quinta-feira, 3 de março de 2016

Ainda bem que gravaram algumas partes dos bons tempos do “politicamente incorreto”

Assistido às reprises da Escolinha do Raimundo - a original, gravada entre 1990 e 1995 -, que, aliás, não perco, a gente tem uma boa ideia de como era fluido e natural o humor da época, afinal, não tão distante assim, sem o patrulhamento imbecil de negrismos, gayzismos, feminismos, indigenismos, estrangeirismos - principalmente judeus, turcos e portugueses - e por aí afora.

A Escolinha tinha tudo isso que hoje talvez seja impensável reproduzir com fidelidade: um judeu e um turco pães-duros, uma portuguesa e duas gostosas burras, um viado e uma ninfomaníaca, uma crioula que satirizava os ainda incipientes “movimentos negros”, um bêbado, um índio, um sindicalista agitador e muitos outros mais “incorretíssimos”, que nos proporcionavam gargalhadas legítimas sem parar. Claro que a genialidade do Chico Anísio e o talento incontestável do elenco, que atuava livre para criar, eram fundamentais.

Um exemplo desse descompromisso com o “correto” foi a piada de anteontem do João Canabrava (Tom Cavalcanti), impensável de ser gravada hoje:

Canabrava, bêbado, como sempre, chega meio triste e Raimundo lhe pergunta:

- O que houve seu João?

- É que minha mulher se queimou todinha. Ficou pretinha - respondeu Canabrava.

- Impossível! - retrucou Raimundo - Acabei de ver sua mulher na secretaria da escola e ela estava absolutamente normal!

E Canabrava:

- Xiiiii... Então tracei a empregada!

Confesso que ainda não assisti por inteiro a nenhum dos remakes da Escolinha que estão fazendo e nem sei quais são todos os personagens que foram “ressuscitados” - parece que, pelo menos o judeu, o turco, o português e a crioula não existem mais -, mas posso garantir que não há nos novos scripts nada nem parecido com essa piada.

Diga-se de passagem, Bruno Mazzeo está o fim como Professor Raimundo

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