não se mede, apenas o que se faz com ela. Não é questão de ajudar ninguém, é questão de não haver união dessa maldita classe média.

Heptéplica
Alvíssaras! Quer dizer que você é a favor das privatizações? Só pode ser, porque o que se mais vê hoje nas estatais é neguinho que arrumou “um empreguinho público prá garantir a boa vida remunerada às custas do país e do povo”. Foram mais de 40 mil apaniguados do PT que incharam as empresas públicas ou tiraram empregos de gente qualificada. Se quiser eu redijo um manifesto agora mesmo para pedir a privatização do Banco do Brasil, da Caixa e da Petrobrás!

2 comentários:

  1. Magu disse:
    Caro Ricardo, Bom Dia!
    Acabo de ler essa esbórnia de troca de correspondência. Antes de ser divertido, achei muito mais trágico a constatação de quanto mal foi cometido pela cooptação esquerdizóide que vem sendo feita (e produziu tanto resultado) há muitos e muitos anos nas faculdades.

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    1. Caro Magu:

      Leia "o velho" de Nelson Rodrigues, que eu postei em http://obrasildopt.blogspot.com/2013/11/nelson-rodrigues-o-velho-cronica.html.

      Essa ex-amiga, de infância mesmo, é uma dondoca que estudou jornalismo na PUC e depois foi para Londres fazer um curso de fotografia, à custa do pai, um industrial, à época, cheio da grana, e lá ficou por uns três ou quatro anos. Inteligentíssima até o segundo parágrafo e dona de uma cultura invejável. Casou-se com um sujeito mais rico ainda, de família "tradicional".

      Ela já tinha ideias de jerico, que ficavam só nas ideias enquanto papai e maridão tinham bala na agulha. Depois que ambos deram com os burros n'água, virou militante, por força das circunstâncias, como se fosse uma vingança: se quem a sustentava ficou pobre, todo mundo tem que ficar. E esta é a história do socialismo.

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