Já que o pânico-depressão do Boechat viralizou, eu aproveito
para publicar o último capítulo do livrinho que escrevi em 2009 sobre a minha
convivência de 25 anos com a Síndrome do Pânico. São algumas dicas, mas frisando bem que
elas foram baseadas exclusivamente na minha experiência e nas minhas conclusões.
“Isso é algo que não desejo nem para meu pior inimigo”.
“De repente, eu senti uma terrível onda de medo, sem nenhum
motivo. Meu coração disparou, tive dor no peito e dificuldade para respirar.
Pensei que fosse morrer.”
“Tenho tanto medo... Toda vez que me preparo para sair, tenho
aquela desagradável sensação no estômago e me aterrorizo pensando que vou ter
outra crise de pânico.”
Resolvi juntar alguns pontos interessantes sobre o MEU
pânico em forma de dicas. Faço questão de frisar bem que é a MINHA experiência
pessoal de panicado essencialmente ansioso, sem um pingo de depressão, mas a
maioria das observações podem ser úteis a todos os que penam com essa titica.
Para começar eu peço licença para entrar numa área meio
perigosa de definições e causas, mas como eu já me considero um pós-graduado na
matéria – nem que seja pelo tempo de sofrimento, eu me permito transmitir o que
eu li e ouvi de mais coerente, o parágrafo abaixo:
“O cérebro produz substâncias chamadas neurotransmissores que
são responsáveis pela comunicação que ocorre entre os neurônios (células do
sistema nervoso). Estas comunicações formam mensagens que irão determinar a execução
de todas as atividades físicas e mentais de nosso organismo (ex: andar, pensar,
memorizar, etc). Um desequilíbrio na produção destes neurotransmissores pode
levar algumas partes do cérebro a transmitir informações e comandos incorretos.
Isto é exatamente o que ocorre em uma crise de pânico: existe uma informação
incorreta alertando e preparando o organismo para uma ameaça ou perigo que na
realidade não existe. É como se tivéssemos um despertador que passa a tocar o
alarme em horas totalmente inapropriadas. No caso do Transtorno do Pânico os
neurotransmissores que encontram-se em desequilíbrio são: a serotonina e a
noradrenalina.”
Exatamente por isso, os tratamentos analíticos e
comportamentais só podem aliviar a ansiedade e, mesmo assim não satisfatoriamente.
A yoga ou exercícios diversos podem fazer o mesmo efeito - ou até melhor - que
as psicoterapias, só que nada disso vai resolver um problema bioquímico.
“Os sintomas são como uma preparação do corpo para alguma “coisa
terrível”. A reação natural é acionar os mecanismos de fuga. Diante do perigo,
o organismo trata de aumentar a irrigação de sangue no cérebro e nos membros
usados para fugir - em detrimento de outras partes do corpo e as principais
manifestações incluem:
Contração / tensão muscular, rijeza
Palpitações (o coração dispara)
Tontura, atordoamento, náusea
Dificuldade de respirar (boca seca)
Calafrios ou ondas de calor, sudorese
Sensação de “estar sonhando” ou distorções de percepção da
realidade
Terror - sensação de que algo inimaginavelmente horrível está
prestes a acontecer e de que se está impotente para evitar tal acontecimento
Confusão, pensamento rápido
Medo de perder o controle, fazer algo embaraçoso
Medo de morrer
Vertigens ou sensação de debilidade.”
Tudo isso ao mesmo tempo é dose! Quem já sentiu, sabe.
Agora as minhas observações:
Não lutar contra um ataque de pânico: é inútil. O máximo que
se pode fazer é, se estiver dirigindo, por exemplo, parar o carro e esperar
passar. Pare tudo que estiver fazendo e não relaxe nem goze: é impossível.
O ataque de pânico não mata.
Os ataques só dão sinais em cima da hora, um minuto antes ou
menos. No meu caso era uma batida meio “em falso” do coração.
Nada adianta tentar controlar a respiração, contar de um a
cem ou dar cambalhotas. Ainda outro dia eu vi na TV uma mulher se dizendo
especialista em pânico e recomendando que se faça doze respirações lentas ao
surgir uma crise. Só pode ser piada. Se alguém conseguir pelo menos respirar,
mesmo que mal, já é um adianto. Ninguém consegue pensar em absolutamente nada
nessas horas.
Os ataques variam entre cinco e dez minutos. Não é uma
regra, mas é mais ou menos por aí. Também não adianta olhar para o relógio,
ninguém enxerga nada nessas condições.
A primeira providência que qualquer um deve tomar depois da
primeira crise é consultar um psiquiatra, de preferência que tenha profundo
conhecimento sobre as drogas (medicamentos). Não há outro caminho. Se não
houver tratamento adequado, muitos e muitos outros ataques virão.
Hoje já há drogas bastante eficientes para tratar o pânico
que, praticamente, não apresentam efeitos colaterais, a não ser um ligeiro
soninho no começo do tratamento.
Nunca se auto-medicar. Nem que um suposto “curado” diga que
determinado medicamento é infalível. Quem tem que dizer isso é o médico que, se
for bom mesmo, saberá avaliar qual a droga mais indicada para o caso de cada
um.
É fundamental que o médico inspire confiança ao paciente,
mas jamais acreditar naqueles que dizem “isso é mole de curar” é essencial. Não
é mole não! Eu já fui a alguns desses. São os mais ignorantes sobre o assunto.
É essencial prestar muita atenção em si mesmo. Ao passar
informações detalhadas sobre si próprio ao seu médico é garantia de pelo menos
50% de sucesso no tratamento. Prestar atenção nos mínimos detalhes que pareçam
estranhos, mesmo que, para o panicado pareçam irrelevantes, é essencial para um
melhor diagnóstico.
Não acreditar em ervas milagrosas, chás, homeopatia ou
demais tratamentos “alternativos”. Todos os panicados já fizeram tudo isso e
nada deu certo.
Não ligar para palpites, opiniões, críticas ou sugestões de
amigos, parentes ou conhecidos. Quem está com o seu na reta é quem tem pânico
e, quem nunca teve, não pode avaliar a dimensão do problema. Mandar à mer#$%da,
com todas as letras, quem fizer pouco do problema é uma boa válvula de escape.
Quem tem pânico sem tratamento é um eterno ansioso e, eu
garanto que, duas doses de qualquer bebida alcoólica alivia essa ansiedade –
isso é até cientificamente provado -, mas, o maior problema é ficar só nas duas
doses. Portanto, se alguém é chegado em um goró, como eu, que tome muito
cuidado: a sensação de alívio é diretamente proporcional ao perigo de virar um
alcólatra por conta disso. E mais: é bom lembrar que a ressaca é crise certa e
que o fígado é um só. O álcool não é tratamento. Tanto pode funcionar como um
paliativo eficiente ou como um inimigo mortal. É bom não arriscar. A história
de “não ter ressaca – manter-se bêbado” é piada de mau gosto.
Um ligeiro colírio: não compensa o sofrimento, mas a
sensação logo depois de se passar por um ataque de pânico é quase a de um
orgasmo.
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