Augusto Nunes
O tom burocrático da nota divulgada pela presidente Dilma
Rousseff escancara a inexistência de indignação real. Decididamente, o governo
brasileiro não enxerga ─ ou não quer enxergar, o que dá no mesmo ─ as reais
dimensões da carnificina que dizimou a redação do semanário Charlie Hebdo. Foi
uma das mais chocantes operações terroristas registradas num planeta que ainda
convalesce do 11 de Setembro de 2001. Foi a mais insolente ação do gênero
ocorrida na França desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Foi o mais selvagem
ataque à liberdade de expressão desde a invenção da imprensa. Foi a prova definitiva de que os adoradores
de Maomé decidiram revogar a bala tanto fronteiras geográficas quanto limites
impostos por leis e valores que alicerçam a civilização ocidental.
Enquanto a onda de indignação nascida na Paris ensanguentada
por fanáticos islâmicos se espalhava pelo mundo, entidades que deveriam
defender o jornalismo e a preservação de direitos sem os quais tal profissão é
só mais uma fraude voltaram a envergonhar o Brasil que presta com a reedição do
espetáculo do cinismo. Alguns sindicatos optaram pelo silêncio, como se as
rajadas de balas fossem uma retomada extemporânea do foguetório que saudou a
virada do ano. Os espertalhões de sempre
prolongaram os lamentos pela presença entre os mortos de cartunistas
famosos, como Wolinski, para forjar desde já o álibi: cobrados, alegarão que só
não se assombraram com o atrevimento dos matadores por falta de espaço.
Dois ou três comunicados até ousaram enxergar um atentado ao
direito de expressâo, mas trataram os liberticidas patológicos com a brandura
recomendada a companheiros de luta contra o imperialismo ianque. Na visão
caolha do governo e dos seus sabujos fantasiados de dirigentes sindicais ou
blogueiros progressistas, qualquer país, partido ou bando que se oponha aos
Estados Unidos merece o tratamento de amigo de infância. Foi assim com os
aiatolás atômicos, com o doido de pedra Muammar Khadaff, louvado por Lula como
“irmão e líder” enquanto arrrastava a Líbia de volta ao tempo das cavernas. É
assim com genocidas africanos, com tiranetes cucarachas e até com o Estado
Islâmico, um viveiro de degoladores que Dilma Rousseff acha possível regenerar
com meia dúzia de diálogos amáveis e muito carinho. É natural que seja assim
com os psicopatas a serviço do Islã.
No universo dos países democráticos, os jornalistas
brasileiros a serviço do lulopetismo são os únicos que lutam pelo extermínio da
liberdade de imprensa e pela implantação da censura, escondida sob codinomes
bisonhos como “controle social da mídia”, “regulação dos meios de comunicação”
ou “democratização da mídia”. Seja qual
for o disfarce, o que esses incapazes capazes de tudo buscam é algum atalho que
encurte a distância que os separa do poder perpétuo e absoluto. Eles sabem que
a materialização desse sonho abjeto passa pela eliminação do jornalismo
independente. No paraíso imaginado por intolerantes de todos os sotaques,
prisioneiros voluntários de velharias ideológicas ou religiosas, não há lugar
para quem ama a verdade acima de todas as coisas.
Para obter o mesmo resultado que o PT persegue cavalgando a
censura com codinome, e aplaudindo a milícia que tentaram invadir o prédio da
Editora Abril, os soldados de Maomé usaram armas pesadas. Tudo somado, a
diferença entre a companheirada e os matadores de cartunistas é que os
celebrantes de missa negra não aceitam ser recompensados depois da chegada ao
paraíso com a posse de uma das 11 mil virgens. Os devotos de Lula preferem
receber o pagamento neste mundo e o quanto antes. De preferência, em dinheiro
vivo.
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