Janio de Freitas: Dirceu de novo
A prisão de José Dirceu foi a menos surpreendente de quantas
a Lava Jato faz desde março do ano passado. Se justificada ou não, vamos saber
quando os integrantes da Lava Jato apresentarem em juízo o que veem como provas
convincentes. A carga pesada de acusações apenas verbais, feitas pelo
procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, desde logo criou uma imprecisão
sujeita a reparo histórico e atual. Foi quando definiu Dirceu como “o
instituidor e beneficiário” do “esquema” de corrupção na Petrobras.
(...)
A corrupção na Petrobras investigada pela Lava Jato seguiu o
“esquema” praticado há décadas pelas grandes empreiteiras nas licitações e
acréscimos de custo, em contratos com estatais e administração pública. Se
houve um “instituidor” do “esquema”, seu nome perdeu-se na desmemória do tempo.
(...)
José Dirceu teve farta oportunidade de fugir. Com a
experiência de quem entrou e viveu no Brasil da ditadura com rosto e nome
mudados, e levou vida tranquila por anos, poderia evaporar por aí sem
dificuldade.
José Dirceu ficou, à espera. Não quis fugir. Isto tem um
significado. Não há como deixar de tê-lo. As suposições a respeito podem
variar, sobretudo ao compasso das posições políticas, mas só o próprio Dirceu
mostrará qual é.
O petralha da Folha está errado. Ou por outra, se finge de
bobo. É claro que a corrupção envolvendo a Petrobras existe desde a sua
fundação, e isto é público e notório, mas é mais claro ainda que a institucionalização
da prática como “esquema” é obra do PT e, por conseguinte, do Dirceu, que
mandou e desmandou naquela espelunca até explodir o mensalão.
Quanto a fugir, sei não, mas cagão do jeito que Dirceu é, eu
duvido. Além disso o exemplo dado não serve, já que quando ele foi deportado em
1969 - com mais 14 bandidos, em troca da libertação do embaixador americano
Charles Elbrick - e voltou clandestinamente em 1971, ele não fugiu de coisa
nenhuma a não ser de uma vida sem futuro em Cuba, onde, certamente, não tinha
nada para roubar e enriquecer, preferindo encarar a possibilidade de prosperar,
mesmo como clandestino e anônimo.
Janio é mais um lorpa, só que ainda não acordou do sonho
forjado em mentiras.
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