A revelação de que os militantes da esquerda, principalmente
vindos do PSOL e do PSTU, tomaram conta da Federação Nacional dos Estudantes de
Arquitetura (FENEA) não me surpreende, afinal, esse tipo de esculhambação dos
meios estudantis já é uma realidade faz tempo. Eu diria, sem medo de errar, que,
no caso da Arquitetura, isso pode ser chamado de “fenômeno da niemeyerização”.
Longe de ser um exemplo para os futuros e presentes
arquitetos, Niemeyer foi um péssimo arquiteto e um idem político. Não vou
entrar nos deméritos de seu projetos inabitáveis agora pois já fiz isso em
várias ocasiões. O problema é a política, e não é de hoje.
Lá pelos idos de 75 eu cursava Arquitetura na Faculdade Bennett,
quando a notícia que Oscar ia dar uma palestra alvoroçou todo mundo e a mim,
inclusive, apesar de já ter uma certa aversão à obra do “mestre”. Chegado o
dia, lá fui eu me acotovelar no auditório entupido. Para resumir, ao fim de
meia hora de um discurso político que não tinha nada a ver com Arquitetura eu
ousei levantar o braço e assim fiquei por uns dez minutos mais, até que
Niemeyer resolveu me perguntar o que eu queria. Foi simples: perguntei quando
ele ia começar a falar de Arquitetura. Pra quê... O fala mansa começou com um
sermão dizendo que mais importante que tudo que aprenderíamos na faculdade não
significava nada se comparado à consciência política de que a nossa profissão
tinha que ter para ser exercida em benefício do povo. Logo quem foi falar
isso!...
Depois dessa, virei as costas e fui para o boteco tomar mais
uma para me acalmar.
Mas vamos ao artigo de João Cesar de Melo, publicado no
Instituto Liberal
Infelizmente, a maioria das pessoas não liga os pontos, não
correlaciona os diversos processos sociais, políticos e econômicos que vêm
acontecendo. Dentro desse gigantesco grupo de pessoas estão aquelas que
acreditam na conspiração capitalista sem se dar conta de que elas mesmas, ao
propagarem tal fábula, trabalham em favor da verdadeira conspiração, a
socialista.
Não falta material que comprove tal conspiração. Congressos,
seminários, fóruns, reuniões, artigos, pronunciamentos e entrevistas de líderes
socialistas do Brasil e da América Latina, somados a acordos entre alguns
governos não deixam dúvidas de que há um grande projeto de se transformar a
América Latina num continente homogeneamente socialista − no sentido
totalitário da expressão. Para tanto, executam a Teoria da Ocupação dos Espaços
formulada por Gramsci, formando uma imensa rede que emerge entre os pés da
sociedade, engolindo-a de baixo para cima.
Um exemplo dos procedimentos dessa conspiração dói
particularmente em mim.
Como já escrevi no artigo A Descoberta Liberal, publicado um
ano atrás, frequentei por muitos anos os Encontros de Estudantes de
Arquitetura, eventos que eram organizados pelos próprios estudantes de forma
independente, sem qualquer vinculo com partidos políticos. Tais eventos
ocorriam em diversas cidades do Brasil e promoviam palestras, oficinas e
atividades sociais em comunidades carentes. Cada pessoa tinha suas inclinações
políticas, religiosas e sexuais, mas ninguém tentava transformá-las em regra
para os demais participantes. As pessoas, cada uma a seu modo e a seu tempo,
faziam o que julgavam certo e para as pessoas que julgavam merecer, interagindo
umas com as outras sob o princípio de respeito às individualidades alheias, não
para atender normas “superiores”. Cabia a cada indivíduo decidir se participaria
ou não de alguma atividade, se passaria o dia no bar ou na barraca. Ninguém,
nem os organizadores, regulava o comportamento dos participantes.
Nas festas, apesar da liberdade que todos tinham, nunca
houve uma briga, nunca houve sequer um motivo para uma ocorrência policial.
Estes Encontros eram dignos exercícios de um mundo libertário, um mundo sem
Estado, um mundo livre.
Mas as coisas estão mudando…
De alguns anos para cá, partidos de extrema esquerda
conseguiram infiltrar seus militantes nos quadros da Federação Nacional dos
Estudantes de Arquitetura (FENEA) e também nas comissões que organizam os
Encontros. Com a fala mansa e o discurso muito bonitinho, foram ganhando espaço
até conseguirem impor suas perversões ideológicas, enquadrando as pessoas em grupos
disso ou daquilo, apontando diferenças que não existem, incitando o vitimismo,
a intolerância, o radicalismo e cobrando que os participantes sigam um código
de comportamento politicamente correto; não por acaso, flexível em função dos
envolvidos e da conveniência de cada situação – para uns, tudo; para outros,
nada.
Na prática, além da deformação do formato dos Encontros,
essas pessoas agora colocam em curso um processo de “limpeza” ideológica,
intimidando todos aqueles não alinhados aos “anjinhos” socialistas que hoje
controlam a FENEA e boa parte das comissões. Hoje, uma piada, uma brincadeira
ou uma cantada podem gerar uma queixa de constrangimento de gênero, que podem
gerar uma pauta numa reunião, que pode gerar a expulsão de um participante. Tradicionais
atividades organizadas pelos próprios participantes dos Encontros foram
proibidas por terem sido avaliadas como sem “função social”. As palestras,
antes voltadas para os temas diretamente relacionados a arquitetura e ao
urbanismo, agora invocam a luta de classes, a causa gay, a causa feminista etc;
e qualquer crítica é vista como manifestação reacionária, homofóbica e
machista.
Aquele ambiente onde a liberdade entrelaçava-se naturalmente
com o respeito, agora vem se transformando numa arena regulada por um pequeno
grupo de pessoas que se apresenta com moral e sabedoria suficientes para dizer
como os participantes devem pensar e o que podem dizer, desejar e fazer. Aos
poucos, mas cada vez mais rápido, o ódio e os recalques dessas pessoas vão
contaminando alguns e intimidando muitos, transformando a FENEA e os Encontros
em extensões de partidos como PSOL e PSTU, com o objetivo de transformar
estudantes de arquitetura em militantes socialistas.
As primeiras consequências já são percebidas: Brigas, roubos
e abusos começam a ocorrer na medida em que as pessoas são estimuladas a
desconfiar umas das outras, interferindo negativamente no ambiente dos
Encontros e na satisfação dos participantes.
Enquanto no Brasil atual uma pessoa é chamada de fascista
por ir à rua protestar contra um governo corrupto, no Encontro Nacional de
Estudantes de Arquitetura que aconteceu semana passada no Rio de Janeiro
participantes foram expulsos por terem reclamado dos banheiros e da postura dos
organizadores.
Liguem os pontos.
Os ingênuos precisam entender que nenhum militante assumirá
seus recalques como razão de seu engajamento ideológico, que nenhum líder
socialista confessará que o objetivo do movimento é o controle total da
sociedade, que nenhum partido de esquerda reconhecerá que investe pesado na
infiltração de militantes nas escolas, nas universidades, na imprensa e nos
movimentos verdadeiramente sociais e estudantis para transformá-los em células
da conspiração socialista.
Os ingênuos precisam entender que enquanto temem o mal
apontado nos escritórios das grandes corporações capitalistas, o verdadeiro mal
está ao nosso lado, fazendo discursos lindos, cheios de boas intenções. Quem
conhece um pouco da história da humanidade sabe que na liderança de todos os
massacres, de todos os colapsos econômicos e de todas as ondas de intolerância
sempre esteve pessoas fazendo discursos maravilhosos em favor de um mundo
melhor, de um mundo mais justo e sem desigualdades.
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