quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Mensalão e Petrolão nasceram da mesma árvore

José Casado: Da mesma árvore

Palácio do Planalto, janeiro de 2003. Lula degusta a primeira semana no poder em conversa com os ministros José Dirceu (Casa Civil), Antonio Palocci (Fazenda) e Miro Teixeira (Comunicações).

Preocupa-se com o novo Congresso, que toma posse no mês seguinte. Chegou à Presidência com 52 milhões de votos, mas o PT não conseguiu ir além dos 18% das cadeiras na Câmara, com 91 deputados federais.

Discute “como é que se organiza”, nas suas palavras, a maioria no Legislativo. Dirceu sai na frente com um enunciado sobre o “Congresso burguês”, evocação dos “300 picaretas” que Lula usara anos antes ao se referir à maioria dos parlamentares federais.

O líder escuta, sorridente, a ideia de usar cargos com fatias do orçamento do governo e das empresas estatais para compor a “maior base parlamentar do Ocidente”.

A proposta esconde e mistifica, tanto quanto revela. Palocci e Miro percebem o aval de Lula a Dirceu. Em oposição, sugerem alianças a partir de projetos específicos - a começar pelo “ajuste fiscal” -, até para atrair parte da oposição, o PSDB de Fernando Henrique Cardoso, sociólogo que exibia o orgulho de ter passado a faixa presidencial ao operário transformado em símbolo da democracia industrial brasileira. Palocci e Miro insistem. Acabam atropelados.

A partir de então, houve romaria ao quarto andar do Planalto, onde o secretário-geral do PT Silvio Pereira e o tesoureiro do partido Delúbio Soares loteavam cargos entre aliados. Dirceu homologava, auxiliado por Fernando Antônio Guimarães Hourneaux de Moura, mais conhecido como “FM”. No Congresso, provocavam-se frequentadores do Planalto: “O deputado anda ouvindo muita rádio ‘FM’”.

A mecânica das negociações havia sido testada na campanha. Numa noite de junho de 2002, Lula, o vice José Alencar, Dirceu e Delúbio foram ao apartamento do deputado Paulo Rocha (PT-PA), em Brasília. Lá estava Valdemar Costa Neto, líder do PR, que contou à revista “Época” em agosto de 2005: “O Lula e o Alencar ficaram na sala; fomos para o quarto eu, o Delúbio e o Dirceu. Comecei pedindo uns R$ 20 milhões...”

Valdemar levou metade e, mais tarde, ganhou como outros a “porteira fechada” de departamentos (Dnit), delegacias (Trabalho e Receita Federal) e diretorias (Infraero, Itaipu e Correios).

O “filé” era a Petrobras, na definição de Roberto Jefferson, líder do PTB. Foi partilhado por dois Josés: Dirceu, do PT, e Janene, do PP. Logo, somaram-se líderes do PMDB.

Havia engenho na separação entre o mensalão e a reserva de até 3% nos contratos entre a Petrobras e cartéis privados - supervisionada pelo diretor Renato Duque, recrutado por Dirceu e “FM”. O mensalão viabilizava “a maior bancada parlamentar do Ocidente”. A Petrobras financiava a máquina eleitoral necessária aos “20 anos no poder”, incluindo uma espécie de folha complementar de salários para ocupantes de cargos-chave no governo.

Mensalão e corrupção na Petrobras nasceram da mesma árvore. Depois de dez invernos, evidencia-se seu cultivo com o uso sistêmico da política para crimes. Novos detalhes devem aflorar depois de amanhã, quando se define a lista de sucessão na Procuradoria-Geral da República. Como sempre, tudo foi encoberto em nome da luta “contra a exploração dos trabalhadores” - os mesmos que, hoje, estão pagando a conta.


2 comentários:

  1. Ricardo, Isso aconteceu na primeira semana, mas preste atenção no texto, para ter acontecido isso na primeira semana, o esquema de corrupção na Petrobras já deveria ser conhecido, pois os operadores já estavam definidos no momento da reunião. Vou lembrar algumas informações que são públicas:

    a) Um dos presos pela Lava Jato confessou na CPI que praticava a corrupção por conta própria desde 2007 e ela se tornou institucionalizada depois que o Lula assumiu a presidência da república.

    b) Delcídio Amaral era da diretoria da Petrobras, filiado ao PSDB, mas filiou-se ao PT para se candidatar ao Senado. Isso é relevante pelo seguinte, uma candidatura ao senado custa muito caro, o Delcídio não era uma pessoa conhecida, conseguiu a oportunidade de se candidatar ao senado num partido que tinha acabado de se filiar, vindo justamente do partido que era o principal adversário. Pergunto, como um partido lança como candidato ao senado um desconhecido que veio do partido adversário?

    c) A corrupção na Petrobras não estava institucionalizada antes dessa reunião, mas o esquema de corrupção era conhecido, portanto alguém de dentro da Petrobras deve ter informado ao PT sobre o esquema e o Zé Dirceu decidiu institucionalizar. Qual a possibilidade de que essa informação tenha vindo do desconhecido que veio do partido adversário para ser senador ter passado a informação?

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  2. Esse é o Zé Dirceu, passa por disciplinado e usa camisa do Corintians.
    http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/08/1665074-no-primeiro-dia-preso-dirceu-passa-a-imagem-de-disciplinado.shtml

    Sugiro aos corintianos que comecem a usar a camisa do Dínamo de Kiev, para não serem confundidos com simpatizantes do Zé Dirceu.

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