A dona do Blog Nariz Gelado enumerou, em um post bem escrito,
“os nove erros da oposição na internet”. Embora não concorde com tudo que a
anônima editora do blog diz no post, há coisas aproveitáveis, sendo que eu já
falei a respeito de algumas aqui mesmo. Ah!, e também não acho seu anonimato lá
muito honesto, se bem que reconheço ser um direito dela, que se identifica
apenas como sendo do sexo feminino.
Mas vamos ao post. Mais tarde comento.
Nota: Já comentei.
Nota: Já comentei.
Os nove erros da oposição na internet.
Já são 17 anos de internet e uma década de blog. No meio do
caminho, três campanhas presidenciais – as três amargando derrotas para o PT -,
muitas lições aprendidas e a fúria de ver gente que se diz de oposição cometer
sempre os mesmos erros na internet.
Desde 2002, quando os debates eleitorais na web ficavam
restritos às salas de bate-papo e aos GDs – grupos de discussão - do UOL,
passando pela pancadaria da área de comentários do Blog do Noblat, e culminando
com estes tempos de Twitter e Facebook, são sempre os mesmos malditos erros.
Se ao longo de uma década relutei para escrever um post
assim foi porque há, nesta atitude, um erro estratégico: ele torna públicas as
nossas mazelas, fornecendo aos nossos adversários políticos um guia seguro para
sermos, mais uma vez, derrotados.
Mas ontem foi um divisor de águas. Ontem, enquanto boa parte
da militância oposicionista espontânea acertadamente comemorava a prisão dos
petistas mensaleiros nas redes sociais, aquela outra parte – tão ruidosa quanto
insidiosa - voltou a errar. De repente, parecem ter cansado de capitalizar a
derrota petista e começaram, mais uma vez, a fazer mea-culpa da oposição
publicamente. “Onde está a oposição, que não se pronuncia?”, perguntavam os
asnos, sem nem ao menos se questionar sobre os motivos para que nenhum
político, além dos petistas, estivesse se pronunciando naquele momento.
A pressão cresceu a tal ponto que, provavelmente para não
deixar essa gente sem uma resposta, Aécio Neves se obrigou a postar no Facebook
a mesma nota que postara no dia 14, quando o julgamento do mensalão chegou ao
fim. Uma solução suíça para uma armadilha desnecessária, armada não por
petistas, como seria de se esperar, mas por gente que se diz de oposição.
Tamanha ignorância me autorizou a publicar este post. Porque
se é verdade que as últimas três campanhas presidenciais tiveram erros
estratégicos, também é verdade que a militância da internet – seja ela
espontânea ou não – tem uma grande parcela de contribuição nas derrotas que
amargamos.
Querem fazer mea-culpa da oposição publicamente? Então vamos
lá. Como diz o velho ditado, comecem olhando para os vossos próprios rabos,
macacos.
Descubra, abaixo, quais são os erros que talvez você esteja
cometendo e tente não repeti-los. Se tal coisa não for possível, lembre-se de
nunca mais falar mal da oposição. Porque se comete estes erros, você, meu caro,
é uma parte bem ruim dela.
E, antes de se ofender e começar a recitar um mimimi na área
de comentários deste post, leia meu batom: estes são erros que você jamais verá
um petista cometer na internet.
Bom, agora vou responder à moça
anônima do Nariz Gelado.
1. Não entender o papel da
internet nas campanhas.
Internet não decide eleição, mas
forma opinião . O que se fala na internet não enche urna. A TV e o corpo a
corpo ainda são fundamentais. Por outro lado, cada vez mais a internet cumpre
um papel importante– principalmente enquanto a campanha efetivamente não
começou – que é o de plantar conceitos, positivos e negativos, que podem colar no
candidato. Para você entender bem o seu tamanho: você não é grande o suficiente
para garantir a vitória de um candidato. Mas é grande o suficiente para manchar
a imagem dele. Lembre-se disso antes de abrir a boca nas redes sociais e dizer
bobagens.
Concordo ipsis litteris.
2. Não entender o papel de cada
um na internet.
Há coisas que, por questões
institucionais ou simplesmente em função de estratégia, um candidato não pode
fazer. É justamente por isso que você é importante – para fazer o que ele não
pode fazer. Você pode, por exemplo, trollar Dilma e o PT à vontade por conta da
suposta espionagem americana. O candidato não. Para ele é uma arapuca
discursiva – pode acabar sendo acusado, com propriedade, de antipatriotismo.
Fazer oposição na internet é assim: valorizar o que o candidato da oposição diz
e ficar na moita sobre o que ele não diz – porque há coisas que você não tem
capacidade para entender. O tamanho da sua importância como voz oposicionista
tem a ver com o tamanho do seu engajamento às palavras de ordem de quem está comandando
o partido e/ou a aliança oposicionista. É assim que os petistas fazem. E é por
isso que eles ganham eleições.
Aí começa a encrenca: a
diferença entre o que o candidato da oposição diz ou deixa de dizer antes das
eleições e o que ele faz ou deixa de fazer depois de eleito. No meu caso, eu
nunca vou deixar de criticar quem quer que seja por ser vaselina, sabendo que
essa pessoa tem opiniões diferentes das que emite publicamente antes das
eleições e nem tampouco acho que essa atitude passiva, não contundente, seja o
que realmente o eleitorado quer de uma oposição. Há de se levar em conta que
muito pouca gente que é realmente contra o governo - e há muitas - vai conseguir
perceber - em virtude da precariedade da educação e cultura políticas - que um
candidato é realmente de oposição se ele não se manifestar agressivamente
contra o que aí está.
3. Criticar publicamente a
estratégia da oposição
Já falei sobre na introdução do
post, mas é preciso repetir. Você acha que a oposição e/ou o candidato estão no
rumo errado? Escreva um e-mail para ele, participe de um grupo de discussões
fechado do partido e dê voz lá às suas ideias. Procure o diretório da sua
cidade, peça uma reunião com o presidente municipal do partido e mande ver. Mas,
a menos que você seja um especialista da área e saiba, exatamente, como fazer
tal coisa sem causar danos, jamais critique publicamente a campanha, ou as
atitudes do seu candidato. Você vai desestimular pessoas que não entendem muito
de política, mas que estavam começando a gostar dele - e, o que é pior, vai
fornecer munição para os petistas.
Ora, dona anônima, isso é tudo
muito bonitinho em tese, como se fosse fácil o presidente municipal de um
partido atender a um pedido meu de reunião. Ainda mais se tratando de um
partido como o PSDB, onde todos acham que fazem cocô cheiroso. Em que país você
vive, minha cara?
Além disso, o que ora se afigura
como uma oposição, o PSDB, não é do agrado de muita gente, como o pessoal que
acha que Marina Silva e Eduardo Campos o são (coitados).
Aliás, em parte, eu já respondi sobre
isso na pergunta anterior, mas para reforçar, não quero uma oposição banana e
muito menos que ela gaste munição em disputas intropartidárias. Enquanto Dilma
galopa fazendo campanha sem que o TSE se manifeste e o calhorda do Serra pinta
e borda, o pateta do Aécio tem o desplante de dizer que só vai começar a
campanha em abril.
4.Chorar, em público, porque o
seu pré-candidato não emplacou.
Este erro é uma especialidade
tucana e já escrevi bastante sobre ele.
Lembre-se: quando Lula decidiu que a candidata seria a improvável Dilma,
você não viu nenhum petista chorando Palocci, ou criticando publicamente a
escolhida. E é assim, aderindo imediatamente ao nome escolhido, que os petistas
têm derrotado você ao longo de uma década. Trazer as guerras internas
partidárias para a internet é um jogo de perde-perde. Mesmo quando os próprios
pré-candidatos estão publicamente em conflito, ou quando seu colunista político
predileto insiste em desancar o candidato da vez, funcionar como alto-falante
deste conflito é um erro primário. Simplesmente porque você perde tempo
agredindo um candidato da oposição ao invés de conquistar apoios para ele.
Quando a campanha começar, se você realmente for de oposição, vai ficar
correndo atrás da máquina para buscar estes apoios. Não brigue com a realidade.
Está insatisfeito com a escolha partidária? Discuta o tema internamente. Você
está muito contrariado? Então fique quieto hoje para não se arrepender no ano
que vem.
Bom, esse recado é para os serristas,
que têm todo o direito de sê-lo, mas me parece que o que a anônima aconselha é que
façam a mesma coisa que aconselhou no item anterior: sejam uns carneirinhos
mansos.
5. Ficar falando só com o seu
clubinho.
Ele só tuíta e posta no Face
para impressionar os amiguinhos. É técnico em enfermagem, professor, ou
engenheiro, mas quer impressionar a turma com o seu nível de politização. Ok,
só que isto não é fazer oposição na internet. Fazer oposição na internet é
tentar sair do seu círculo de relacionamento e atingir o maior número possível
de pessoas. Isto só se alcança com: popularização da linguagem, cordialidade
com possíveis aliados, e – olha que espanto! – falando bem do candidato
potencial. Não um massacre panfletário, com cara de campanha, que mais espanta
do que conquista seguidores. Apenas deixe claro que você é de oposição e apoia
o candidato que a representa. Não precisa concordar com tudo o que ele diz. Mas
esqueça as diferenças e exalte as ideias que você tem em comum com ele.
Concordo em parte. Mas se meu
candidato tem defeitos - e todos têm - eu não vou só ficar falando nas suas virtudes,
até porque ao criticá-lo publicamente aumentam as chances dessas críticas
chegarem a ele. Em vez de um só e-mail - o meu -, contando os que comigo
concordarem, serão vários.
6. Ser uma matraca eleitoral.
É quase um subtipo da categoria
anterior - e, não raro, trata-se de um militante filiado ou de um assessor
parlamentar. Embora não seja nocivo, porque só tece elogios ao candidato da vez
e desempenha um papel de mobilização importante junto à militância oficial,
este tipo também não conquista muita coisa fora das fileiras partidárias. Ele
passa os dias falando de política e é incapaz de postar um conteúdo mais leve –
sobre humor, futebol, novela. Tudo nele é militância. Soa falso. E, por isso
mesmo, ele é incapaz de conquistar quem precisa e pode ser conquistado: a
maioria das pessoas – aquelas que não ligam muito para política, mas que
passarão a consultar suas timelines quando se aproximar a hora de votar.
De acordo.
7. Ser um inocente útil a
serviço do PT.
Não raro ele tem um passado à
esquerda, tendo aderido à oposição depois de se decepcionar com Lula. Não é
agressivo e gosta de pensar em si mesmo como um democrata. Em sua TL você vai encontrar militantes
petistas, psolistas, verdes e comunistas – toda essa gente que, na hora do pega
pra capar, acaba votando no candidato PT.
Mas ele perde horas em debates com estas pessoas – talvez uma nostalgia
dos tempos de militância na esquerda - na ilusão de que poderá fazê-las mudar de
opinião. E, enquanto faz isso, vai lhes concedendo, vitrine, espaço e um tempo
precioso – que poderia ser usado para buscar gente que realmente pode mudar de
opinião e votar contra o PT. Este grupo inclui aqueles que olham, com carinho,
para pseudo oposicionistas como, por exemplo, Marina Silva. Alegando que a
candidatura dela é importante para garantir um segundo turno, o pobre idiota
não se dá conta de que não precisamos dela para garantir um segundo turno em
2006 – e que o segundo turno de 2014 estaria mais folgado se ele estivesse,
desde já, trabalhando pelo candidato que é, de fato, o representante da
oposição.
Não é meu caso. Mas o que é TL?
8. Ser um boçal elitista.
Ele já perdeu três eleições
vomitando a mesma ladainha e segue insistindo. De um modo geral, estes são
indivíduos que não produzem muito conteúdo na internet. O negócio deles é
divulgar e, principalmente, fazer a crítica do que os outros produzem. Procuram
manter certo distanciamento cult de “tudo o que aí está” e não raro
ridicularizam aqueles que têm candidato e acreditam que vale a pena tentar uma
vitória. No entanto, a despeito da sua inutilidade, seguem se autointitulando
“oposição”. Não são. Sua atitude derrotista, quando não amorfa, tem favorecido,
ao longo de uma década, a eleição de candidatos do PT. Neste grupo estão
incluídos aqueles que gostam de falar de política, mas fazem cara de nojinho
para militância pró-ativa, os que cogitam o voto nulo e os que questionam a
inviolabilidade das urnas eletrônicas. Em termos de campanha política na
internet, esta é uma gente que trabalha voluntariamente para o PT.
Bom, nessa, a Nariz Gelado faz
sua defesa prévia, dizendo, no frigir dos ovos, que eu estou errado em
criticá-la em certos aspectos. Como todo liberal que se preza, eu tenho horror
a blocos e não vou deixar de descer a lenha em quem quer que seja a troco da mera
coincidência em sermos oposição ao PT. Não há motivo, por mais nobre que seja,
capaz de me fazer deixar de exercer uma opinião.
9. Ser um direitinha xiita – ou
um petista de sinal invertido.
Para eles, o candidato de
oposição ao PT nunca está suficientemente à direita. É uma gente que, a
despeito da arrogância, desconhece o papel da conjuntura num cenário político,
a influência de uma década de governo de esquerda na bagagem cultural do
eleitor brasileiro e, principalmente, um elemento básico da política: a
negociação. Querem simplesmente tirar o PT do poder – mas, a julgar pela atitude,
não têm ninguém para colocar no lugar. É fácil identificá-los: tão agressivos
quanto os petistas, eles xingam e ridicularizam membros da oposição que ousam,
vejam só!, apoiar o candidato da oposição. Dedicam parte do tempo a xingar o PT
de um jeito que nenhuma pessoa decente pode levar à sério. E o pior: também
plantam constantemente, a ideia de que “não há oposição no Brasil” e de que “PT
e PSDB são exatamente a mesma coisa – uma teoria da conspiração típica de certo
filósofo autoexilado que este grupelho idolatra. Nocivos, eles passam dias
inteiros na internet desarticulando e desmobilizando a oposição possível
enquanto se autoproclamam a “única oposição verdadeira”. Se é verdade que o PT
tem ativistas infiltrados na oposição, todos os indícios apontam na direção
desta gente.
No caso do Olavo de Carvalho - o
“certo filósofo autoexilado” -, seu “grupelho” e similares, manda o bom senso
que adotemos alguns “filtros”. Muito embora eu o execre como pessoa, não posso
negar sua vasta cultura e, porque não, inteligência, embora específica. Dá sim,
para aproveitar muita coisa do cara.
Caso você tenha se identificado
com alguma das atitudes listadas acima – ou mais de uma, já que elas admitem
sobreposição – saiba que você é livre para continuar errando. Mas pare de se
iludir sobre estar fazendo oposição na internet. Porque, para começo de conversa, você nem
sabe o que é fazer oposição. E é por isso que vive perdendo para o PT.
O gran finale. Tal como Olavo de
Carvalho, a anônima de Nariz Gelado, acha que é a dona da verdade e que, se eu
não seguir seus conselhos, sou “livre para continuar errando”.
Agradeço pela magnanimidade...
Resumindo, a mulher (anônima) disse:
ResponderExcluir1 - Seja desonesto. Faz de conta que você desconhece a natureza humana. Feche os olhos (e a boca também) a respeito de erros crassos cometidos pelo pessoal da direita.
2 - Seja arisco, pegajoso e procure agir sempre no escuro e na surdina. Deixa para o pessoal da esquerda agir à luz do dia e utilizar a razão nos mais variados assuntos.
3 - Novamente: Esconda o rabo. Deixe seu rabo visível apenas para os caciques do SEU partido.
4 - Concorde com a decisão dos caciques. O tempo dos caciques tem de continuar a qualquer custo.
5 - Esqueça as diferenças, seja uma “Maria vai com as outras". (as três palavras iniciais estão escritas no texto da anônima).
6 - Valorize o "pão e circo". É fornecendo pão e circo para o povo que temos sobrevivido durante séculos!
7 - seja um inocente útil a serviço daquele que tudo comanda (comanda inclusive os governos). Ao fim de tudo o CAPITAL comandará também você e toda a sua descendência!
8 - Seja elitista! Não seja um bocal elitista! Faz de conta que a MAIORIA não sofre com as decisões da elite!
9 - Essa mulher (anônima) andou espionando o Observador Político! Que PT e PSDB são a mesma coisa, os Observadores disseram (e provaram) miríades de vezes lá. Concordo com o item 9 redigido pela anônima.
Graças a Deus os direitistas estão dizendo ISSO!
Passa o tempo e você cada vez mais patético...
Excluir"Erros crassos cometidos pelo pessoal da direita"... "O pessoal da esquerda agir à luz do dia e utilizar a razão nos mais variados assuntos"...
Bastaria isso para confirmar seu pateticismo.
A que "pessoal da direita" você se refere?
Diga dia, hora, lugar e assunto que a esquerda conseguiu "utilizar a razão" alguma vez na história.
Se você conseguir responder satisfatoriamente a essas duas perguntas, eu casso seu título de patético, outorgado, não só por mim, mas, por várias pessoas que ambos conhecemos.
Kant escreveu Crítica da Razão Pura, Crítica da Razão Prática e Critica da Faculdade de Julgar. Evidentemente ele escreveu isso devido ao que Hume dissera anteriormente. Foi neste sentido que utilizei "razão" querendo me referir ao ato de recorrer ao conhecimento, ser capaz da crítica e da autocrítica sinceras quase nunca utilizadas por nossos políticos em suas ações, independente dos partidos ou da ideologia.
ExcluirDia e hora: não existiu dia e horário específico porque foi um período, recente, que se repetirá. Assunto: Orçamento dos Estados Unidos versus Obamacare.
Mas é à razão, não como conhecimento - aliás nunca ninguém incluiu o conhecimento como parte da composição da razão - e nem como certeza a respeito de alguma coisa, que eu me refiro.
ExcluirVou traduzir: Diga dia, hora, lugar e assunto que a esquerda conseguiu utilizar as faculdades de raciocinar, apreender, compreender, ponderar e julgar alguma vez na história da humanidade.
Aliás, não precisa nem determinar dia, hora e lugar, embora eu esteja dando a chance de você citar alguma coisa entre 300 mil AC e hoje. Diga só o assunto em que a esquerda alguma vez na vida usou o bestunto.