Augusto Nunes: Em quatro capítulos, a história que começou
com a bomba de festa junina usada para intimidar Danilo Gentili e acabou com um
pito do juiz no bando do Instituto Lula
Em quatro capítulos, a história
que começou com a bomba de festa junina usada para intimidar Danilo Gentili e
acabou com um pito do juiz no bando do Instituto Lula
CAPÍTULO I
No primeiro capítulo, o humorista Danilo Gentili
inspirou-se na informação de que o Instituto Lula fora vítima de um atentado a
bomba para postar no Twitter, em 31 de julho, a piada reproduzida abaixo:
CAPÍTULO II
Em 13 de agosto, o Instituto Lula entrou com um pedido de
interpelação judicial contra Gentili. O redator da notícia divulgada no site do
esconderijo oficial de Lula caprichou no dilmês primitivo:
“O Instituto Lula protocolou, nesta
quinta-feira (13), um pedido de interpelação judicial contra o apresentador de
TV Danilo Gentili. Em seu perfil pessoal no Twitter, o pretenso comediante
ironizou o ataque a bomba sofrido pelo Instituto no fim de julho ao afirmar que
o atentado teria sido “forjado” para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva se “fizesse de vítima”.
Gentili concluiu sua fala grosseira com
a afirmação de que o resultado do ataque teria sido que as pessoas lamentarem o
fato de a bomba não ter atingido o ex-presidente. Há duas semanas, a Polícia
Civil investiga o atentado, ainda sem resultados.
A interpelação judicial é um
procedimento anterior à ação judicial, com o objetivo de oferecer a Gentili a
oportunidade de explicar suas palavras, provar suas afirmações ou se retratar.
Os advogados do Instituto apresentaram seis perguntas que gostariam de ver
respondidas por ele:
A conta @DaniloGentili pertence ao
suposto humorista?
O comentário publicado nesse perfil
é de autoria de Gentili?
Mais alguém participou da elaboração
desse comentário?
Gentili tem algum elemento de prova
de que o atentado ao Instituto teria sido forjado? Se sim, qual?
Qual foi a intenção de dizer que o
atentado foi forjado?
Gentili confirma o comentário ou
gostaria de se retratar?
A partir da resposta do apresentador
serão avaliadas as possibilidades de processo cível ou criminal contra
Gentili”.
CAPÍTULO III
Nesta quarta-feira, 19 de agosto, Gentili publicou em sua
página no Facebook a resposta que desmoralizou o chilique dos que sonham com a
revogação da liberdade de expressão e da independência intelectual:
“Um pretenso instituto publicou
uma nota cobrando de mim (um pretenso humorista segundo eles) esclarecimentos a
respeito de uma piadinha no twitter sobre um pretenso atentado a bomba na sede
do “instituto” que teve como consequência gravíssima um furinho no portão.
Mesmo sendo do conhecimento de
todos que me seguem nas redes sociais que sou humorista e que através dessas
plataformas utilizo exageros, nonsense e outros recursos sempre com a intenção
de brincar, reforço que levar a sério o que eu escrevo lá é tão racional quanto
tentar prender a Cássia Kiss (não a Leila) por ter matado a Beatriz Segall (não
a Odete Roitman). Ou tão irracional quanto dizer que não existe uma meta mas
que quando atingir a meta dobrará essa meta.
Eu sou comediante. Tudo bem,
talvez comediante não seja uma profissão tão nobre assim como tesoureiro do PT
ou como Presidente da República (uma cargo tão respeitado por todos os
brasileiros no momento). Comediantes fazem P-I-A-D-A-S. E isso (ainda) não é
crime. Mas, cabe uma reflexão: a dificuldade de alguns em compreender isso
estaria diretamente relacionada ao declínio da educação no país? Afinal, o
Brasil ocupa o 60º lugar entre 76 países listados no ranking de educação,
ficando atrás de Irã e Cazaquistão. O pretenso governo responsável por tal
índice adotou o slogan “Pátria Educadora” (atenção ─ essa piada não é minha).
Sendo assim, não é de se espantar que a todo momento um humorista precise vir a
público explicar que geralmente quando fala absurdos é com a intenção de
brincar. Só para ilustrar, outro dia mesmo, assisti a um pessoalzinho
escandalizado com uma piadinha no twitter e, logo depois, vi essas mesmas
pessoas defendendo o Zé Dirceu como herói apesar da comprovação de seus crimes.
Tudo leva a crer que a péssima qualidade do ensino realmente comprometeu a capacidade
cognitiva de alguns. Ou, então, teremos de admitir que vivemos em um ambiente
extremamente hostil à liberdade de expressão. Que diga Larry Rohter! Por essas
e outras não me assusta mais saber que vivemos em um tempo no qual uma twittada
é vista como algo mais grave do que o roubo de dinheiro público, que afeta
principalmente a população mais carente – a qual essas mesmas pessoas dizem
defender.
Porém, o que me surpreendeu
nessa história toda foi a grande importância atribuída a mim, um (pretenso)
humorista por uma “instituição” como essa. E se conseguirem coagir um humorista
que declaradamente pede para não ser levado a sério, na sequência, irão atrás
de quem? Caso seja verdade que o pretenso instituto apresentou medida judicial,
responderei em juízo o que me foi perguntado.
No entanto, sabendo agora que
entre todas as suas importantíssimas atividades o “instituto” também se dedica
a pedir esclarecimentos públicos sobre assuntos de relevância nacional, como
brincadeiras no twitter, aproveito a oportunidade neste privilegiado espaço
para pedir que ajudem também a responder à outras 6 questões, certamente bem
menos graves do que as minhas piadinhas:
1- Conforme noticiado
recentemente, um número de telefone deste pretenso instituto proporcionou uma
ligação entre Lula e Alexandrino Alencar (preso na Lava-Jato). Quando o Estadão
pediu maiores esclarecimentos, negaram-se a dar. Poderiam esclarecer agora as
relações de Lula com as empreiteiras envolvidas na operação Lava-Jato?
2- O “instituto” pode esclarecer
se tem Zé Dirceu como um herói nacional ou o considera um criminoso tal qual
reconheceu o Supremo Tribunal Federal?
3- O pretenso instituto poderia
ajudar a esclarecer o enriquecimento astronômico do filho do ex-presidente cujo
nome empresta a vocês?
4- O pretenso instituto confirma
o relatório do COAF (Controle de Atividades Financeiras do Ministério da
Fazenda) considera a movimentação da empresa de Lula incompatível com seu
faturamento?
5- O pretenso instituto poderia
pressionar os órgãos competentes para ajudar a esclarecer melhor o assassinato
de Celso Daniel e todas as pessoas que tiveram contato com ele?
6- Além de pedir esclarecimentos
sobre piadinhas de twitter e lançar nota de repúdio contra um boneco gigante do
Lula presidiário nas manifestações do último domingo, para que mais serve o
“instituto” Lula?
Agradecendo ao pretenso
instituto que me proporcionou esse maravilhoso palanque me despeço anunciando
que quem quiser ler novas piadinhas pode me seguir no twitter
@danilogentili”.
CAPÍTULO IV
Nesta quinta-feira, 20 de agosto, o juiz Carlos Eduardo
Lora Franco, da 3ª Vara Criminal Central, encerrou o caso com um despacho
exemplarmente didático:
“Não é possível criminalizar-se,
ou censurar-se, a piada.
Só isso já basta, e na verdade
impõe, a rejeição liminar do presente pedido de explicações pela evidente
ilegitimidade ativa.
Nem se faz necessário, então,
mencionar que é notório que o interpelado é um comediante, e assim mais que
óbvio que aquela frase nada mais é do que uma evidente piada. Fosse tal
afirmação na rede social de um jornalista respeitado e de credibilidade, tais
como William Waack, ou Miriam Leitão, por exemplo, sem dúvida alguma se poderia
cogitar de algum crime contra a honra. Mas no Twitter de um comediante, como
notoriamente é o requerido, ninguém, obviamente, iria levar tal informação a
sério imaginando que ele tem informantes e está fazendo uma revelação
importante.
Nem se faz necessário, também,
mencionar que, por outro lado, num país com histórico de tantos “aloprados” de
direita e esquerda forjando fatos para prejudicar grupos opostos, no qual
inclusive já houve um caso de ataque a bomba feito por um grupo para incriminar
outro (caso Rio Centro), trazer à tona tal possibilidade e discussão é algo até
saudável historicamente.
Nem se faz necessário, mais,
observar que o Brasil vive um momento de patrulhamento sem precedentes, e que o
Poder Judiciário deve estar atento a não se transformar, especialmente através
de ações penais privadas, em forma de pressão e intimidação de poderosos contra
quem deles diverge ou os incomoda”.
EPÍLOGO
Os censores de piadas quebraram a cara. Os liberticidas
descobriram que manifestações de humor estão fora do Código Penal. Os
arrogantes sem cura tiveram de engolir sem engasgos a tréplica de Gentili. E
ainda por cima foram desmoralizados pelo pito do juiz.
(argento) ... quando figuras públicas vêm á Midia declarar que "nunca antes, na história neste país", houve tanta liberdade de expressão, liberdade de investigação, distribuição de "renda" e democracia, é preciso estar Atento e deixar as barbas de molho ...
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