terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Em bula de remédio pode haver preconceito racial?

As coisas aqui no Brasil são muito estranhas. Todo mês eu compro um medicamento para minha esposa chamado Lotar. O raio do remédio custa os olhos da cara, por volta de 100 reais aqui nas farmácias do principado de Ipanema.

Primeiro de tudo, o dito cujo tem dois componentes, um para regular a pressão e outro para a mesma coisa, mas mais específico para quem tem insuficiência cardíaca. Acontece que minha esposa não tem insuficiência cardíaca. O que ela teve, 40 anos atrás, para nunca mais ter, foi arritmia e, apesar disso, sua médica, doida e incompetente receitou-lhe o tal do Lotar, que não é o amigo do Mandrake e nem tem genérico.

Abro aqui um parêntese (e fecho depois), para contar que na primeira e única vez que eu fui me consultar com essa praga, ao ver meus exames, ela me receitou uma bomba para a diabetes que custava, há dez anos, sete reais por comprimido! E eu teria que tomar dois por dia! O problema foi apenas um único detalhe: eu não sou diabético e a glicose a 110 nunca foi alta na porra da vida! Perguntem se eu tomei...

Pois é, como com esposa, quem tem juízo obedece, eu tentei questionar sobre a desnecessidade desse Lotar, mas como a minha foi sempre irredutível, eu comprava o remédio sem chiar. Só que hoje eu resolvi dar uma olhada e separar os componentes da droga. Busquei o preço do Besilato de Anlodipino, exatamente na mesma dosagem do Lotar, e descobri que aqui do lado de casa ele custa R$ 16; busquei o preço da Losartana Potássica, exatamente na mesma dosagem do Lotar, e descobri que aqui do lado de casa, na mesma farmácia, ela custa R$ 13. Resumo: de R$ 100, a coisa saiu por R$ 29.

Dá para entender?

Mas o mais interessante é a bula da tal Losartana Potássica, que, entre outras coisas, diz:

“Uso em pacientes de raça negra com pressão alta e hipertrofia do ventrículo esquerdo. Em um estudo que envolveu pacientes com pressão alta e hipertrofia do ventrículo esquerdo, Losartana potássica comprimido revestido diminuiu o risco de derrame e ataque cardíaco e ajudou os pacientes a viverem mais. No entanto, esse estudo também mostrou que esses benefícios, quando comparados aos benefícios de outro medicamento para hipertensão denominado atenolol, não se aplicam aos pacientes da raça negra.”

Aí eu pergunto: será que a Secretaria (eu nunca vi secretaria ter ministro, mas essa tem) Especial de Promoção da Igualdade Racial vai processar o laboratório por preconceito?

P.S.: Não vou dizer o nome da médica porque cachorro mordido de cobra tem medo de linguiça e eu já perdi meu tempo e dinheiro por causa de um que me receitou um remédio que quase me virou do avesso e eu denunciei aqui. Toc-toc-toc...

10 comentários:

  1. (argento) ... a GUEUTA - guelta, pronuncia: guêuta, gíria(?) - é prática farmacêutica antiga (empurroterapia), estendida à medicina tradicional pelos grandes laboratórios que "propinam" médicos pela "fidelidade"; normalmente receitar o remédio de maior preço ... destarte o médico, antes sacerdote, passa a mero receitador ...

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    1. (argento) ... tudo pelos "Negócios" ...

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    2. Pois é, Argento. E vi hoje a reportagem do Fantástico de domingo. Não sei se você viu, mas ela mostra coisas bem piores.

      Dá para confiar em esculápios?

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    3. (argento) ... Quadrilheiros (privados e públicos) se apossaram da Saúde, efeito colateral do selvagem capitalismo deixado sem regulamento - não existe liberdade sem limites, são os limites que dão garantias à liberdade ... o "Negócio" das próteses, não só as ósseas tá "inflacionado" pra dedeu; hoje, máquinas de precisão fazem lentes a centavos, às toneladas - por quê um óculos corretivo com armação muquirana custa tão caro? ...

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  2. Medico é sorte na vida! uns com PHD e não sabem de nada e outros por dizer que sabem mais por velhos do que o diabo como é conhecido. Passei por varios remedios p/pressão alta Caros,todos me davam alguma coisa estranha entre elas TOSSE (Sou fumante).Um dia encarei outro medico com medo,resultado não era o cigarro e sim o remedio,claro que não quero justificar o fumo.O medico me recomendou o BESILATO DE ANALODIPINO acabei com 4 anos sofrendo. Ipanema acredito deve ser a primeira cidade do mundo em FARMACIAS por m2 e tem mais as QUINTAS FEIRAS uma delas é conhecida por baixar os preço oficiosamente (FARMACIA MAC).
    Pedro M Gorrochotegui.

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    1. (argento) ... veneno de cobra jararaca (Captopril) costuma provocar tosse em alérgicos ...

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  3. Desculpe a ignorância, mas acho que essa observação não é racista, é científica. Os estudos genéticos já descobriram que alguns grupos de pessoas têm mais predisposição a algumas doenças do que outras. Isso não quer dizer que um grupo de pessoas é melhor que o outro. Não é preconceito! Então, se estudos descobriram que para pessoas de pele negra esse remédio não é indicado e sim outro (atenolol), creio que essa informação deve vir na bula do remédio, e deveria ser observada pelos médicos e farmacêuticos ao indicar este remédio.

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    1. É lógico, Aline, que eu fui irônico nas minhas observações quanto à Secretaria Racial. Sei muito bem disso e cito até um exemplo: o leite não materno deve ser evitado por pessoas negras por que lhes falta uma determinada enzima no trato digestivo.

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  4. sou negra e nao vi nada de racismo e sim orientaçao cientifica de muita valia para os hipertensos agradeço aos envolvidos da pesquisa pelo esclarecimento foi de muita valia pra mim e pra minha familia

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    1. Crizona, eu fiz apenas uma brincadeira porque, como se sabe, o politicamente correto anda comendo solto. Sei que o alerta na bula é válido e procedente porque negros e brancos têm algumas diferenças orgânicas sutis, mas importantes, como por exemplo a ausência de uma enzima digestiva (que não me lembro o nome) nos negros que faz do leite uma bomba indigesta para eles.

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