Confesso que até a
semana passada eu tinha uma certa admiração por Flávia Oliveira, principalmente
quando ela escrevia uma coluna sobre economia, mas qual foi minha - enorme - decepção
ao ler o artigo abaixo publicado no Globo de Domingo passado. Um prato cheio de
preconceitos e recalques.
Mal na foto - Flávia
Oliveira
Na escolha do
ministério, Dilma desperdiçou a chance de promover a construção de igualdade
que promete no discurso
Lá pelo 60º parágrafo
da longa carta-compromisso apresentada como discurso de posse, Dilma Rousseff
tratou de construção da igualdade. Afirmou que o Brasil tem como destino ser um
país desenvolvido e justo, onde as pessoas tenham os mesmos direitos,
“independentemente de raça, credo, gênero ou sexualidade”. A presidente foi
precisa nas palavras, mas falhou na representação. Seu retrato oficial com os 39
titulares do primeiro escalão do governo é um desfile de homens brancos. Há
seis mulheres, uma negra; ninguém assumidamente homossexual. As ministras de
Direitos Humanos, Mulheres e Igualdade Racial, por menos importantes, foram
agrupadas na última fila. Para a parede vai a velha imagem, desigual como
sempre, do andar de cima da política brasileira. O segundo mandato, aquele de
construir biografia, começou mal na foto.
A história de vida da
presidente, que enfrentou a tortura por combater um regime de força, sugere ser
verdadeiro seu compromisso com um Brasil democrático, de oportunidades para
todos. Nada disso é visível na composição do governo. Homens brancos estão em
85% dos cargos top; na Câmara eleita em outubro passado, a proporção é de 72%,
calculou o Laeser/UFRJ; entre os empregadores na PME/IBGE, são 48%. Interesses
político-partidários predominaram na seleção dos ministeriáveis, em detrimento
tanto da meritocracia quanto dos modelos de ação afirmativa.
A participação das
mulheres minguou no segundo mandato, sem que o primeiro escalão sequer tenha
diminuído de tamanho. Não faz sete meses, a presidente sancionou a Lei 12.990,
que reserva para negros 20% dos postos de trabalho oferecidos em concursos
públicos federais. Na composição da equipe, Dilma desperdiçou a chance de,
espontaneamente, aplicar a legislação que ajudou a criar.
Se o fizesse,
enviaria aos brasileiros pretos e pardos a mensagem de possibilidade de
ascensão aos cargos máximos da nação. Foi o papel que ela própria encarnou em
2010 (e voltou a exaltar três dias atrás), quando tornou-se a primeira mulher
presidente da República. Foi a posição que, solitariamente, Joaquim Barbosa
desempenhou ao assumir uma cadeira (e, depois, a presidência) no Supremo
Tribunal Federal. Atos simbólicos também ajudam a quebrar ciclos de perpetuação
de papéis sociais.
Difícil acreditar que
não exista no país um engenheiro negro de pensamento ortodoxo, currículo
assemelhado ao de Joaquim Levy, para conduzir a Fazenda pelos caminhos do tripé
macroeconômico que Dilma abraçou no discurso de posse. Ou que não haja uma
brasileira doutora em economia por universidade americana, como Alexandre
Tombini, para assumir o Banco Central. Ou uma médica capacitada em gestão e
planejamento para, como Arthur Chioro, comandar o Ministério da Saúde.
Certamente, o Brasil tem gays, negros e mulheres formados em Direito, com
mandato em Câmara Municipal, cargo executivo em empresa pública e experiência
em assessoria parlamentar para estar à frente dos Transportes, cargo de Antonio
Carlos Rodrigues.
Dilma reconhece no
discurso a necessidade de igualdade, mas nega protagonismo aos grupos que penam
com a exclusão. Boas intenções constroem leis e políticas públicas. Tomara,
elas venham. Mas representação subjetiva também desmonta modelos arcaicos de
hierarquia.
Pelo que eu li dela
até Domingo passado, nem sequer passava pela minha cabeça que Flávia tivesse
ideias tão imbecis e posturas tão radicais a favor do “politicamente correto”. Apesar
da situação e da oposição estarem criticando contundentemente o ministério de
Dilma exatamente pela falta de critérios técnicos, e até mesmo partidários - o
PROS já declarou que Cid Gomes, seu filiado, não representa o partido -, Flávia
quer, acima de tudo, um ministério escolhido por sexo e cor da pele.
Até mesmo das raras
quase unanimidades, como é o caso de Joaquim Levy, ela diz que prefere “um engenheiro
negro de pensamento ortodoxo”; para o lugar de Tombini, uma “brasileira doutora
em economia por universidade americana” e no de Antonio Carlos Rodrigues, nos
transportes, um gay “formado em Direito”, entre outras coisas.
Será que passa pela
cabeça de alguém minimamente inteligente e honesto adotar esse tipo de
descritérios para escolher um ministro? Reparem que as críticas de Flávia ao ministério de Dilma sequer mencionam probidade ou algo parecido, também na contramão das críticas que apontam vários ministros como protagonistas de picaretagens mil.
É lamentável, mas o
Brasil caminha inexoravelmente para a total abolição do mérito em detrimento
dos preconceitos e recalques politicamente corretos, além, é claro, da roubalheira do PT. Danem-se a honestidade, a competência e o povo, desde que botem gays, mulheres, negros e ladrões para comandar nossas vidas.
Mal na foto ficou você, Flávia!
Mal na foto ficou você, Flávia!
Ela esqueceu de mencionar a importância de ser criado o Ministério da Música para o Eduardo Suplicy ser ministro.
ResponderExcluir